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O ministro da Previdência, Carlos Lupi, não parece estar muito satisfeito com as discussões dentro do governo sobre o pacote de medidas de corte de gastos, que vem sendo apresentado pela equipe econômica, nos últimos dias, e deve ser anunciado até a semana que vem.
Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quinta-feira (7), Lupi deixou no ar a possibilidade até de deixar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caso as medidas afetem benefícios previdenciários que seriam, em sua visão, “direitos adquiridos” – ou alterem a política de aumento do salário mínimo.
Na manhã desta quinta, Lula se reúne mais uma vez com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para fechar os últimos pontos de um pacote de medidas de corte de gastos elaborado pela equipe econômica.
Desde a semana passada, as medidas têm sido levadas a ministros de outras pastas – que possivelmente serão afetadas pelos cortes. Ainda não há definição sobre quando esse pacote será anunciado oficialmente.
O governo deve encaminhar ao Congresso Nacional uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) e um projeto de lei complementar com as medidas.
“Nosso grande desafio é o equilíbrio fiscal. Como fazê-lo em cima da miséria do povo brasileiro? Quero discutir taxação das grandes fortunas. O Haddad até está propondo isso. Quem tem que doar algo nesse processo é quem tem muito, não quem não tem nada. Como vai pegar a Previdência?”, questiona Lupi.
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“A média salarial das pessoas é R$ 1.860. Vou fazer o quê com isso? Tirar direito adquirido? Não conte comigo. Vou baixar o salário? Não conte comigo. Vou deixar de ter ganho real [no salário mínimo]? Não conte comigo. Se isso acontecer, não tenho como ficar no governo. Acho que o governo não fará isso. Temos que cobrar os grandes devedores, a sonegação e as isenções indevidas”, afirmou o ministro.
Segundo Carlos Lupi, “despesa obrigatória não tem como ser cortada”. “Acha que algum congressista vai tirar direito de aposentado? Tenho que nascer de novo para acreditar nessa história. O que podemos fazer, e estamos fazendo, é apertar as irregularidades. Estamos fazendo uma economia grande conferindo gente que não tem mais direito à licença por doença. Se um cara teve uma doença e se curou, como continua tendo licença?”, explicou.
“O grande desafio da Previdência é que mais da metade dos nossos pedidos são de auxílio-doença. O Brasil está doente assim? Temos que melhorar, por exemplo, a biometria. Precisamos botar tecnologia de ponta e ajudar quem tem direito, separar o joio do trigo.”
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Reeleição de Lula e o futuro do PDT
Na entrevista, o presidente nacional do PDT também comentou as perspectivas políticas do país após as eleições municipais deste ano. Questionado se o seu partido apoiaria a possível candidatura de Lula a um novo mandato, em 2026, Lupi indicou que sim.
“Não estaremos jamais com o que o [Leonel] Brizola chamava de direita carcomida, hoje representada pelo [Jair] Bolsonaro. Ou trabalhamos para construir uma alternativa ou vamos lutar com o governo”, disse. “Na fotografia de hoje, o Lula é o candidato mais forte do nosso campo. Vai continuar sendo em 2026? Pode ser que sim, pode ser que não. Hoje tem alguma alternativa viável no nosso campo de centro-esquerda? Não vejo. Pode surgir? Pode.”
Lupi também foi indagado sobre a possibilidade de o PDT negociar a formação de uma federação partidária com outras legendas, como PSB, PSDB, Cidadania, Solidariedade e Podemos.
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“A federação só pode existir com projeto, não pode ser ajuntamento eleitoral. Eu estou no ministério. Essa federação vai fazer parte do governo ou vai para oposição? Se for para oposição, tem que sair do governo. Não é coerente, não consigo fazer jogo duplo. Acho difícil a federação com o PSDB e com o Solidariedade. O Marconi Perillo [presidente do PSDB] estava outro dia aplaudindo o senador Rogério Marinho [PL-RN]: ‘Você é um baluarte das reformas trabalhista e previdenciária’. É conosco que vai fazer essa aliança?”, rebateu Lupi.
“Somos a antítese dessas reformas, não tem afinidade ideológica. Estou conversando bem com Rede, Cidadania e PV. Retomamos o diálogo com o PSB. Agora, não é para amanhã”, completou.
Ciro Gomes
O presidente nacional do PDT também falou sobre a delicada situação do ex-deputado e ex-ministro Ciro Gomes, uma das principais lideranças do partido, candidato à Presidência da República pelo PDT nas eleições de 2018 e 2022.
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Ciro rompeu com o irmão, Cid Gomes (PSB), e enfrenta problemas em seu reduto político, o Ceará. Na eleição municipal em Fortaleza (CE), o candidato do PT, Evandro Leitão, derrotou André Fernandes (PL) no segundo turno. Ciro não apoiou o nome petista e se manteve “neutro” no segundo turno, o que motivou um grupo de pedetistas a pedirem sua saída da legenda.
“Saíram 60 prefeitos do PDT no Ceará após o rompimento entre os irmãos. O Ciro é uma personalidade das mais inteligentes que eu já conheci, mas tem o temperamento muito duro. Ele e o irmão nunca foram muito fortes em Fortaleza. A aliança [entre PDT e PT] é que era forte. Rompe e o que acontece? Sarto [prefeito de Fortaleza, do PDT] não conseguiu fazer uma boa comunicação da gestão. Lula é muito forte lá e houve a polarização entre os candidatos do PT [Evandro Leitão] e do PL [André Fernandes], que era a marca do voto do Bolsonaro. Ganhou o PT, graças a Deus. O Ciro deu a opinião dele, mas não fez campanha para ninguém”, explicou Lupi.
“Minha relação com o Ciro é de profundo carinho e amizade. As pessoas só querem lembrar do que ele fez na última eleição. Esquecem que na outra, em 2018, ele ajudou a eleger 27 deputados. O Ciro só sai do partido se quiser”, concluiu Lupi.