“Vencedores do Datafolha” falam e agradam mercado – mas só o discurso não é suficiente

Liberais com ressalvas, eles agradaram o mercado, mas dúvidas são grandes sobre capacidade de articular reformas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Vistos como os grandes “vencedores” do último Datafolha (como pela consultoria de risco político Eurasia Group), mas ainda trazendo muitas dúvidas sobre suas propostas para a economia Joaquim Barbosa (PSB) e Marina Silva tiveram destaque nos jornais ao apresentarem com as suas primeiras propostas para a área econômica. A ascensão desses nomes – e o fato de Geraldo Alckmin, visto como o reformista com maior chances de ser eleito – gerarem apreensão  princípio, fez o mercado reagir mal na segunda-feira por não haver tanta clareza em suas propostas. Já nesta quarta-feira, o Ibovespa repercute bem as ideias apresentadas pelos dois nomes. 

De acordo com matéria do Valor Econômico citando evento promovido pelo Santander, a pré-candidata da Rede confirmou que os economistas Eduardo Giannetti, André Lara Resende, considerado um dos autores do Plano Real, e engenheiro Bazileu Margarido, ex-Ibama, coordenarão seu programa de governo. Bernard Appy, que foi da equipe de Palocci na Fazenda, colabora institucionalmente com projeto de reforma tributária.

Marina também afirmou ser necessário promover a reforma da Previdência, mas disse discordar do desenho proposto pelo presidente Michel Temer, que para ela não tem “legitimidade nem credibilidade para fazer reforma alguma”. “Ele [Temer] ganhou [a eleição de 2014 junto com a presidente Dilma [Rousseff] dizendo que o Brasil estava divino, maravilhoso, que não precisava fazer nada. Bastava continuar os dois de mãozinhas dadas que o Brasil estava cor de rosa. E inviabilizou o debate da reforma da Previdência por oportunismo político”, criticou. Pelo Twitter, em resposta a internautas, Marina reforçou a ideia de que reformas tributária e previdenciária são estratégicas – mas não da forma proposta pelo atual governo. 

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Já as ideias de Barbosa, uma incógnita ainda maior para o mercado, mesclam pauta liberal e questões sociais, segundo a Folha, que cita informações de integrantes do novo partido do ex-ministro do STF, o PSB. Barbosa se apresentou como um defensor de reformas estruturais, de privatizações, excluindo joias da coroa como Petrobras, e da livre concorrência. Ponderou, ainda, que o governo deve trabalhar pela redução de desigualdades e pela preservação de garantias fundamentais dos cidadãos. O ex-ministro disse reconhecer a necessidade de mudança nas aposentadorias, mas com regras mais moderadas do que as propostas de Temer, aponta a publicação. 

Também com a visão de reduzir os temores do mercado, está Jair Bolsonaro (PSL), que vem trabalhando para se tornar mais palatável e desfazer a ideia de que seria um nacionalista ao passar a contar com o economista liberal Paulo Guedes. A mudança no alinhamento já é transmitida para a visão do mercado, conforme apontou a última sondagem da XP Investimentos com 188 investidores. Se em novembro de 2017, 73% indicavam queda do Ibovespa se Bolsonaro vencesse, agora são 41% (veja o levantamento clicando aqui). Ontem, Bolsonaro deu mais um sinal:  ele disse que não teria problema em manter o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, no cargo. Ele ponderou, contudo, que quem decidirá o comando da autoridade monetária do País será justamente Paulo Guedes, seu futuro ministro da Fazenda e do Planejamento caso seja eleito. 

Pró-mercado, mas…

A despeito da atenuação do discurso para o mercado, há algumas ressalvas a serem feitas. O fato desses nomes darem indicações pró-mercado não são necessariamente uma novidade, conforme destacado pela Eurasia ao comentar o Datafolha do fim de semana. Eles destacam que esses três candidatos são “quase reformistas”. Ou seja, são aqueles que apoiam reformas favoráveis ao mercado, mas cuja convicção e capacidade de realizar essas reformas estão em dúvida, ainda mais levando em conta os possíveis obstáculos no Congresso.

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Essa barreira também foi destacada pelo analista da XP Investimentos, Gustavo Cruz, durante o programa XP Connection desta quarta-feira (veja na íntegra aqui). “A mudança na lei eleitoral teve diversos benefícios, mas um dos principais riscos  é o fato dos partidos do Centrão ganharem ainda mais força, já que não disputam a presidência e terão mais dinheiro para gastar na eleição de deputados. Assim, independentemente de quem vai ganhar a eleição e da necessidade de aprovar as reformas, a articulação no Congresso é crucial para isso e será ainda mais difícil”, aponta o analista. 

Além disso, vale destacar que eles podem defender as reformas e privatizações, mas com pontos que podem gerar temor aos mercados. Marina já se mostrou contra a privatização da Eletrobras, enquanto Barbosa, como já destacado acima, defende uma reforma da previdência mais branda do que a proposta pelo atual governo. Já Bolsonaro ressalta o enxugamento de ministérios e corte de gastos, mas sem dar muitos detalhes sobre as reformas que pretende implementar. Isso se soma às dificuldades de articulação política, que devem ser uma questão ainda maior com os perfis tidos como explosivos de Bolsonaro e Barbosa e com o fato do partido de Marina ser muito pequeno (a pré-candidata diz que, se eleita, vai governar com os “melhores” do PT, PSDB e MDB, discurso este visto com desconfiança ainda mais levando em conta a fragmentação política). 

Com todas essas questões no radar, é importante pontuar que o mercado tem os seus motivos para mostrar otimismo com as sinalizações dos pré-candidatos alternativos. Contudo, também deve ficar de olho em outras questões, como a formação do Congresso. Afinal, eles podem até ter intenções reformistas – mas o sucesso delas dependerá e muito de como lidarão com os deputados e senadores que serão eleitos em 2018. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.