Os 2 motivos para ficar pessimista com a previdência – e 2 razões para manter “esperança”

Para a consultoria de risco político, o ponto de partido do governo não foi bom, enquanto Rosenberg destaca cartas que o governo pode usar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Apesar do otimismo do mercado, o governo ainda terá que trabalhar muito se quiser aprovar no começo do próximo mês a reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. O placar ainda é divergente, mas todos eles convergem para apontar que ainda faltam muitos votos para a previdência ser aprovada. 

De acordo com a consultoria de risco político Eurasia Group, o início das negociações para a reforma não tiveram um ponto de partido bom. Dois fatores principais (e um levando a outro) indicaram isso, avalia a consultoria. 

Segundo apontaram os analistas Christopher Garman, João Augusto de Castro Neves, Filipe Gruppelli Carvalho e Djania Savoldi, a tentativa frustrada do governo do presidente Michel Temer em conduzir uma reforma ministerial (o que levou à baixa participação no jantar promovido na quarta-feira para divulgar o novo texto da previdência) e o levantamento da Eurasia com líderes partidários colocaram viés de baixa na atual chance de 40% estimada pela consultoria para aprovação da reforma.

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As consultas nos últimos dois dias reforçaram a avaliação de que ponto de partida das negociações não é bom, diz a consultoria, mencionando a baixa participação em jantar organizado por Temer para a apresentação da nova proposta. “As próximas duas semanas serão críticas e há um caminho para a aprovação. Também estávamos esperando um impulso concertado para tentar aprovar uma versão nova e mais reduzida do projeto de lei nesta semana. Mas nossas primeiras avaliações são de que as negociações a favor deste novo projeto de lei não começaram um bom começo”, apontam os consultores.

Algumas razões levam a essa conclusão da Eurasia. Em primeiro lugar, a leitura preliminar que os consultores receberam dos partidos centristas dentro da coalizão de Temer nos últimos dois dias não é particularmente encorajadora. “Com certeza, com o governo apresentando sua nova proposta na noite de quarta-feira, os parlamentares terão de ‘digerir’ o projeto de lei antes de se decidir sobre o apoio ou não. O governo está agora com uma estratégia de comunicação política muito mais eficaz em comparação com alguns meses atrás, lançando a reforma como um meio para enfrentar os privilégios de uma elite do setor público. Isso pode influenciar os parlamentares nas próximas duas semanas”, avalia a Eurasia.

De qualquer forma, o ponto de partido não foi bom: alguns meios de comunicação informam o governo conta com entre 280 a 290 votos a favor da previdência. Isso é cerca de 20 a 30 votos dos 308 necessários para aprovar a PEC. “Mas nossas consultas sugerem que o número é provavelmente muito menor do que isso”, afirmam, apontando que, segundo consulta com líderes do Congresso, o governo provavelmente pode contar com apenas um pouco mais de 200 votos.

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Igualmente importante, o governo não foi particularmente eficaz na implantação da reforma ministerial nesta semana. O presidente Michel Temer nomeou Alexandre Baldy para assumir o Ministério das Cidades, substituindo Bruno Araújo (PSDB), o que deve ajudar a satisfazer o PP, mas se atrapalhou na tentativa de substituir Antonio Imbassahy na secretaria do governo por Carlos Marun (PMDB). 

Tais sinais mistos poderiam ter explicado parcialmente porque a participação no jantar para a divulgação da proposta da previdência foi tão baixa. Isso porque não só o PSDB boicotou o evento, como também alguns partidos do centrão. 

Estas fissuras podem ser superadas nas próximas duas semanas mas, dado que o governo só tem três semanas para converter votos, há um risco. “De forma mais geral, a a baixa participação na quarta-feira provavelmente é um sinal de que o apoio para a proposta não está sendo muito alto. Nós vemos isso como um sinal que reforça nossa avaliação, que provavelmente está em 220-250 votos hoje”, avaliam os consultores.

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Governo corre contra o tempo

Dessa forma, a conclusão que se tira é que que o governo tem muito pouco tempo para converter muitos votos – e a principal variável para se monitorar  é se o governo fará um progresso real na conquista da “batalha da comunicação política” sobre a reforma. Contudo, aponta a Eurasia, mesmo se a comunicação for positiva, isso não será suficiente para converter os votos necessários para alcançar o limite de 308 votos.

A consultoria Eurasia espera que governo anuncie uma data para votação nesta semana, que provavelmente será em torno de 13 de dezembro (ao contrário da indicação de que haverá uma votação entre os dias 5 e 7 de dezembro). Além disso, o anúncio da data é parte do processo de conquista de apoio, mas não uma evidência do fato de que governo está chegando perto dos votos. 

Mais otimista, a Rosenberg Consultores Associados apontou que o “quiproquó” da  troca de Imbassahy por Marun e o esvaziamento do jantar pró-reforma não esfriaram os ânimos: assim, o Planalto e a ala governista da Câmara trabalham intensamente na articulação política para sua aprovação.

“Embora as primeiras contagens de votos indiquem ainda muito trabalho a ser
feito, as consecutivas vitórias do governo em matérias difíceis mantêm
acesa a chama da esperança”, avaliam os economistas da consultoria.

A Rosenberg aponta ainda que muito pouca probabilidade de aprovação está
embutida nos preços. Assim, se de fato houver uma vitória, poderá haver  uma
reação mais forte dos mercados – haja vista à alta imediata do Ibovespa
pela simples menção a uma data de votação no dia 5 de dezembro.

Na mesma linha, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o estrategista-chefe da XP, Celson Plácido, afirmou que a aprovação da PEC na Câmara poderia levar o Ibovespa a 80 mil pontos. Caso a aprovação aconteça mesmo será um verdadeiro rali de fim de ano, porque ele entende que essa possibilidade sequer está precificada agora. Caso estivesse, o Ibovespa estaria marcando 77 mil pontos hoje, segundo o estrategista.

De acordo com a Rosenberg, as notícias favoráveis à aprovação da PEC da previdência são a queda da resistência da população à reforma, como mostrou pesquisa do Poder360, apontando que a campanha em tom positivo – fim dos privilégios, afetando muito pouco os atuais trabalhadores – têm dado certo. Em publicação da semana passada, o site destacou que diminuiu a resistência da sociedade sobre o estabelecimento de uma idade mínima para as aposentadorias. 

De acordo com o levantamento, o percentual de entrevistados que se diz contra a medida vem em uma trajetória de queda desde abril, quando marcava 73%, passando para 67% em agosto e 52% em novembro. Na outra ponta, os favoráveis à regra foram de 22% em abril e agosto, para 34% neste mês. Os que têm dúvida ou não responderam também aumentaram: de 5% em abril, para 11% em agosto e 14% atualmente.

Por outro lado, o mesmo Poder360 também fez uma pesquisa apontando que apenas pouco mais da metade (cerca de 60%) das maiores siglas aliadas votaria hoje com a reforma da Previdência, de acordo com estimativa de líderes e vice-líderes ouvidos pelo site, o que corresponderia a 170 deputados. 

Do lado positivo, porém, a Rosenberg também ressalta que foi veiculado um estudo mostrando que não existe relação entre votar a favor da reforma e as chances de reeleição. “Essa é mais uma carta que o governo tenderá a usar, ao lado de outros mais persuasivos (como a liberação de emendas parlamentares) para convencer os deputados”, aponta a consultoria. De qualquer forma, a Rosenberg ressalta: “a semana promete fortes emoções”.   

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.