“O governo vai ser tão ruim que vai ajudar Lula a voltar”, diz Frei Betto

Em entrevista ao portal El País, teórico de esquerda e um dos fundadores do PT não poupa críticas ao partido, mas mantém as esperanças na possibilidade de erradicar o problema da desigualdade

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Um dos nomes mais importantes para a fundação do PT e conhecido como uma espécie de consciência crítica dentro do partido, Carlos Alberto Libânio (o Frei Betto) não esconde sua decepção com os rumos que a sigla que ajudou a criar tomou na prática do poder. Em entrevista ao portal El País, o frade ativista diz que, embora na sua avaliação os anos de governo Lula e o primeiro mandato de Dilma Rousseff tenham sido “os melhores da história republicana do Brasil”, poderia ter sido feito mais.

Para ele, o PT poderia ter sido o partido da ética e das reformas estruturais, como se propunha antes de assumir a presidência da República. Agora, Frei Betto acredita que o futuro da crise política do partido e do país dependem do desfecho do impeachment de Dilma Rousseff. “Se efetivamente os senadores mantiverem o impeachment, Temer vai se tornar o grande apoio de Lula para 2018. O Governo vai ser tão ruim que vai ajudar Lula a voltar”, disse seguro de que o petista deverá se candidatar. “Lula só não será candidato se estiver morto ou preso. Eu o conheço bem”.

Frei Betto diz que continua acreditando na integridade de seu aliado, mas diz que ele poderia ter preservado alguns símbolos da vida antiga, como morar na casa em que morava quando era presidente do sindicato e viajar em avião comercial. Apoiador das investigações na Petrobras, ele comemora o julgamento da elite brasileira, mas ressalta o fato de os juízes quererem usar o poder político adquirido.

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Quando questionado sobre o futuro do PT, o frade disse ser necessária uma autocrítica e que, sem ela, o partido se desgastaria cada vez mais. De todo modo acredita em recuperação. “O PT se tornou um partido especializado em sua perpetuação no poder, se preocupando principalmente com isso”, disse. Fé ele também mantém com relação à possibilidade de se combater os elevados níveis de desigualdade presentes no país. “Se não acreditasse, atestaria a desesperança da classe humana”, concluiu em tom otimista sobre o papel da consciência ecológica nessa missão.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.