“STF não aceitará que seus ministros sejam tratados como os políticos e empresários acusados”, diz analista

Contudo, aponta o analista político da Barral M. Jorge, Juliano Griebeler, a crise entre o MPF e o STF desencadeada pelo vazamento de citação sobre Dias Toffoli deve ser superada sem maiores atritos - mas deve indicar mudanças

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A citação ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli feita pelo ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e que foi revelada no último final de semana pela revista Veja teve um efeito praticamente explosivo na relação entre o Supremo e os procuradores que fazem os acordos de delação premiada. 

Dois personagens no caso são emblemáticos: o ministro do Supremo Gilmar Mendes e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Mendes acusou o MPF (Ministério Público Federal) de vazar informações sobre o acordo de delação da OAS (acordo este que foi suspenso por Janot) e disse que os procuradores não podem se achar o “ó do borogodó” porque têm a atenção da imprensa e que precisam calçar “as sandálias da humildade”.

“Você não combate o crime cometendo crime. Ninguém pode se entusiasmar, se achar o ó do borogodó, porque vocês [jornalistas] dão atenção a eles. Cada um vai ter o seu tamanho no final da história. Então, um pouco mais de modéstia. Calcem as sandálias da humildade. O país é muito maior do que essas figuras eventuais e cada qual assume sua responsabilidade”.

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Em outra provocação ao MPF, Mendes também criticou a campanha 10 medidas de combate à corrupção, liderada pela entidade e que coletou assinaturas em todo o país para cobrar do Congresso Nacional a apreciação de medidas de combate à corrupção. “Veja as 10 propostas que apresentaram. Uma delas que diz que prova ilícita feita de boa-fé deve ser validada. Quem faz uma proposta dessa não conhece nada de um sistema, é um cretino absoluto. Cretino absoluto. Imagina que amanhã eu posso justificar a tortura porque eu fiz de boa fé”, disse o ministro. 

Janot negou que os procuradores tenham recebido delação citando Toffoli e classificou a informação sobre o suposto acordo de “estelionato delacional” e “cortina de fumaça” para pressionar o MPF a aceitar a delação. “Na minha humilde opinião trata-se de um quase estelionato delacional, em que inventa-se um fato, divulga-se o fato para que haja pressão ao órgão do Ministério Público para aceitar desta ou daquela maneira eventual acordo de colaboração”, criticou. 

Para o procurador-geral, o Brasil está dividido em dois lados e ambos estão descontentes com as ações do MPF. “Então estamos desagradando todos os lados. Na minha visão, isso é um sinal positivo, caminhamos bem, porque não estamos agradando a lado algum, porque não temos bandeira, ideologia, parte. Não temos um lado, temos o lado da investigação dos fatos”. Ao se defender das críticas, Janot voltou a afirmar que o “Ministério Público tem couro grosso”.

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As relações “azedadas” entre o MPF e o STF levaram a alguns questionamentos sobre como serão os trabalhos da Operação Lava Jato daqui para frente. O analista político da Barral M. Jorge, Juliano Griebeler, ressalta que o vazamento das delações ainda não acatadas pela Justiça têm sido uma prática comum na Lava Jato, mas há três fatos novos desta vez: i) envolve um ministro do STF, Dias Toffoli; ii) a PGR suspendeu a negociação da delação com a OAS e iii) o tom crítico de um outro ministro, Gilmar Mendes, ao STF. Além disso, é importante ressaltar as dúvidas frente a delação, que Janot diz nunca ter ocorrido. 

Griebeler ressalta que já houve discordâncias anteriormente entre Mendes e Janot com relação aos pedidos de investigação contra o Senador Aécio Neves (PSDB-MG), e entre membros do STF e juízes e procuradores a frente da Lava Jato, que não resultaram em uma crise na operação. 

De acordo com o analista, “a situação atual deve ser superada sem maiores atritos entre estes atores, mas pode haver uma posição mais dura com relação ao vazamento de delações em andamento”. Para o analista, a crítica de Mendes, que não se manifestou quando houve outros vazamentos, visa colocar um limite nas investigações.

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Demonstra ainda, segundo o analista político, que o STF não aceitará que seus ministros sejam tratados da mesma forma que políticos e empresários acusados e  que, a não ser que tenham evidências concretas e graves, não se admitirá suspeitas contra os mesmos. Griebeler ainda aponta: por estar na posição de juiz, há mais liberdade do que políticos para usar tom crítico contra operações com grande apelo popular. 

(Com Agência Brasil) 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.