No JN, Bolsonaro lembra apoio da Globo à “revolução de 64” e emissora responde por nota

"Roberto Marinho foi um ditador ou um democrata?", questionou o candidato à presidência durante entrevista

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, nesta terça-feira (28), o candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) voltou a fazer referência ao apoio dado pela emissora à ditadura militar iniciada em 1964. Desta vez, o deputado respondia a questionamento sobre declaração dada por seu vice, o general Hamilton Mourão, quanto à possibilidade de uma nova interferência militar para impor uma solução à crise brasileira, quando o episódio foi lembrado por ele.

“Candidato, que solução seria essa em que os militares teriam que impor ao Brasil, uma democracia?”, perguntou o apresentador do telejornal Willian Bonner. “Isso aconteceu em 1964, que, na forma da lei e da Constituição da época, os militares chegaram lá. Chegaram, não. Foram eleitos presidentes da República por cinco mandatos. As palavras dele [Mourão] estão em consonância com o que grande parte da sociedade fala. E ele teve a coragem de externar isso”, disse o deputado.

“No meu entender, foi um alerta que ele deu. E, no mais, eu deixo os historiadores pra lá. Eu fico com Roberto Marinho, o que ele declarou no dia 7 de outubro de 1964. Vou repetir aqui: ‘participamos da revolução democrática de 1964, identificada com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, distúrbios sociais, greves e corrupção generalizada’. Repito a pergunta aqui: Roberto Marinho foi um ditador ou um democrata?”, questionou Bolsonaro.

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Ao final do programa, a TV Globo respondeu às colocações por meio de nota lida por Bonner. O texto era similar ao reproduzido pela jornalista Miriam Leitão ao final de sabatina concedida por Bolsonaro ao canal de televisão por assinatura GloboNews, na noite de 3 de agosto. Na ocasião, o parlamentar havia citado postura adotada por Roberto Marinho no episódio de 1964.

Confira a íntegra da nota emitida pelo Grupo Globo nesta terça-feira, ao final do Jornal Nacional:

“O candidato Jair Bolsonaro disse, há pouco, que Roberto Marinho, identificado com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, apoiou editorialmente o que chamava então de “revolução de 1964”. É fato. Não somente O Globo, mas todos os grandes jornais da época. O candidato Bolsonaro esqueceu-se, porém, de dizer que, em 30 de agosto de 2013, O Globo publicou editorial em que reconheceu que o apoio editorial ao golpe de 1964 foi um erro. Nele, o jornal diz não ter dúvidas de que o apoio pareceu, aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento, a atitude certa, visando ao bem do país, e finalizava com estas palavras: ‘à luz da História, contudo, não há por que não reconhecer hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram deste desacerto original. A democracia é um valor absoluto e, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma'”.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.