Os 2 movimentos de Jair Bolsonaro após discurso “roubado” por intervenção federal no RJ

Desconfortável com a perda do monopólio da pauta da segurança pública na corrida presidencial após a intervenção federal no Rio de Janeiro, deputado tende a intensificar dois eixos de atuação

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Uma semana após a intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro pôr fim a uma espécie de monopólio de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) sobre o tema da violência na corrida presidencial, o deputado federal movimenta-se em busca de novos espaços no xadrez político.

Desconfortável em ter que dividir com o presidente Michel Temer a pauta da segurança, a tendência é o parlamentar se esforçar em diferenciar a movimentação do governo ao que ele teria feito caso eleito, oferecendo críticas à forma como foi construída a inédita intervenção.

Outro flanco da estratégia de Bolsonaro consiste na intensificação da marcha ao centro ensaiada meses atrás. Caso queira seguir crescendo nas pesquisas de intenção de voto e confirmar a resiliência dos últimos levantamentos, o deputado necessariamente terá de acenar a grupos fora da extrema-direita.

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Nesse sentido, ele já tem mostrado entender que o caminho pode ser a apresentação de um discurso liberal para a economia, na atual moda que o combina ao conservadorismo nos costumes.

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Parte do movimento ao centro pôde ser percebida na entrevista do ‘chicago boy’ Paulo Guedes ao jornal Folha de S.Paulo no último domingo. O economista liberal é apontado como a cabeça pensante do plano econômico de Bolsonaro e, em caso de êxito da campanha, seu ministro da Fazenda.

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Na conversa, Guedes, fundador do Banco Pactual e hoje CEO da Bozano Investimentos, fez bons acenos aos anseios do mercado financeiro. Ele defendeu a necessidade de se promover um amplo pacote de privatizações para ajustar as contas do Estado brasileiro, que ele qualifica como “muito grande”, que “bebe muito combustível”.

“Se privatizar tudo, você zera a dívida, tem muito recurso para a saúde e educação. Ah, mas eu não quero privatizar tudo. Privatiza metade, então. Já baixa metade da dívida”, afirmou o economista.

A marcha ao centro pelo deputado federal representa um inteligente movimento que temporariamente evita um esvaziamento político em função dos recentes movimentos do atual governo. De quebra, Bolsonaro mantém um incômodo no círculo do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que teme perder ainda mais fatias do eleitorado e também intensifica acenos aos agentes econômicos. O tucno tem enfrentado dificuldades em crescer nas pesquisas.

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Futuramente, Bolsonaro enfrentará novos e maiores desafios. O primeiro deles será, de fato, vestir a jaqueta liberal e assumir tal agenda, tratar de propostas concretas. Em termos eleitorais, assumir sem ambiguidades posições profundamente liberais na economia não é tarefa simples, e pode não surtir efeito majoritariamente positivo, tendo em vista as resistências de boa parcela da população a agendas como a da desestatização de empresas.

A senha já foi dada pelo próprio Guedes. Ao ser questionado se Bolsonaro se convertera ao liberalismo, o economista respondeu: “tem que perguntar para ele”. Com isso, o movimento ao centro pode ser verdadeiro ou um blefe. Só o tempo responderá.

Além disso, Bolsonaro terá grandes dificuldades com a pouca estrutura partidária, o escasso tempo de televisão e os baixos recursos para campanha. Já ficou provado em outras eleições o peso de cada um desses elementos.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.