Governo Temer estava perdendo uma batalha na greve geral de 6ª, mas conseguiu um trunfo na reta final

Após postagens a favor da paralisação dominarem a internet nas últimas horas, narrativa contra greve conseguiu reverter parcialmente esse cenário após a divulgação de vídeo por Doria 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A greve geral ainda não ocorreu, mas o governo de Michel Temer estava perdendo uma batalha ao não se posicionar, de acordo com a consultoria Bites, que só começou a ser revertida poucas horas atrás.

Conforme a Bites destacou em relatório, o governo chegou na última quarta-feira diante de uma “onda digital” em relação à greve, enquanto os sites contrários ao governo trabalham em ritmo frenético publicando textos sobre a paralisação. A resposta da opinião pública digital em compartilhar ou comentar esses conteúdos é de média magnitude para os padrões da Internet; porém, suficiente para se construir a percepção de uma greve de grandes proporções no Brasil.

 “A diferença em relação as tentativas anteriores é que desta vez a dispersão está indo além das fronteiras tradicionais do eixo de oposição, impactando outros setores da opinião pública digital”, avalia, destacando que havia muito barulho de um lado e inércia do outro. “Nesse contexto quem grita mais alto chama mais atenção da plateia”.

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De acordo com a Bites, os grevistas têm um grande trunfo: os sindicatos da área de infraestrutura, como motoristas de ônibus, metroviários e até aeroviários, uma vez que a paralisação desses serviços em várias capitais vai impedir deslocamento de pessoas de casa para o trabalho. E são justamente essas notícias que mais chamam atenção nas redes sociais. Por outro lado, diante dessa situação do transporte coletivo, as centrais sindicais e os movimentos sociais irão ter dificuldades para organizar grandes manifestações, e também porque o apoio ao movimento não ocorre apenas em torno das causas defendidas por essas entidades. 

Muita repercussão…

Conforme destaca a consultoria, há uma maioria silenciosa que usará o motivo da greve geral para expressar seu descontentamento com o presidente Temer. Nesse cenário, na ausência da presença estruturada do governo na defesa da reforma da previdência e trabalhista, o meio digital ainda faz uma contraofensiva – que só ganhou forças na noite de ontem. 

Desde o dia 22 até a noite do dia 24, foram publicados 53.179 tweets sobre a greve no Twitter e 298 artigos nos principais sites de notícia do País que juntos conquistaram 991.159 interações no Facebook, Linkedin e no público. “Diante do universo de informação produzida diariamente nas redes sociais no Brasil, esses números são de médio impacto, mas revelam a existência de uma propagação digital constante e consistente em torno da agenda do dia 28. Além da intensa atividade dos sites de oposição, as centrais sindicais também estão produzindo conteúdo e nos últimos dias integrantes da igreja católica, especialmente bispos do Norte e Nordeste, entraram no jogo”, aponta.

Por outro lado, para a Bites, a reforma da Previdência não deve ser a pauta que unificará os protestos. “Não há correntes de opinião estruturadas, por enquanto, capazes de repetir os atos de junho de 2013”. 

… mas uma virada final

O governo parece ter perdido a narrativa contra a greve ao não se posicionar mais fortemente. Mas, conforme aponta a Bites, os contrários à paralisação conseguiram arranjar um ponto de convergência: o prefeito de São Paulo, João Doria. Ontem, às 18h, ele publicou um vídeo na sua página no Facebook  convocando os funcionários do município ao trabalho e oferecendo os serviços do Uber e 99 Táxi para quem não conseguir se deslocar. “Entre os prefeitos das dez maiores cidades do País foi o único, até agora, a se posicionar sobre o assunto”, aponta a Bites. 

Às 13h, o vídeo de Doria beirava 2 milhões de visualizações e, o mais importante para
sua propagação nas redes sociais, quase 64 mil compartilhamentos. Até às 10h30, a iniciativa do prefeito havia alcançando 148 mil interações até agora, considerando as reações do seus seguidores. É a segunda melhor perfomance nos últimos dez posts publicados pelo
prefeito no Facebook. 

Assim, afirma a Bites, “Doria ocupa o espaço deixado aberto pelo presidente Michel
Temer e outras lideranças do governo,” No Twitter, considerando as últimas 24 horas, Doria ultrapassou por pouco (2.482 tweets com as palavras-chave Doria e greve) o presidente Temer (2.181 posts), que ainda não se posicionou de maneira mais assertiva sobre a questão.

A consultoria ainda aponta que, na comparação com outros políticos e sindicalistas que trataram do assunto, o prefeito de São Paulo está conseguindo amplitude nacional, traçando então um paralelo com o governador Geraldo Alckmin, padrinho político do prefeito. “O post de Doria no Facebook tem 47 vezes mais interações do que a nota de Alckmin na sua página afirmando que conseguiu uma liminar determinando que os sindicatos de rodoviários e
metroviários não entrem em greve total ou parcial”.

Além disso, a Bites apontou que há pessoas em várias regiões do País compartilhando o vídeo de Doria. Em 1.912 tweets, o sistema da consultoria identificou que 48% dos posts estão concentrados em perfis de São Paulo e Rio de Janeiro, sendo 36% em território
paulista. O restante dos tweets estão distribuídos em perfis de outras 155 cidades e estados. 

Veja abaixo o vídeo de João Doria que está gerando tanta repercussão:  

 Em meio a esse cenário de forte repercussão nas redes sociais, o governo monitorará de perto amanhã como isso se traduzirá em adesão popular ou contrariedade ao movimento.  O governo teme que, se a mobilização for muito grande, os deputados possam desistir de apoiar as reformas, por medo da pressão popular, em um cenário já desafiador.   

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.