Lula garante que acordo Mercosul-UE vai sair: “Franceses não apitam mais nada”

Segundo o presidente da República, que participou de um evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o objetivo do governo brasileiro é assinar o acordo ainda neste ano

Equipe InfoMoney

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversa com a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen, em Bruxelas (Foto: Ives Herman/Reuters)
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversa com a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen, em Bruxelas (Foto: Ives Herman/Reuters)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira (27) que o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia será concluído a despeito da oposição da França. 

Segundo o presidente da República, o objetivo do governo brasileiro é assinar o acordo ainda neste ano.

Lula lembrou que a negociação é tratada entre os blocos, e não por países individualmente, e que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tem um mandato para fechar o compromisso.

“Eu quero que o agronegócio continue crescendo e causando raiva em um deputado francês que, hoje, achincalhou os produtos brasileiros. Porque nós vamos fazer o acordo do Mercosul, nem tanto pela questão do dinheiro. Nós vamos fazer porque eu estou há 22 anos nisso e nós vamos fazer”, afirmou Lula. 

Veja trecho da fala de Lula sobre o acordo Mercosul-UE:

“Se os franceses não quiserem o acordo, eles não apitam mais nada, quem apita é a Comissão Europeia. E a Ursula von der Leyen tem procuração para fazer o acordo. Eu pretendo assinar esse acordo neste ano ainda. Tirar isso da minha pauta”, garantiu. 

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O presidente também afirmou, em discurso a empresários durante evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que um acordo fechado com a China é o mais importante acordo de “acesso à tecnologia” já feito pelo país e que, a partir de agora, o Brasil vai buscar acordos com a Índia.

Entenda o imbróglio

Em participação recente na Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro (RJ), o presidente da França, Emmanuel Macron, reiterou a posição de seu governo contrária ao acordo Mercosul-UE. 

Costurado desde o fim dos anos 1990, o acordo comercial entre os dois blocos teve sua primeira etapa concluída em 2019, ainda sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Desde então, os termos passaram à fase de revisão por parte dos países envolvidos, mas pouco se avançou até aqui.

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Macron se opõe ao acordo com o Mercosul, principalmente, por questões políticas domésticas. O tratado é visto com ceticismo na França, pois há preocupação com riscos de enfraquecimento do setor agrícola no país. Ainda segundo o governo francês, caso o acordo se concretize nos termos atuais, empresas francesas que seguem leis ambientais mais duras em seu país terão de competir com companhias que não estão submetidas aos mesmos padrões.

Segundo Emmanuel Macron, um dos problemas do acordo entre Mercosul e UE é a falta de um compromisso mais claro relacionado à questão climática e à preservação da biodiversidade.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), também comentou o assunto na noite de segunda-feira (25).

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“Nós temos uma expectativa porque, durante o G20, tivemos muitas bilaterais para discutir [o assunto]. Eu estive pessoalmente com o presidente [da França, Emmanuel] Macron em duas ocasiões, uma delas reservadamente, conversando sobre o acordo. Ele tem um ponto de vista absolutamente legítimo, no interesse da França. Falou a empresários brasileiros na Firjan, em um jantar oferecido a ele que eu acompanhei, sobre como ele entendia que o acordo poderia ser feito”, disse o ministro da Fazenda. 

“Eu não vejo como excludentes a visão que está sendo patrocinada pela União Europeia e por parte do Mercosul, com a liderança do presidente Lula, e os desdobramentos que ele [Macron] próprio pretende”, prosseguiu Haddad. 

“O que eu disse foi que o governo brasileiro entendia que o acordo deveria ser firmado sem prejuízo daquilo apontado pelo presidente Macron, de estabelecer nexos entre as cadeias produtivas das duas regiões, ou seja, aprofundar as relações de uma maneira a não fazer uma divisão interregional entre agricultura e indústria. Fazer uma coisa mais transversal”, concluiu o ministro da Fazenda. 

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(Com Reuters)