Privatizar ou capitalizar? Incertezas rondam Sabesp e ação cai 11% no mês após rali do começo de ano

Ação da estatal passou de disparada de 38% em janeiro para queda de 11% em fevereiro, com o mercado avaliando os sinais contraditórios do governo estadual e expectativa com o Congresso

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Assim como as ações de várias companhias bastante impactadas pelos anúncios e sinalizações dos governos, o ano de 2019 estava sendo bastante positivo para a Sabesp (SBSP3). Os papéis chegaram a registrar alta de 38% apenas em janeiro, o que era um prenúncio de um ano positivo para a estatal paulista.

Porém, fevereiro chegou e, com ele, uma verdadeira derrubada das ações da companhia, que registram a maior perda do índice no período com baixa superior a 11%. 

Todo esse movimento de forte sobe e desce das ações destoa da apatia registrada pelos papéis da companhia em boa parte de 2018, com os papéis só sendo impulsionados a partir de outubro com o noticiário sobre as eleições. João Doria (PSDB) foi eleito no final daquele mês e as notícias sobre a privatização da companhia, que não estavam no radar do mercado, passaram a ganhar força, sendo reforçadas na virada do ano a cada fala do secretário da Fazenda, Henrique Meirelles. 

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Em diversos eventos em que participou nos últimos meses, Meirelles destacava as cifras que poderiam ser arrecadadas com a capitalização (cerca de R$ 5 bilhões) ou privatização (pelo menos R$ 10 bilhões). Apesar de ainda ser vista como um cenário mais improvável na comparação com a capitalização, a privatização passou a ser bastante considerada pelos agentes de mercado, o que fez com que os papéis passassem a disparar a cada fala do secretário da Fazenda. 

Porém, sinalizações contrárias dentro da equipe do governo fizeram com que os papéis passassem a registrar forte queda em vários dos últimos pregões, sendo o ápice na última segunda-feira, quando os ativos caíram mais de 9% com a fala do vice-governador paulista, Rodrigo Garcia (DEM-SP) evidenciando a divisão sobre a capitalização ou a privatização dentro do governo. 

Garcia afirmou que o governo prefere a capitalização da empresa à privatização da companhia. “O que defendemos abertamente é que tenha uma emenda na medida provisória do saneamento excetuando as estatais não dependentes do Tesouro e, com isso, a Sabesp poderia continuar competitiva e a partir daí o projeto de capitalização”, afirmou Garcia ao jornal O Estado de S. Paulo.

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Desta forma, mais pelas indicações contrárias do que pelos efeitos de uma capitalização ou uma privatização, as ações da Sabesp registram um período de turbulência na bolsa. 

Nesta terça-feira, as ações da empresa de saneamento tiveram a recomendação reduzida de outperform (desempenho acima da média do mercado) para neutra pelo Bradesco BBI, com o preço-alvo de R$ 45, em meio à avaliação de que tudo seguirá como está para a companhia. Ou seja, sem privatização e sem capitalização. 

No caso base anterior do banco, o cenário de privatização tinha apenas um peso de 10%, pois o “Plano A” do estado seria o plano de “capitalização”. A capitalização da Sabesp poderia render uma quantidade bilionária para a Sabesp mas, para que isso aconteça, o estado precisaria atrair um grande player estratégico, o que exigiria melhorias significativas na governança corporativa, realinhamento de seu relacionamento com a reguladora estadual ARSESP, e talvez até mesmo a elevação da política de pagamento de dividendos (atualmente fixada em 25% até que a universalização dos serviços seja alcançada).

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“No entanto, o aparente desalinhamento interno poderia manchar qualquer resultado positivo do plano de capitalização se, por exemplo, as ações da Sabesp continuarem caindo e o Estado tenha que vender suas ações a um preço abaixo do ideal”, avaliam os analistas do Bradesco BBI. 

Em um movimento em que ajudou a contribuir para diminuir o mal estar do mercado, Doria deu uma declaração em defesa da privatização da Sabesp, o que ajudou o papel a sair de uma queda de 7,79% na mínima do dia para uma alta de cerca de 2%.

Porém, ele reforçou que a privatização só ocorreria com a aprovação em lei da Medida Provisória 868/18 assinada pelo então presidente Michel Temer, que altera o marco legal do saneamento básico no país e facilitará o investimento privado no setor. No fim de abril, a MP perde a validade, ou seja, o debate sobre se essa MP será convertida em projeto de lei ganhará força no mercado, devendo elevar a volatilidade das ações da Sabesp. 

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Caso a MP caduque, Doria sinalizou que o plano B está decidido com a capitalização. Ou seja, conforme apontou o governador, um desses planos será colocado na mesa, o que ajudou a tranquilizar o mercado. 

Porém, após dias de glória com os investidores bastante otimistas com a privatização, o cenário que se aponta é de maior cautela do mercado, tirando até mesmo o “brilho” de uma possível capitalização, que seria também positiva para a Sabesp, inclusive levando a um melhor desempenho operacional. Assim, os próximos dias prometem ser de volatilidade para a Sabesp, à espera de definições do Congresso sobre a aprovação do marco legal do saneamento – e também de olho nas sinalizações do governo de São Paulo. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.