Lula assume presidência do Mercosul com missão de destravar acordo com União Europeia

Em live transmitida pelas redes sociais, presidente repete que proposta dos europeus é "inaceitável" e diz que vai trabalhar com aliados um novo termo

Marcos Mortari

Presidente Lula é entrevistado por Marcos Uchoa no programa Conversa com o Presidente, no Palácio do Alvorada (Reprodução/TV Brasil)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta terça-feira (4), que discutirá com os chefes de Estado dos demais países que integram o Mercosul uma proposta para apresentar à União Europeia para tentar destravar o acordo envolvendo os dois blocos econômicos.

“Queremos preparar aqui a proposta de acordo para a União Europeia. Eles mandaram uma proposta, nós respondemos, eles mandaram uma carta para nós, impondo algumas condições, nós não aceitamos a carta. Estamos preparando agora uma outra resposta”, disse.

As declarações foram dadas durante a live semanal “Conversa com o Presidente”, transmitida pelo canal do presidente no YouTube e redes sociais. Desta vez, a conversa com o jornalista Marcos Uchôa aconteceu na cidade argentina de Puerto Iguazú, localizada na região da tríplice fronteira.

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Nesta terça, Lula participa de reunião com os presidentes dos países que integram o Mercosul e assume a presidência temporária do bloco por seis meses. O cargo será transmitido por um aliado, o presidente argentino Alberto Fernández.

“Estamos do lado argentino da nossa querida tríplice fronteira para discutir o futuro do Mercosul, o aprimoramento das relações entre Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. E nós também queremos preparar a proposta de acordo para a União Europeia”, disse.

Durante a transmissão, o presidente enalteceu a importância do Mercosul para o Brasil e defendeu o fortalecimento do bloco durante sua gestão.

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“O Mercosul é uma coisa muito importante para os países que fazem parte dele. Nós precisamos fortalecê-lo cada vez mais, precisamos criar cada vez mais condições de as pessoas se sentirem bem participando do Mercosul”, disse.

“Eu quero fazer uma presidência exemplar, quero me dedicar para que, nesses seis meses, a gente possa concluir o acordo com a União Europeia e começar a pensar em outras coisas”, declarou.

Sobre a construção de um acordo com o bloco europeu, Lula disse que busca uma política que seja benéfica aos dois lados, que não beneficie apenas a UE. “Queremos fazer uma política de ganha-ganha, nós não queremos fazer uma política em que eles ganhem e que a gente perca”, afirmou.

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“Por exemplo, eles querem que a gente abra mão de compras governamentais. Ou seja, é aquilo que o governo compra das empresas brasileiras. Se a gente abrir mão das empresas brasileiras para comprar de empresas estrangeiras, a gente simplesmente vai matar pequenas e médias empresas brasileiras, pequenos e médios empreendedores e vamos matar muitos empregos aqui no Brasil”, prosseguiu.

Lula repetiu mais uma vez suas críticas à proposta encaminhada por representantes da União Europeia para o acordo, à qual já se referiu como “chantagem”. “Sempre disse que a carta era inaceitável, da forma como foi escrita”, disse. “Você não pode imaginar que um parceiro comercial seu pode impor condições”.

Uma das imposições feitas pelos europeus para o avanço das tratativas diz respeito à preservação do meio ambiente por parte dos países latino-americanos. Sobre este ponto, Lula disse que “ninguém no mundo tem autoridade moral de discutir a questão” com o Brasil. O mandatário aproveitou a ocasião para atacar seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), e assumir compromissos com a agenda.

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“Obviamente que tivemos a grosseria de um governo que desrespeitava o desmatamento, que não respeitava terra indígena, não respeitava reservas florestais. Tudo isso acabou. Nós agora vamos diminuir o desmatamento, respeitar os indígenas, cuidar das nossas reservas florestais, vamos respeitar terras quilombolas”, disse.

E lembrou de uma série de situações em que países desenvolvidos não honraram compromissos ambientais assumidos no passado. “Acontece que os países ricos não cumprem nenhum dos acordos. Eles não cumpriram o protocolo de Kyoto, não cumpriram as decisões de Copenhagen, não conseguiram cumprir a decisão do Rio 2002 e não vão cumprir a questão do acordo de Paris”, salientou.

“Queremos discutir o acordo, mas não queremos imposição para cima de nós. É um acordo de companheiros, de parceiros estratégicos. Então, nada de um parceiro estratégico colocar espada na cabeça do outro. Vamos sentar, vamos tirar nossas diferenças e vamos ver o que é bom para os europeus, o que é bom para os latino-americanos, o que é bom para o Mercosul e o que é bom para o Brasil”, disse.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.