Silvinei Vasques nega irregularidades em ações da PRF em rodovias no 2º turno das eleições

Ex-chefe da corporação diz que houve 694 pontos de fiscalização em estradas federais em todo o País

Luís Filipe Pereira

O diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, durante entrevista coletiva sobre a Operação Eleições 2022 no segundo turno.

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Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos golpistas ocorridos em 8 de janeiro, o ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, negou que a corporação tenha direcionado blitze para fiscalizar veículos em rodovias do Nordeste no dia do 2º turno das eleições presidenciais.

De acordo com o ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal, houve 694 pontos de fiscalização em estradas federais em 30 de outubro, data do segundo turno das eleições. No Nordeste, região onde o eleitorado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era mais forte, foram 25 locais por estado, com 26 veículos fiscalizados em média em cada ponto de abordagem, segundo Vasques.

No dia das eleições, a realização de bloqueios nas rodovias no interior do Nordeste foi apontada nas redes sociais como forma de afastar os eleitores do petista das zonas eleitorais, o que configuraria um possível uso político da PRF pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL). A hipótese foi negada por Silvinei Vasques.

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“O Nordeste, assim como o Norte, foi um dos locais em que a polícia menos realizou fiscalização. Onde mais se fiscalizou foi no Sudeste, e depois no Sul e no Centro-Oeste”, disse.

Em sua fala inicial aos parlamentares nesta terça-feira (20), Silvinei afirmou que o trabalho realizado pela PRF nas rodovias federais no dia das eleições foi realizado com foco na prevenção de crimes e infrações de trânsito. O ex-diretor geral da PRF reiterou que o Nordeste é a região onde se concentra grande parte da malha viária de estradas, com maior quantidade de acidentes com vítimas registrados de acordo com dados da corporação.

Réu por improbidade administrativa na Justiça Federal do Rio de Janeiro, sob acusação de pedir votos de forma ilegal em uma rede social para o então presidente Jair Bolsonaro (PL), Silvinei se aposentou do cargo em dezembro, aos 47 anos, com vencimentos integrais preservados.

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Questionado pela relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), Vasques admitiu que recebia ligações do ex-presidente sobre questões profissionais, como a respeito de operações rotineiras nas estradas e também sobre locais de descanso para caminhoneiros durante a pandemia de Covid-19, mas negou qualquer proximidade com Bolsonaro.

Aprovação de requerimentos

Antes do início do depoimento de Vasques, a comissão aprovou a convocação do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, e do coronel Jean Lawand Júnior, cujas mensagens em tom golpista enviadas ao ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, foram divulgadas pela revista Veja na semana passada.

O início da sessão foi marcado por um tumulto sobre as prerrogativas regimentais de titulares e suplentes. Primeiramente o deputado Marco Feliciano (PL-SP), que é suplente na comissão, apresentou questão de ordem solicitando igualdade de tratamento na prioridade para inscrições para ter direito à palavra, o que foi negado pelo presidente Arthur de Oliveira Maia (União-BA).

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Em um segundo momento, o senador Eduardo Girão (Novo-CE), recorreu às notas taquigráficas de sessões anteriores para reivindicar tempo de fala semelhante para titulares e suplentes. Diante disso, Arthur Maia decidiu por conceder 10 minutos para as participações dos parlamentares, titulares ou suplentes.

Na quinta-feira (22) está previsto o depoimento de George Washington, preso após confessar ter montado uma bomba e tê-la colocado sob um caminhão de combustível, perto do Aeroporto de Brasília, em um plano para explodir o artefato na área de embarque do local, que acabou frustrado. Washington também será ouvido na condição de testemunha, assim como Silvinei.

Os depoimentos seguem de acordo com o plano de trabalho aprovado pelo colegiado, que aponta na direção de uma ordem cronológica, que começa no segundo turno das eleições e passa pelo surgimento do acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, e o tumulto generalizado em Brasília na data de diplomação de Lula, em 12 de dezembro. A CPMI deve apurar como esses e outros episódios colaboraram para inflamar os ânimos de eleitores descontentes com o resultado da eleição, e ao mesmo tempo, impulsionar a articulação de movimentos antidemocráticos.