PT está “brincando” com a Petrobras e única solução é privatização

Marco Antônio de Faria, presidente do Grupo Skill, disse que a gestão do PT vem tomando uma série de decisões equivocadas, levando ao limite máximo o endividamento da estatal

Paula Barra

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SÃO PAULO – A Petrobras (PETR3; PETR4) vem enfrentando um período turbulento nos últimos meses, afetada principalmente por endividamento crescente e intervenção do governo em uma questão crucial para sua sobrevivência, ou seja, no reajuste dos preços dos combustíveis. O resultado disso foi visto nas ações ordinárias da empresa, que bateram no último 5 de julho seu menor patamar desde novembro de 2005,  cotadas a R$ 13,50. Para Marco Antônio Pinto de Faria, presidente e fundador do Grupo Skill – consultoria tributária, de contabilidade e tecnologia da informação -, a solução para erguer essa gigante adormecida é clara: privatização.

Em entrevista exclusiva ao InfoMoney, Faria é bem sucinto ao dizer que “a gestão do PT está brincando com a Petrobras”. E nada teria uma resposta melhor do mercado a não ser sua privatização. Segundo ele, “o PT acabou com a Petrobras. Uma empresa endividada em R$ 332 bilhões (soma do passivo circulante e não circulante da companhia contabilizado no primeiro trimestre deste ano) é praticamente impossível recuperá-la. Quando falava-se em Petrobras há alguns anos vinha a imagem de uma empresa impossível de quebrar. Entretanto, nenhuma petroleira consegue sobreviver com um endividamento superior a 3 vezes o Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização)”. 

Em sua última análise sobre a Petrobras, o HSBC apontou que o indicador dívida líquida/Ebitda deve subir para 3,1 vezes em 2013 e em 3,6 vezes em 2014, ante 2,8 vezes no primeiro trimestre deste ano. A partir do patamar de 2,5 vezes, a petroleira passa a conviver com o risco de ter sua nota rebaixada pelas agências de classificação de risco internacionais, o que deixaria empréstimos mais caros e limitaria a capacidade de investimento da empresa.

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“Não podemos maquiar o balanço da empresa, reter a inflação segurando o preço do combustível. A empresa precisa oscilar os preços com o mercado internacional”, disse. Segundo ele, o governo decidiu no início do gestão de Lula cancelar as plataformas para a Petrobras que o antigo presidente da estatal tinha feito, pois era considerado um “absurdo comprar coisas de estrangeiro” – e que a Petrobras deveria ser a força para garantir o ressurgimento da indústria naval brasileira.

Faria explica que isso foi bastante prejudicial para a estatal financeiramente: primeiro, a nova direção da companhia decidiu cancelar as plataformas, que custariam, cada, R$ 3 bilhões. Para solucionar o problema, o que eles fizeram foi alugá-las. Entretanto, somente em 2011, foi contabilizado um gasto de R$ 4 bilhões em locação pela Petrobras. E R$ 6 bilhões um ano depois. Ele questiona: “foi contratado ao menos empresas brasileiras? Não, todas as locações foram feitas com empresas estrangeiras. Na realidade, não sei se isso é maquiagem do balanço ou maquiagem do destino final do dinheiro”.

“Uma série de decisões erradas”
Ou seja, o resultado da Petrobras hoje é consequência de “uma série de decisões erradas tomadas ao longo dos anos”, disse. Em 2006, uma empresa belga comprou uma falida refinaria no Texas por US$ 42 milhões. Poucos meses depois, essa empresa vendeu a refinaria por US$ 1,2 bilhão. Quem foi o comprador? A Petrobras. Passado pouco tempo, a Petrobras verificou que tinha feito um mau negócio e resolveu vendê-la. A refinaria foi avaliada por menos de US$ 100 milhões. Colocou à venda. Entretanto, o TCU (Tribunal de Contas da União) resolveu investigar as negociações que gerariam um prejuízo de mais de US$ 1 bilhão. A Petrobras suspendeu imediatamente a venda. No balanço do ano passado, consta mais de R$ 450 milhões em despesas com essa refinaria, ilustra Faria.

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Outro exemplo é a Refinaria Abreu e Lima. O então presidente Lula firmou um acordo com o Hugo Chávez, ex-presidente venezuelano que faleceu no início deste ano, para construção da refinaria. Foi calculado, na “ponta do lápis”, o desembolso de R$ 5 bilhões da Petrobras nessa parceria. A realidade é que o último relatório da empresa aponta um custo sete vezes maior, de R$ 35 bilhões. E a PDVSA, estatal venezuelana do petróleo, ainda não colocou um centavo na produção. 

E a autossuficiência?
Faria também levanta a questão da autossuficiência do petróleo, tão comentada na época da presidência de Lula. H
á sete anos, Lula afirmava, que pela primeira vez na história, o Brasil alcançava sua autossuficiência na produção de petróleo. A verdade, segundo ele, é que passados os sete anos, a Petrobras tem produzido cada vez menos, mesmo tendo encontrado cada vez mais jazidas. Somente em 2012, o Brasil importou R$ 15 bilhões em derivados de petróleo, e nesses mesmos sete anos, a balança comercial de petróleo apresentou um déficit superior a R$ 57 bilhões – número maior do que os R$ 50 bilhões que o governo pretende investir esse ano em infraestrutura.  

Em 2012, a produção de petróleo caiu 2%. E ao longo de 2013 mostra um cenário ainda pior: a produção caiu em três meses, contra dois de alta: janeiro (-3,3%), fevereiro (-2,25%), março (-3,8%), abril (+4,2%), maio (-1,7%) e junho (+4,8%).

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E o que devemos esperar?
Segundo ele, a Petrobras está indo na contramão das empresas de petróleo no exterior, que estão estudando outras formas de se tornarem rentáveis e estão investindo cada vez mais em pesquisas de energia renovável. Entretanto, a estatal brasileira está vendendo tudo que gera energia renovável, como parques eólicos, centrais hidroelétricas e termelétricas.  

Além disso, para ele, Graça Foster recebe ordens diretas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do conselho de administração. Um dos maiores receios, aponta, é que a Petrobras tenha que ajudar o empresário Eike Batista a reerguer suas empresas. “Mantega continua em plena atividade. Nos últimos meses, ele vem ajudando Eike e seu diretor Pires Neto (afastado no ano passado do Ministério dos Transportes por escândalos ligados ao mensalão) a vender sondas petroleiras que a OGX comprou no exterior. Advinha como vão ajudá-lo? Para quem estão tramando a venda dessas sondas? Provável que seja para a Petrobras”, disse.

Diante de tudo isso, Faria finaliza: “se pudesse dar um conselho antes das próximas eleições, diria, não compre ações da Petrobras”.

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