Os 2 motivos que evitaram a turbulência após o pior cenário para 2017 se concretizar, segundo Samuel Pessôa

Brasil ganhou tempo, afirmou o pesquisador do IBRE/FGV durante Fórum de Liberdade Econômica promovido pelo Mackenzie em parceria com a UM Brasil; porém, ele também fez um alerta

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Com a reforma da previdência fazendo água no apagar das luzes deste ano, o pior cenário que Samuel Pessôa, pesquisador do IBRE/FGV, apontava para 2017 se materializou. Isso, aliás, desde o dia 17 de maio de 2017, quando veio à tona a gravação da conversa entre Michel Temer e o empresário Joesley Batista que, mesmo com contestações sobre o seu conteúdo, levaram a chance de aprovação de uma ambiciosa reforma para o ralo.
Mas por que os mercados estiveram tão calmos até recentemente? E algo pode mudar nesse cenário?

Em fala na última terça-feira (7) no Fórum de Liberdade Econômica promovido pelo Mackenzie em parceria com a UM Brasil, Pessôa destacou que a calmaria momentânea do mercado pode ser explicada por duas surpresas positivas, ambas relacionadas à inflação.

Em primeiro lugar, a inflação está mais baixa nos Estados Unidos do que o projetado em cerca de 1 ponto percentual, o que levou a uma redução de toda a curva de juros americana, postergando mais altas pelo Federal Reserve e fazendo com que o Brasil ganhasse um tempo considerável.

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A segunda surpresa positiva vem da inflação brasileira, uma vez que houve uma desaceleração mais forte do que esperado. Pessôa aponta que, um ano atrás, a expectativa era de que o IPCA chegasse a 5,5% no ano e hoje é de cerca de 3,2% – ou seja, uma diferença bastante significativa de 2,3 pontos percentuais. Além da queda da inflação de alimentos, por conta da forte safra, houve também uma desaceleração nos preços de serviços, que vinha resistindo a cair. “Essa queda dos preços ajudou o Banco Central a atuar através da política monetária, através de uma dinâmica da dívida mais branda, que nos dá tempo para resolvermos os nossos problemas. Porém, o tempo não é infinito”, avalia Pessôa.

Traçado esse cenário, a dúvida que fica é, segundo o professor: é possível esperar o processo eleitoral no ano que vem – fazendo “figa” para que eleja alguém comprometido com o ajuste fiscal – e só a partir de 2019 promover a reforma? Ou os problemas se acumularão e o Brasil sairá dessa tranquilidade?

Para responder a essa pergunta, Pessôa volta a lembrar que o Brasil ganhou tempo, que pode sim se estender até 2019 a não ser que o exterior apresente uma nova “surpresa”: seria ela aceleração da inflação nos EUA, cujos patamares baixos atualmente têm influenciado o Federal Reserve e assegurado a entrada de capitais no Brasil. Contudo, com a aceleração da economia americana e perspectiva de um crescimento sólido do PIB em 2017, da ordem de 3%, Pessôa avalia que a inflação, “mais cedo ou mais tarde”, voltará, causando implicações à política monetária elaborada pelo Fed. 

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O professor destaca, aliás, que a turbulência das últimas semanas na bolsa brasileira deveu-se mais ao exterior do que ao cenário interno, com o avanço do programa tributário de Donald Trump e os temores sobre o escolhido por ele para o Federal Reserve – neste último caso, o desfecho foi positivo para emergentes, com a escolha de Jerome Powell. 

Desta forma, se não houver uma reversão muito acentuada no cenário internacional e ele continuar benigno para os emergentes, o Brasil conquistará tempo (claro, se “eleja alguém com a cabeça no lugar”, nas palavras do professor). Caso contrário, o Brasil pode ficar em maus lençóis. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.