Petrobras repete “trapalhada” da OGX e causa conflitos com cláusula de “put option”

Mecanismo, que serviu como cláusula de saída no caso da Petrobras e uma "prova de confiança" para a OGX em Eike, vem causando muita confusão entre diretores de ambas companhias

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na última semana, ganhou destaque a polêmica sobre a compra da refinaria americana de Pasadena pela Petrobras (PETR3PETR4). E um dos seus pontos mais emblemáticos foi a chamada cláusula de “put option”, a qual Dilma Rousseff alegou não saber que existia, após dizer que aprovou o negócio com base em relatório “falho” e que omitia essa cláusula.

A “put option” dá o direito a um acionista vender sua participação para outro acionista, que é obrigado a comprá-la, a um preço já determinado. O prazo para exercício da opção pode ser até determinada data ou em qualquer dia até um dia limite, dependendo do contrato.

A obrigatoriedade em comprar estas ações foi o que gerou conflitos entre os sócios. Em entrevista à Globo News, o ex-presidente da petrolífera, José Sérgio Gabrielli, disse que a cláusula é comum em aquisição de empresas, o que colocou a presidente em uma situação embaraçosa.

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A sócia do escritório Marcelo Testes Advogados, Emanuelly Marciano Rodrigues Castro, destacou que a cláusula – prevista na Lei das S/A – não constitui em si uma penalidade, mas sim uma estratégia de saída ou de dissolução do negócio contratado entre os acionistas. Emanuelly destaca que o artigo 118 da Lei das S/A determina os assuntos que poderão ser objetos do acordo de acionistas, com três modalidades distintas: acordo de controle, acordo de voto e acordo de bloqueio, dispondo sobre a alienação das ações.

A advogada observa as cláusulas de opções de venda e compra são mecanismos de saída efetivos, incluídos no acordo e que devem ser “cuidadosamente redigidas em linguagem clara, objetiva e inequívoca, com o objetivo de minimizar quaisquer interpretações divergentes que poderiam levar a discussões judiciais”. Isso evita possíveis dores de cabeças quando o mecanismo for acionado, bem como evita consequências desastrosas aos envolvidos.

Caso Petrobras
No caso da Petrobras, quem saiu perdendo foi a estatal, que amargou um “prejuízo” de cerca de US$ 1 bilhão. “Por se tratar de uma cláusula que obriga uma das partes envolvidas a adquirir algum bem, geralmente participação societária em empresa, da outra parte, o preço a ser pago, a forma de pagamento e as condições e requisitos para que referida obrigação possa ser exigida devem estar minuciosa e claramente descritas, de modo a se evitar interpretações equivocadas, comprometendo-se a efetividade do mecanismo”, alerta Rubnes Bezzera Filho, especialista em direito societário da PLKC Advogados. 

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A cláusula put option foi acionada após a Astra Oil entrar na Justiça contra a brasileira em 2008, após não chegarem a um acordo sobre os investimentos na refinaria. No mesmo ano, a Petrobras descobriu e questionou as duas cláusulas do contrato – put option e Marlim -, o que aumentou ainda mais as desavenças entre as empresas, com a decisão judicial saindo em 2010, com a brasileira decorrendo depois.

Vale ressaltar as condições que levaram a companhia brasileira a pagar US$ 820,5 milhões a mais para a companhia belga por Pasadena, após a Astra Oil ter comprado 50% da refinaria por apenas US$ 42,5 milhões. A Petrobras teve que pagar muito caro pela operação em meio à disputa jurídica e a derrota da estatal, mas também porque as ações da refinaria ficaram muito valorizadas. 

Em abril de 2009, a Câmara Arbitral norte-americana estabeleceu que a Petrobras tinha obrigação de comprar a outra metade da sociedade e tomou como base um valor de US$ 466 milhões para os papéis, com base no valor de mercado de Pasadena em 2008. Aumentou-se o valor em US$ 173 milhões pelo reembolso de uma garantia bancária fornecida à companhia. A Petrobras recorreu, perdeu em outras instâncias e só pagou a dívida três anos depois, elevando a conta para US$ 820,5 milhões. 

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Relembre: caso da put da OGX também foi emblemático
Voltando para o ano passado, devemos lembrar que não foi só a Petrobras que causou polêmica sobre a redação da cláusula de put. A OGX também teve conflitos com o então controlador, Eike Batista, após terem firmado um contrato de put. Na época, foi estabelecido que Eike poderia comprar US$ 1 bilhão em ações da companhia, quando a empresa achasse que fosse necessário se capitalizar. 

A empresa precisararia subscrever novas ações ao controlador ao preço de R$ 6,30 até completar a quantia de US$ 1 bilhão. “Ao conceder essa opção, enfatizo a minha confiança na qualidade do corpo técnico e ativos da companhia, bem como nas novas oportunidades que o setor de óleo e gás oferece à OGX”, afirmou o empresário na ocasião. A opção poderia ser exercida até o dia 30 de abril de 2014 – condicionada à necessidade de capital social adicional da companhia e a ausência de alternativas melhores. 

Em setembro de 2013, a put foi exercida parcialmente, no valor de US$ 100 milhões, um pouco menos de dois meses da companhia decretar a sua recuperação judicial e quando os ativos estavam cotados a cerca de R$ 0,40. O valor parcial, de US$ 100 milhões, seria embolsado diretamente, mas logo Eike Batista foi à Câmara Arbitral para impedir o exercício da put.

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E Eike destacou alguns argumentos para se recusar a pagar esse valor, questionando “as circunstâncias, a forma, o conteúdo, a validade e os demais aspectos legais”, o que gerou uma disputa com os próprios administradores da companhia, só resolvida após o acordo de credores que tirou Eike do comando, no final de 2013. Com o acordo, os credores perdoaram a dívida de Eike com a OGX, algo que vem sendo contestado pelos minoritários da companhia. 

“A ‘put’ é uma obrigação do Eike com a empresa e conosco, que somos os acionistas minoritários. Os credores ainda não são os donos da OGX e não podem perdoar essa dívida. Isso é inaceitável”, disse o economista Aurélio Valporto, um dos minoritários da petroleira, na época do anúncio. Com isso, as cláusulas de puts ainda geram muitas controvérsias no mercado. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.