Ramagem é alvo de operação da PF contra espionagem ilegal pela Abin no governo Bolsonaro

Alexandre Ramagem é ex-diretor da Abin, deputado federal e pré-candidato à prefeitura do Rio; 7 policiais federais foram afastados

Equipe InfoMoney

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A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira (25) operação para investigar o monitoramento ilegal de cidadãos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Um dos alvos é o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro.

Ramagem, que se tornou um dos maiores aliados de Bolsonaro durante seu governo, chegou a ser nomeado diretor-geral da PF, mas teve sua nomeação suspensa, por desvio de finalidade, pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foi Bolsonaro quem o escolheu para concorrer à prefeitura do Rio nas eleições deste ano, após seu nome preferido (e companheiro de chapa em 2022), Walter Braga Netto, ter sido condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e se tornar inelegível.

A PF fez buscas no gabinete de Ramagem na Câmara e o intimou a prestar depoimento. Procurado pela Reuters, o deputado não se manifestou até o momento. Um representante de Bolsonaro também não respondeu a um pedido de comentário sobre a operação. Em uma rede social, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que a operação contra Ramagem “é uma perseguição por causa do Bolsonaro”. “Isso é pura perseguição e pode acabar elegendo o Ramagem com mais facilidade no Rio de Janeiro”.

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Foram cumpridas 21 medidas judiciais de busca a apreensão, além de outras medidas que incluem prisões, em Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ), Juiz de Fora (MG) e São João del Rei (MG). Sete policiais federais também são alvos da operação da Vigilância Aproximada e foram afastados das suas funções, segundo a PF.

Deflagrada com autorização de Alexandre de Moraes, a operação é a continuação da operação Última Milha, realizada pela PF em outubro para investigar o uso ilegal pela Abin de um software para espionar autoridades públicas e pessoas comuns. A corporação apura se a agência investigou Moraes, o também ministro do STF Gilmar Mendes, o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e até governadores como Camilo Santana (PT), do Ceará, que hoje é ministro da Educação.

“As provas obtidas a partir das diligências executadas pela Polícia Federal à época indicam que o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal”, afirmou a corporação em nota.

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A operação de outubro afastou cinco servidores da Abin, incluindo Paulo Maurício Fortunato Pinto, que ocupava o cargo de secretário de planejamento e gestão da agência no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e tinha sido diretor de operações de inteligência no governo anterior.

Segundo as investigações, o sistema de geolocalização utilizado pela Abin é um software intrusivo na infraestrutura crítica de telefonia brasileira. A rede de telefonia teria sido invadida reiteradas vezes, com a utilização do serviço adquirido com recursos públicos. O software, chamado First Mile, é produzido pela empresa israelense Cognyte. Ele permite rastrear a localização de uma pessoa, a partir de dados transferidos entre seu celular e torres de telecomunicações, e seria capaz de permitir o acompanhamento de até 10 mil pessoas por 12 meses.

(Com Reuters e Agência Brasil)