Personagens: Elinor Ostrom, a primeira mulher a vencer um Prêmio Nobel em economia

Norte-americana faleceu aos 78 anos, após uma vida de desafios e preconceitos contra as mulheres no mercado de trabalho

Fernando Ladeira

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SÃO PAULO – Elinor Ostrom nasceu em 1933, na Califórnia, em um mundo onde as mulheres ainda tinham poucas chances de se dedicar a uma carreira profissional. Para dificultar, vinha de uma família pobre, em um período no qual a Grande Depressão de 1929 continuava a ilustrar as páginas dos jornais e, com a chegada de Hitler ao poder na Alemanha, a segunda Guerra Mundial se aproximava. Essas barreiras, no entanto, não foram grandes o suficientes para evitar que se tornasse a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel de Economia em 2009.

Elinor faleceu na última terça-feira (12), aos 78 anos, ao perder a batalha para um câncer de pâncreas. “Elinor Ostrom foi um grande ser humano, uma professora e uma colega inspiradora, e uma excelente cientista social”, lamentou Oliver Williamson, o qual dividiu o prêmio com Elinor, ao saber da notícia.

Logo após a premiação, ela disse em entevista que se sentia honrada pelo fato de ser a primeira mulher a alcançar tal feito. “Tendo vivido em uma era que eu pensava em ir para a universidade, e fui fortemente desencorajada porque eu nunca conseguiria fazer nada além de ensinar em um colégio da cidade… a vida mudou!”, comemorou.

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Elinor: vencedora do Prêmio Nobel
Elinor venceu o prêmio de maior reconhecimento no meio acadêmico na área de economia em conjunto com Williamson, quando apresentou um artigo no qual defende que a organização pelas próprias pessoas pode ser um meio bastante eficiente na economia. A academia elogiou o trabalho de Elinor por colocar em xeque a ideia de que bens públicos devem ser regulados por autoridades centrais ou privatizados.

“Grandes estudos dos sistemas de irrigação no Nepal e de florestas ao redor do mundo desafiam a premissa de que os governos sempre fazem um trabalho melhor que os usuários em se organizarem e protegerem os recursos importantes”, escreveu no trabalho premiado. Na região, a cientista social diz que as comunidades locais construíram um sistema de irrigação mais eficiente e com um custo menor do que os desenvolvidos pelo Banco de Desenvolvimento Asiático, pelo Banco Mundial, entre outros.

Para ela, resolver os dilemas sociais passa por desenvolver regras institucionais e trabalhar na confiança entre os indivíduos, já que eles investem em muitos meios para monitorarem a si mesmos. “Extensas pesquisa empíricas me levam a argumentar que (…) o principal objetivo da política pública deveria ser facilitar o desenvolvimento de instituições que despertam o melhor dos humanos”, realça.

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Essas instituições deveriam incentivar características como inovação, aprendizado, adaptação, confiança, cooperação e meios para que os indíviduos alcancem um resultado mais eficiente, igualitário e sustentável em diversas escalas, argumenta.

Contudo, uma única fórmula para isso seria ineficiente, até porque entregar toda a responsabilidade para as pessoas nem sempre é o melhor meio. Isso é, cada caso é um caso. “Quando o mundo que nós estamos tentando explicar e melhorar (…) não é descrito por um simples modelo, nós temos que continuar a melhorar nossos quadros e teorias para conseguirmos entender a complexidade e não simplesmente rejeitá-la.”

Os primeiros anos
Mas, para chegar até essas ideias, Elinor passou por muitos outros desafios na vida. As habilidades intelectuais da futura prêmio Nobel já apareciam desde pequena. Ao ingressar na escola de Berverly Hills – uma escola de ricos, como define em sua autobiografia -, ingressou em uma equipe de debates e participava de competições ao redor do estado. 

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Contudo, ela não vivia apenas no mundo das ideias. Participava de uma equipe de natação e também dava aulas, como um modo de juntar dinheiro para anos depois entrar na faculdade. Foi assim que Elinor entrou na UCLA (University of California) e se tornou a primeira de sua família a passar do colégio e ingressar no ensino superior.

A próxima batalha, no entanto, era entrar no mercado de trabalho. Elinor conta em sua biografia que o trabalho apropriado para uma mulher era visto, na época, como uma secretária ou professora de colégio. Mesmo assim, ela foi aprovada em uma empresa que nunca havia contratado uma mulher para um cargo acima de secretária e já começava a pensar no Ph.D.

Quebrando desafios
Mas o próprio departamento de economia da faculdade fortemente a desencorajou a buscar um Ph.D. em economia por não ter tido aulas de matemática no colégio – não era comum garotas terem lições de álgebra e geometria. Enfim, Elinor não se abalou e se formou com honra em ciência política, em 1954. Logo em seguida começou a dar aulas na Universidade de Indiana e, mais tarde, apesar das recomendações contrárias, tornou-se Ph.D. em 1965, também pela UCLA.

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Dois anos antes, casou com o colega de faculdade e também cientista político Vincent Ostrom, com quem criou um grupo de pesquisa na Universidade de Indiana, focado em estudos semelhantes ao artigo apresentado por Elinor em seu Prêmio Nobel.

Elinor passou a sua vida profissional aprimorando as ideias que resultaram em sua obra premiada. Em seu último artigo publicado em vida, às vésperas do encontro Rio+20, Elinor deixa uma mensagem para a economia sustentável no site Project Syndicate. “Nós temos uma década para agir antes que o custo das atuais soluções viáveis se torne muito alto. Sem ação, nós corremos o risco de uma catastrófica e talvez irreversível mudança ao nosso sistema de vida. Nosso principal objetivo deve ser guiar a responsabilidade do planeta para esse risco, em vez que colocar em risco o bem-estar das futuras gerações.”

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