Onde investir pra fugir do “risco Dilma” e de quais setores ficar longe

O sócio-diretor da gestora de recursos Equitas, Luis Felipe Teixeira do Amaral, aponta que tem muito estrangeiro deixando a bolsa brasileira por conta das intervenções do governo

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – O intervencionismo do governo em diversos setores da economia tem causado muita repercussão no mercado. Setor bancário, elétrico e de petróleo são alguns dos que sofreram algum tipo de intervenção do governo federal e viram suas ações refletirem isto no mercado.

O estrategista-chefe da FuturaInvest, Adriano Moreno, ressalta que o investidor estrangeiro, responsável por cerca de 40% do volume investido na bolsa, é muito sensível a qualquer tipo de intervenção governamental e está optando por ficar longe de empresas que correm este risco. “Está havendo uma fuga desses investidores das empresas mais reguladas e estas empresas têm uma grande representatividade na bolsa brasileira”, aponta.

O sócio-diretor da gestora de recursos Equitas, Luis Felipe Teixeira do Amaral, concorda que tem muito estrangeiro deixando a bolsa brasileira por isso, mas enxerga certo exagero no movimento. “Este é um governo que de fato atua mais na economia, sob o ponto de vista de política monetária e fiscal, mas é um governo que tem uma agenda de tentar criar condições para aumentar a competitividade da indústria a longo prazo, que é algo positivo”, afirma.

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De toda forma, muitas ações estão sendo penalizadas com as decisões e os especialistas ressaltam que o investidor deve ter cautela ao investir em alguns setores com maior possibilidade de intervenção negativa do ponto de vista da empresa. O sócio e gestor da Kyros, Rodrigo Donato, alerta o investidor quanto aos setores de utilities (elétrico, telecomunicações e bancários, que têm sofrido mais com as intervenções do governo. “Eu tenderia a ficar em setores onde o governo não tem nem vontade e nem foco de ficar intervindo”, disse, em entrevista recente ao programa Money Talks.

Para o estrategista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, as intervenções do governo no preço da Gasolina ainda devem manter o investidor atento antes de investir na Petrobras. “A Petrobras ainda deve continuar sofrendo com isso”, pontuou.

Já o setor de educação é visto como uma boa alternativa pelo estrategista da FuturaInvest, principalmente por conta das mudanças no Fies, que impulsionaram muitas empresas ligadas ao setor. No entanto, ele também aconselha cautela. “Quando você olha os fundamentos, o setor está positivo. Mas uma ‘canetada’ do governo pode colocar tudo a perder”, afirma Moreno.

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Foco no varejo e consumo
A maioria dos especialistas ouvidos pelo InfoMoney afirmou que as ações de empresas voltadas para o consumo interno, especialmente companhias varejistas, tendem a sofrer menos intervenções e podem ser uma alternativa para os investidores que querem fugir deste risco. “A recomendação é que o investidor olhe mais alocações em empresas de pequeno e médio porte muito vinculadas ao mercado local”, aconselha o vice-presidente da SulAmérica Investimentos, Marcelo Mello.

Para Moreno, da Futura, esta também é uma boa alternativa. “Se olharmos bem, o governo pode interferir em todos os setores. Mas o setor de consumo está menos suscetível a este movimento. Por isso aconselho que o investidor olhe empresas de varejo e de shoppings centers, que podem estar mais distantes deste tipo de ação”, diz. Para ele, uma ação que o investidor deve olhar com mais atenção é da Restoque, antiga Le Lis Blanc (LLIS3) . “É um papel que foi bem penalizado este ano e, se olharmos para os seus pares, veremos que a ação ficou barata”, disse.

Intervencionismo que pode ajudar
O estrategista-chefe da SLW lembra que existem empresas que podem ser beneficiadas com a mão do governo e o investidor também pode se aproveitar disso.

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“A gente tem que entender cabeça do governo: eles querem tornar indústria competitiva e evitar que percam para os concorrentes internacionais. O setor de siderurgia pode ser beneficiado, pois, ao mesmo tempo em que o Governo facilita desonerando a folha de pagamento, existem medidas para estimular a indústria automobilística, que também devem influenciar o setor como um todo”, disse. Para ele, a Gerdau (GGBR3, GGBR4) pode ser uma opção neste cenário. “A empresa vai se beneficiar pelo crescimento do Brasil e melhora da economia dos EUA”, aponta Galdi.

Segundo ele, o setor de celulose também pode ser beneficiado pela questão trabalhista. “Mas por ser exportadora, a empresa depende de um dólar mais forte, acima de R$ 2”.

O estrategista afirma ainda que o próprio setor elétrico foi prejudicado, em um primeiro momento, com o a queda das tarifas, mas será beneficiado pela melhora da indústria. “A indústria melhorando você ganha na escala. E ao longo do tempo haverá recuperação de tarifas porque eles vão ter que investir em aumento de capacidade”, conclui.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip