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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou nesta segunda-feira (18), durante a segunda sessão da reunião de cúpula do G20, no Rio de Janeiro (RJ), que uma taxação de 2% sobre a renda dos super-ricos poderia render US$ 250 bilhões.
Segundo o presidente brasileiro, que também preside o encontro do G20, esse montante poderia ser usado em ações relacionadas às mudanças climáticas.
No discurso durante reunião com os líderes das maiores economias do mundo, Lula avaliou ainda que a “globalização neoliberal” fracassou e defendeu a revisão de regras financeiras que afetam desproporcionalmente países em desenvolvimento.
“Não é surpresa que a desigualdade fomente o ódio, extremismo e violência. Nem que a democracia esteja sobre ameaça. A globalização neoliberal fracassou. Em meio às crescentes turbulências, a comunidade internacional parece resignada a navegar sem rumo por disputadas hegemônicas”, afirmou Lula.
“Permanecemos à deriva, como se arrastados por uma torrente que nos empurra para uma tragédia. Mas o confronto não é uma fatalidade. Negar isso é abrir mão de nossa responsabilidade”, prosseguiu o presidente da República.
Guerras
Na sequência, Lula falou sobre as principais guerras em andamento no mundo, especialmente entre Rússia e Ucrânia, além do conflito na Faixa de Gaza.
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“Do Iraque à Ucrânia, da Bósnia à Gaza, consolida-se a percepção de que nem todo território merece ter sua integridade respeitada e nem toda vida tem o mesmo valor”, disse o presidente brasileiro.
“Intervenções desastrosas subverteram a ordem no Afeganistão e na Líbia. A indiferença relegou o Sudão e o Haiti ao esquecimento. Sanções unilaterais produzem sofrimento a atingem os mais vulneráveis”, completou Lula.
Leia, na íntegra, o discurso de Lula na 2ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Reforma das Instituições de Governança Global:
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A história do G20 está entrelaçada com os abalos sofridos pela economia global nas últimas décadas.
Ações oportunas evitaram que a crise de 2008 redundasse em um colapso de proporções catastróficas.
O ímpeto reformador foi insuficiente para corrigir os excessos da desregulação dos mercados e a apologia do Estado mínimo.
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Naquele momento, escolheu-se salvar bancos em vez de ajudar pessoas.
Optou-se por socorrer o setor privado em vez de fortalecer o Estado.
Decidiu-se priorizar economias centrais em vez de apoiar países em desenvolvimento.
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O mundo voltou a crescer, mas a riqueza gerada não chegou aos mais necessitados.
Não é surpresa que a desigualdade fomente ódio, extremismo e violência. Nem que a democracia esteja sob ameaça.
A globalização neoliberal fracassou.
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Em meio a crescentes turbulências, a comunidade internacional parece resignada a navegar sem rumo por disputas hegemônicas.
Permanecemos à deriva, como se arrastados por uma torrente que nos empurra para uma tragédia.
Mas o confronto não é uma fatalidade.
Negar isso é abrir mão da nossa responsabilidade.
Em torno desta mesa estão os líderes das maiores economias e blocos regionais do planeta.
Não há ninguém em melhor posição do que nós para mudar o curso da humanidade.
Este ano, a reforma da governança global entrou em definitivo na agenda do G20.
Pela primeira vez, o grupo foi à ONU e aprovou, com o endosso de outros quarenta países, um Chamado à Ação.
Mas esse chamado é apenas um toque de despertar.
A omissão do Conselho de Segurança tem sido ela própria uma ameaça à paz e à segurança internacional.
O uso indiscriminado do veto torna o órgão refém dos cinco membros permanentes.
Do Iraque à Ucrânia, da Bósnia a Gaza, consolida-se a percepção de que nem todo território merece ter sua integridade respeitada e nem toda vida tem o mesmo valor.
Intervenções desastrosas subverteram a ordem no Afeganistão e na Líbia.
A indiferença relegou o Sudão e o Haiti ao esquecimento.
Sanções unilaterais produzem sofrimento e atingem os mais vulneráveis.
As instituições de Bretton Woods impuseram obstáculos aos próprios objetivos de desenvolvimento sustentável que deveriam promover.
Impasses recentes em torno do Tratado de Pandemias, do Pacto para o Futuro e da COP da biodiversidade de Cáli mostram que a diplomacia vem perdendo terreno para a intransigência.
Não deve haver debates interditados, nem linhas vermelhas intransponíveis.
Por isso, o Brasil propôs, em Nova York, a convocação de uma conferência de revisão da Carta da ONU, nos termos do artigo 109.
Apenas 51 dos atuais 193 membros das Nações Unidas participaram de sua fundação.
Também é urgente rever regras e políticas financeiras que afetam desproporcionalmente os países em desenvolvimento.
O serviço da dívida externa de países africanos é maior que os recursos de que eles dispõem para financiar sua infraestrutura, saúde e educação.
A cooperação tributária internacional é crucial para reduzir desigualdades.
Estudos encomendados pela Trilha de Finanças do G20 são reveladores.
Uma taxação de 2% sobre o patrimônio de indivíduos super-ricos poderia gerar recursos da ordem de 250 bilhões de dólares por ano para serem investidos no enfrentamento dos desafios sociais e ambientais do nosso tempo.
A estabilidade mundial depende de instituições mais representativas. A pluralidade de vozes funciona como vetor de equilíbrio.
O futuro será multipolar. Aceitar essa realidade pavimenta o caminho para a paz.
Também é chave na construção de uma governança que maximize as oportunidades e mitigue os riscos da Inteligência Artificial.
A resposta para a crise do multilateralismo é mais multilateralismo.
Não é preciso esperar uma nova guerra mundial ou um colapso econômico para promover as transformações de que a ordem internacional necessita.
Em 1940, o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema chamado ‘Congresso Internacional do Medo’, que traduzia o sentimento prevalente em meio à Segunda Guerra Mundial.
Para evitar que o título desse poema volte a descrever a governança global, não podemos deixar que o medo de dialogar triunfe.“
Aliança Global contra a Fome
Mais cedo, no discurso de abertura da Cúpula do G20, Lula lançou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa da presidência brasileira no G20.
O G20 é o grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia e a União Africana.
A aliança conta com 147 membros fundadores, dos quais 82 países, a União Africana, a União Europeia, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras internacionais e 31 organizações filantrópicas e não governamentais. Dos integrantes do G20, apenas a Argentina ainda não havia endossado o movimento inicialmente, mas depois o governo de Javier Milei recuou e anunciou que assinaria o pacto.
O presidente brasileiro afirmou que o Rio de Janeiro, sede da cúpula do G20, “é a síntese dos contrastes que caracterizam o Brasil, a América Latina e o mundo”. “De um lado, a beleza exuberante da natureza sob os braços abertos do Cristo Redentor. De outro, injustiças sociais profundas. O retrato vivo de desigualdades sociais históricas e persistentes”, afirmou.
Lula disse, ainda, que encontrou um mundo pior do que aquele que existia durante seus dois períodos anteriores como presidente da República, entre 2003 e 2010.
“Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e a maior quantidade de deslocamentos forçados já registrada. Os fenômenos climáticos extremos mostram seus efeitos devastadores em todos os cantos do planeta. As desigualdades se aprofundam, na esteira de uma pandemia que ceifou mais de 15 milhões de vidas”, afirmou.
“A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais. A fome é a expressão biológica dos males sociais. É produto de decisões políticas que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade. O G20 representa 85% dos US$ 110 trilhões do PIB mundial e por 75% dos US$ 32 trilhões do comércio de bens e serviços”, prosseguiu o petista.
“Compete aos que estão em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade. Colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G20 o lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Este será o nosso maior legado. Quer esta cúpula seja marcada pela coragem de agir”, concluiu Lula.
(Com Reuters)