4 motivos para estar short em Cogna, segundo gestor da Studio

Breno Guerbatin explica o racional por trás da sua tese de investimento short em Cogna.

Renato Santiago

A Cogna Educação é hoje uma das ações favoritas das pessoas físicas hoje na Bolsa. Assim como IRB, Via Varejo e Oi, ela conquistou uma verdadeira torcida de investidores. Ou sócios-torcedores.

Durante o mês de julho essa torcida comemorou um belo rali de 24,7% no preço das ações, que teria sido ainda maior (42,45%) se o papel não tivesse caído 12,48% no último dia do mês, quando a empresa realizou o IPO da sua subsidiária Vasta na Nasdaq.

Com uma euforia desse tamanho no mercado, resolvemos procurar um contraponto. E achamos. 

Breno Guerbatin, da Studio, começou a montar uma posição short (vendido em ações) em COGN3 na quinta-feira, antes do IPO da Vasta na Nasdaq. Nesta live, ele explicou os quatro pilares que sustentam sua tese para operar vendido no papel.

Adeus Fies (e receitas)

Segundo Guerbatin, desde o declínio do Fies (programa de financiamento estudantil do governo federal), a empresa perdeu uma base importante de clientes, com a qual não sofria inadimplência, já que o governo pagava as mensalidades, e de tíquete alto. 

“Em 2014 a [então] Kroton captou pouco mais de 100 mil alunos via Fies. Em 2015, 48 mil e a partir de então vai desabando… para 20 mil, 15 mil alunos. Como o aluno fica quatro ou cinco anos na faculdade, o efeito da diminuição da captação do Fies, só começa a aparecer em 2018 ou 2019”, explica. “A receita de alunos Fies era de 70%. Em 2019, essa receita de Fies cai R$ 600 milhões, de R$ 1,8 bi para R$ 1,2 bi”.

Financiamento PEP

Para substituir o Fies, a empresa começou ela mesma a emprestar dinheiro para os alunos, com o PEP (Parcelamento Estudantil Privado). Assim a empresa começou a assumir para si os riscos de inadimplência e a inadimplência de fato. “É a única das maiores [empresas de educação] a ir por esse caminho […] Ela captou até esse ano 200 mil alunos, só que 150 mil já evadiram”, diz. “50% de tudo que eles financiavam era provisionado, não entrava como receita. Mas dos outros 50%, nada foi para o caixa ainda. É tudo recebível.”

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Menos alunos, mais escolas

Guerbatin afirma que, mesmo com o número de alunos dos cursos presenciais tendo caído muito nos últimos anos, a empresa tem mais campi. “Quando a Cogna tinha 450 mil alunos, eram 113 campi. Hoje são 173 campi para 280 mil alunos de cursos presenciais”, afirma. 

Ou seja: enquanto o número de alunos caiu 37,8%, o número de campi aumentou 40%. É como se a Cogna fosse uma empresa aérea viajando com o avião vazio. “Esse setor tem muitos custos fixos. Dar aula presencial para 50 pessoas custa o mesmo que dar aula para dez. Nesse ponto, educação é muito parecida com a aviação”, conclui.

Veja o consolidado

A Vasta, subsidiária que presta serviços para escolas, realizou seu IPO na sexta. Mas por mais que o negócio empolgue muitos analistas e investidores, para Guebatin não se pode deixar de olhar o consolidado da Cogna. 

“Cogna queimou muito caixa e vai continuar queimando. Vasta ainda é 15% do negócio. Ela pode crescer muito e virar 17%, depois 20%. Ainda assim vai demorar muito… Ebitda deve cair nos próximos dois anos e sua margem está mais baixa que a de concorrentes menores”, explica.

Renato Santiago

Renato Santiago é jornalista, coordenador de conteúdo e educação do InfoMoney