Por que “nunca antes neste País” tivemos tanta incerteza como agora? Economista responde

O podcast da Rio Bravo entrevistou o economista e professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha sobre os desafios do Brasil (e sobre o que está sendo feito para reverter as políticas feitas no Dilma I)

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Inflação em alta, discrepância grande entre a meta da inflação apresentada pelo governo e os números que ora são informados pelo boletim Focus, reavaliação de cenário e mudanças à vista no pós-pacote de bondades realizado pelo primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. 

Os desafios são vários e, para traçar o cenário de quais são eles, o podcast da Rio Bravo entrevistou o economista Luiz Roberto Cunha, decano e professor da PUC-Rio. 

Ao falar sobre a inflação, destaca-se que, se o objetivo no início do ano era manter a alta dos preços em 4,5%, os dados mais recentes do Boletim Focus indicam outro número, na faixa dos 9%. O economista aponta ainda o “pacote de bondades”, estimulado pelo governo federal há alguns anos, como elemento central para entender a atual instabilidade econômica, que, junto com a crise política, tem trazido incerteza para investidores, empresários e população. O presidente Lula, sobre o ponto de vista da economia, era pragmático e a Dilma é dogmática”, afirma. 

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Cunha destaca ainda a razão pela qual, “nunca antes nesse país” nós tivemos um período com tanta incerteza como agora. A questão, além de externa, é principalmente interna. Confira abaixo a entrevista com o economista: 

Rio Bravo – Porque a discrepância tão grande entre a meta da inflação apresentada pelo governo e os números que ora são informados pelo boletim Focus?

Luiz Roberto Cunha – Eu acho que esse é um dos grandes problemas do momento. Ou seja, é ter uma desancoragem muito forte das expectativas, frutos dos erros da política econômica e do próprio Banco Central. O Banco Central, há dois anos, fez uma redução muito mais acentuada da taxa Selic do que era o possível, do que era o necessário. Claro que a redução nos juros reais na economia brasileira é uma coisa que deve ser a grande meta, o grande objetivo. Nenhum país consegue crescer de forma sustentada com uma taxa de juros real como a que nós temos no Brasil.

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Mas o problema é que tem que haver credibilidade na política econômica e credibilidade na ação, confiança na ação do Banco Central para que isso possa ser feito harmonicamente, junto com a política fiscal.

Então, o que ocorreu no Brasil, de fato? Em 2014, foi o final de uma grande desorganização da economia. A economia que vinha operando bem, inclusive durante uma boa parte do governo Lula, ou seja, tinha Banco Central atuante, tinha uma política fiscal que também estava funcionando. Podia não ser a melhor, o que mais eu pessoalmente esperaria e gostaria, mas vinha funcionando. Eu costumo dizer o seguinte: o governo Lula era pragmático. O presidente Lula, sobre o ponto de vista da economia, era pragmático e a Dilma é dogmática.

Ela entra com algumas ideias preconcebidas, faz uma mudança forte no rumo da política econômica, muda a forma de atuação do Banco Central, começa a interferir, de uma certa forma, no Banco Central e isso faz com que o Banco Central perca grande parte da credibilidade que ele tinha adquirido. Quando entra em 2013, já com preocupações eleitoreiras, já com preocupações quando começa a perceber que de fato a economia está perdendo força. Eu costumo dizer que o consumidor é também o eleitor. Então, o governo começa a tomar algumas medidas, também em função dos movimentos de rua em junho de 2013 para satisfazer o consumidor eleitor. Não apenas o governo federal, mas o governos estaduais e municipais.

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E são adiados os aumentos, no caso do Governo Federal, faz-se uma redução significativa na conta de energia elétrica, em uma medida em que reorganiza os contratos, muda os contratos. Mas, exatamente, quando você já tinha uma percepção clara, por todas as avaliações das pequenas centrais hidrelétricas na área que já havia uma escassez hídrica. Quer dizer,poderia ter problemas. Na verdade, joga na contra mão e incentiva o consumo de energia elétrica quando você já deveria estar tomando medidas para reduzir. O que ocorreu em 2013 foi um ano em que segurou uma série de aumentos para serem administrados. 2014 é um ano eleitoral. É um ano em que a popularidade da presidente já vinha se deteriorando, apesar dos resultados de emprego razoáveis. Mas era razoáveis até por questões metodológicas, em relação à medida da taxa de desemprego do IBGE, em função de uma parte das pessoas estarem fora do mercado de trabalho porque estudando ou com bolsas sociais, transferências sócias. E aí tem, de fato, um descalabro na parte fiscal.

Então, 2015 é o primeiro ano do segundo governo da Dilma, mas é um ano em que ela tem que tentar corrigir todos os erros do passado. No caso da inflação, especificamente, é um ano em que há uma correção exatamente do saco de bondades feito antes na parte da energia elétrica.

Não apenas agora tem a pressão das bandeiras porque está usando a termoelétrica, mas também teve que repassar 30%, em média, de aumento em função do custo fiscal porque os erros na política de preços na área de energia elétrica também prejudicaram a política fiscal. Isso porque o Tesouro teve que subsidiar, transferir recursos. Então, teve que fazer esse repasse e, obviamente, também as correções anuais que há para diversas empresas. Efetivamente, houve a correção da energia elétrica dos erros passados.

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Gasolina foi outro preço que ficou também sendo controlado, prejudicando fortemente a Petrobras, uma empresa que, independente dos outros problemas seríssimos que ela tem, mas tem que ter [política] de preços e subsidiou também o consumidor.

Além disso, todas aquelas reduções de impostos feitas em alguns setores… Eu me lembro muito bem, em 2013 reduziu o PIS e COFINS em alimentos no momento em que não havia a menos razão para fazer isso, não teve nenhum efeito. Ou seja, começou a gastar fiscal sem que tivesse resultados efetivos na parte da inflação. A inflação de 2015 é uma correção desses erros e mais as pressões que tem ainda de serviços, entre outros. Esse descolamento entre as projeções e a meta do Banco Central é muito clara.

Na verdade, o próprio Banco Central olha para alcançar a meta em 2016. Ela sabe que ele não tem menor condição de fazer isso, apesar de ter retomado uma política monetária restritiva, uma alta significativa da taxa SELIC. Então, pelo que está hoje, nesse momento, tentando fazer no Brasil e quais seriam as medidas que permitiram olhar para a inflação nos próximos anos com uma tendência declinante, mas é ter de novo um Banco Central que tenta ganhar confiança do mercado, tenta ancorar expectativas dizendo que vai fazer tudo que seja necessário para elevar a taxa de inflação de volta para os 4,5%.

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Por outro lado, ter uma política fiscal que aos “trancos e barrancos”, tende a colaborar com a política monetária, uma vez que a cada medida que o ministro Joaquim Levy consegue aprovar há uma ou duas outras medidas que o Congresso faz ao contrário. Então, se há política monetária restritiva e política fiscal restritiva, se as duas operam no mesmo sentido, há uma possibilidade de uma redução dessa taxa de inflação.

Além disso, tem uma coisa muito importante para o início de 2016, é de que aquele aumento extra de 30%, em média, corrigindo o financiamento que havia sido dado pelo Tesouro às empresas, vai desaparecer da avaliação de 12 meses. Então, de fato, mesmo que a inflação feche em torno de 9%, 9,5% em 2015, sabemos que a partir de abril, há uma queda de um ponto e meio. Então, já tem uma redução natural.

O outro fator que deve ajudar na redução da inflação a desaceleração do IPCA ao longo do ano que vem é, obviamente, a atividade. Ou seja, a queda na atividade é muito forte, isso vai ajudar um pouco a segurar os serviços e haverá a possibilidade de alguma coisa em torno de 6%, 5,5%, com uma atividade muito fraca. Estamos caminhando em direção aos 4,5%.

Acho que o Banco Central vai manter a Selic em um patamar próximo do que está agora, vai possivelmente ainda fazer alguma alta de 0,25 ou 0,5 [ponto percentual] e depois vai deixar ela parada nesse nível até que de fato você tenha uma mudança. Os diretores do Banco Central têm falado nos últimos dias que, apesar do descolamento em 2015, ou seja, cada vez mais, a cada semana, o Focus nos mostra uma expectativa de inflação de IPCA um pouco mais alto, mas para 2016 e até para 2017 não há esse descolamento porque o mercado acredita que vai mudar. Isso é um bom ponto.

É um ponto positivo no sentido de que está havendo uma certa ancoragem, mas eu acho que ainda há muitos problemas que nós temos hoje podem afetar isso.

RB – De que modo esse tendência de alta provoca um círculo que se retroalimenta, no sentido de gerar ainda mais expectativa negativa junto aos investidores e a população?

LRC – Eu acho que o grande problema hoje no Brasil é esse. Eu acompanho economia de forma bastante presente desde a década de 70. Trabalhei com o ministro Mario Henrique Simonsen, no Ministério da Fazenda, de 74 a 79. Eu era moço e ele já trabalhava.

Então eu conheço e acompanho bastante bem tudo isso e já lidava com inflação naquela época, até porque lidava com preços em uma das áreas de atuação.

Usando a frase do Lula: nunca antes nesse país nós tivemos um período com tanta incerteza como agora, por quê? Porque não é só uma incerteza externa do que pode acontecer com a China, com os EUA, na Europa, não é só uma incerteza econômica de uma política econômica que tem que ser toda reorganizada.

Há uma incerteza política em alto grau, ou seja, um Executivo, Legislativo e Judiciário que nunca na história desse país estiveram com tantos problemas para ser enfrentados. Isso é o fator que mais afeta o investidor, independente se o Banco Central vai conseguir ou não chegar em alguma coisa melhor em termos de inflação lá na frente.

RB – Já que o professor tocou na questão da crise política, em que medida a alta da inflação está ligada à incapacidade do governo em administrar a elevada temperatura dessa crise política?

LRC – Eu não tenho dúvida que esse é um fator que afeta, porque isso afeta as expectativas. Pode-se acreditar que o Banco Central vai ter firmeza na sua ação e que o ministro Levy vai conseguir aprovar aos trancos e barrancos um bom ajuste fiscal, mas essa certeza se esvai exatamente quando você olha para as outras variáveis.

A variável política é muito importante, porque se de fato continua tendo e se essa crise se agrava, sem nenhuma dúvida o câmbio dispara e aí se perde grande parte do esforço que foi feito sobre o ponto de vista da inflação.

Não há como ficar fazendo alta de juros para compensar isso. Ou seja, uma variável que, hoje em dia, depois de mais valorização acentuada no últimos 12 meses, cerca de 40%, que é o câmbio, agora você tem todas as suas projeções mostrando o seguinte: vai haver uma desvalorização menor. Se há uma crise política, o câmbio vai explodir e isso vai afetar fortemente a inflação, além de você perder a capacidade, no fundo, de atuar na economia.

Nas crises passadas, mesmo quando você teve crises políticas sérias, em 92 e outras, você conseguia separar um pouco a gestão da economia da questão política. Eu me lembro, acompanhei isso bem também. Atualmente, eu acho que você não vai conseguir isso se você tiver um agravamento da crise.

RB – Como é, na sua avaliação, que os empresários têm absorvido essa tendência de alta da inflação? Existe alguma alternativa que eles tenham pensando e que poderiam adotar?

LRC – Esse é um bom ponto. Infelizmente, muito pouco, porque, na verdade, quando tem margens boas, quando está em um período em que a economia está positiva, as vendas estão bem, consegue mais, pode absorver reduzindo margem, mas hoje não.

Hoje, uma grande parte dos setores está afetada pela atividade econômica, pela redução do crédito e pela taxa de juros alta. Então, o sujeito já está com prejuízo e vai ter mais prejuízo. São três componentes importantes que a política econômica tem que conquistar em termos de gerar credibilidade. Aí o país funciona e a economia pode ir bem mesmo com problemas estruturais como nós temos ou pelo menos não ir tão ruim. É a confiança do investidor externo.

A primeira coisa é a questão do downgrade da dívida e acho que o Levy, pelo que ele está tentando fazer, consegue fazer. Então você recuperou ali, ou pelo menos não piorou. A outra é a o empresário. A do empresário, que é fundamental para que a economia possa crescer e haja investimento. Acho que os empresários, no fundo, sabem que eles precisam de um ajuste bem feito e forte para que possam voltar a investir.

Então esses, de alguma forma, vão pagar um preço e estão pagando um preço, ainda mais com essa questão que você tem nada área de petróleo com a Petrobrás, toda a cadeia produtiva, agora em outros setores da infraestrutura, o que é muito ruim. Mas acho que eles seguram. O grande problema é o terceiro componente, que precisa recuperar confiança, que é o consumidor.

Esse consumidor eleitor que se sentiu traído, que está se sentindo traído, por que votou de uma forma e está tendo um outro resultado na política econômica, vai ser o último a se recuperar. E, para que se tenha, de fato, uma economia voltando a funcionar para que possa ter uma inflação mais baixa, tem que ter os três: a confiança externa, a confiança do empresário e a confiança do consumidor. Isso vai demorar ainda bastante no Brasil.

RB – Falando nessa confiança do consumidor, professor, em um artigo publicado em 2014 no jornal O Globo, o senhor mencionou que os resultados da inflação de certa maneira seriam definidos pelo preço dos alimentos. Agora, em 2015, uma pesquisa recente conduzida pelo Instituto GFK, mostra que, mesmo os mercados de menor porte, reajustaram mais os preços se comparados aos supermercados, as grandes redes. Os alimentos, nesse sentido, ainda vão definir os resultados da inflação de forma absoluta?

LRC – Esse é um ótimo ponto. Na verdade, e eu li essa matéria e até fiquei preocupado também. Na verdade, acho que podemos dividir o Índice de Preços ao Consumidor em 4 grandes grupos. Tem os alimentos e tem os serviços, de uma forma geral. Embora entre os serviços haja algumas diferenças importantes, tem os preços administrados e tem os preços de bens duráveis e semiduráveis. Móveis, automóveis, roupas, entre outros.

Esses duráveis e semiduráveis, que são muito afetados pela atividade e pelo crédito e pela confiança do consumidor, esses vão continuar rodando abaixo da inflação. Ou seja, eu não vejo preocupação pelo lado mau da coisa, que é a recessão. Os administrados tiveram uma grande correção agora, uma correção necessária. Ainda vão estar pressionando no ano que vem. Vai continuar, no caso de energia elétrica, tendo que deixar as termoelétricas funcionando, ou seja, bandeira vermelha.

Ainda vai ter que passar algum tipo de subsídio de transferência que tenha dessas alterações todas erradas que o governo fez na área. Pode ter alguma coisa de gasolina, mas o preço do petróleo está muito baixo. Acho que os administrados já vão ajudar um pouco mais o ano que vem, no mínimo não sendo mais um fator de forte alta, podendo até ajudar para baixo.

E serviços já começam a mostrar. Eles são mais demorados em refletir a questão da atividade e mesmo da piora do emprego, mas o grande ponto do serviço é que eles guardam uma inércia grande. Ou seja, onde aquela inércia, aquela questão básica que foi grande causa da nossa longa inflação, de mais de trinta anos. Mário Henrique Simonsen, no seu último livro, fala sobre trinta anos de indexação. Ele fez pouco antes de morrer um magnífico texto mostrando em todos os setores a questão da indexação.

Essa questão ainda é muito forte nos serviços, inclusive o salário mínimo é um fator importante nos serviços. Então os serviços vão ficar abaixo ano que vem e esse ano devem ficar também. Seguramente já estão desacelerando, mas não vão ficar abaixo de 5%, 6%, 6,5%. Ou seja, ainda serão um fator de pressão.

E aí ficam os alimentos, e nos alimentos depende de variáveis. Claro, nossa safra é boa mas hoje, principalmente esses preços, que são preços de  commodities internacionais, soja, trigo e milho, dependem muito do preço lá fora. O que tem hoje nos alimentos é que, de fato, o mercado externo está muito fraco. Isso ajuda a não ter muitas pressões, mas a questão hídrica, do clima, afeta.

Nós tivemos agora, nesses últimos meses, uma alta muito forte de alimentos in natura em um período que já não era para eles subirem, por quê? Exatamente por causa da questão hídrica. Aliás, a questão hídrica e dos dois lados: não só por que falta água para irrigação nas regiões próximas de São Paulo e do Rio, mas como também quando vai irrigar há um custo mais alto em função do preço da energia elétrica. Esses erros levaram a isso. Alimentos serão de fato [um fator de pressão] para os próximos dois anos, considerando que vai continuar com atividade baixa e crédito restrito, etc. Ou seja, duráveis e semiduráveis não vão pressionar muito, se não vai ter uma desvalorização cambial, porque eles pesam fortemente principalmente nos duráveis. Considerando que não vai ter novas recomposições acentuadas dos preços administrados e que os serviços aceleram um pouco, quem vai ser o fiel da balança são os alimentos. Para eles, em princípio, vai depender do cenário externo e da questão climática. 

RB – Nesse mesmo artigo de 2014, o professor mencionou o fator pacote de bondades como um dos desencadeadores dessa instabilidade econômica. Ainda existem consequências mais para a frente das ações daquele período desse pacote de bondades?

LRC – Na área elétrica, como eu já mencionei um pouco, ainda está tendo alguma coisa. Podia já ter reduzido um pouco mais o consumo lá e não incentivado. Tem na área de transportes públicos alguns problemas que devem surgir porque alguns municípios estão subsidiando muito essa área. Então pode ter algum efeito lá para frente.

No caso da gasolina, onde [o governo] também fez a Petrobras subsidiar o consumidor, agora tem o preço externo que está segurando. Mas eventualmente pode ter. Ou seja, o ponto básico sobre o pacote de bondades é que na economia não existe almoço de graça e alguém vai pagar a conta em algum momento. O que o governo está fazendo na área dos preços administrados é que ele está pagando a conta por tentar distribuir almoço de graça para a população.

RB – Em uma entrevista recente, o vice-presidente do FED, Stanley Fischer, argumentou que é preciso levar a inflação de volta a meta dos 2% nos EUA. A médio e longo prazo, quais são os impactos possíveis se a inflação seguir branda nos EUA, pensando no caso de Brasil e de economias emergentes?

LRC – Eu acho que o ponto é esse. No mundo hoje, a inflação não é um problema e talvez não seja um problema por alguns anos, por quê?

Principalmente porque a China está desacelerando. A China sempre foi um grande fator de pressão sobre o preço de commodities, por exemplo. Esse é um ponto. Não só o minério de ferro, mas como a soja, não é milho ou trigo. A China está desacelerando e vai desacelerar. A Europa, com as dificuldades todas do euro, a recuperação vai ser lenta. Os EUA talvez sejam um dos grandes players internacionais aquele que está com uma tendência de recuperação mais forte, mas acho que não é um problema para os próximos anos. Vai ter alta dos juros nos EUA, o FED vai subir a taxa básica ainda esse ano ou alguma coisa vai acontecer. Mas vai ser lenta, a própria Janet Yellen [presidente do Federal Reserve] diz que isso vai ser uma coisa muito gradual.

Então, na verdade, eu acho que o cenário externo não vai ser uma desculpa importante para os nossos problemas internos. Quer dizer, ele não vai ajudar, mas ele talvez não atrapalhe muito. 

RB – E no caso da Europa e do Japão, por exemplo? A zona do euro, especificamente, pode servir como justificativa? 

LRC – O grande ponto é esse. Isso não nos ajuda na área externa, nas exportações, no comércio internacional, mas nos ajuda evitando que venha a ter pressões, principalmente sobre os alimentos e agora a questão do petróleo também. Esse acordo EUA e Irã tende a manter o preço do petróleo, o Irã voltando a exportar petróleo, muito baixo.

Isso prejudica o pré-sal. Mas o pré-sal foi um erro, o Brasil não ter feito antes, quando ainda tinha condições de fazer bons acordos para a utilização. O governo ficou com aquela ideia de que isso é uma coisa importante, “o petróleo é nosso”. O petróleo é nosso, mas também é dos outros.

Ou seja, os outros também estão produzindo petróleo. O México acabou de ter problemas depois de muitos anos para abrir um pouco o setor para fazer as licenciações. Então acho que se não tiver pressão de petróleo e não tiver pressão de alimentos, isso vai ajudar a população no mundo e, em contrapartida, ajuda também no Brasil.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.