Gilmar Mendes deixa “gostinho de vitória” a Lula e sinaliza “caminho do meio” no Supremo

Ministro antecipa posição e também aproxima voto de minerva, Rosa Weber, da mudança no entendimento da prisão em segunda instância

Marcos Mortari

O ministro do STF, Gilmar Mendes (Divulgação)

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SÃO PAULO – Com viagem marcada para Portugal, o ministro Gilmar Mendes antecipou seu voto na sessão em que o Supremo Tribunal Federal julga pedido de habeas corpus apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a iniciativa, o magistrado também aproveitou para antecipar a discussão da repercussão geral da decisão no caso específico, ampliando o debate para a questão mais ampla do início do cumprimento de pena após esgotados recursos da defesa na segunda instância.

Na avaliação de Roberto Dias, professor de Direito Constitucional da FGV-SP, a antecipação do voto de Gilmar Mendes abriu caminho para a ministra Rosa Weber, considerada voto de minerva nessa questão, apoie a aceitação do habeas corpus. Até o momento, há dúvidas sobre qual será a posição da magistrada no caso.

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“Gilmar antecipou o voto para, desde logo, dizer que o STF não está julgando somente o HC do ex-presidente Lula, mas a tese sobre a presunção de inocência”, afirmou o professor em entrevista à Bloomberg. “Isso permite que a Ministra Rosa Weber volte a votar como fez em 2009 para aceitar a prisão só após o trânsito em julgado”, complementou.

Com a ampliação do escopo do debate, a magistrada pode não seguir a atual jurisprudência. Ao fugir da discussão exclusiva sobre o caso de Lula, os ministros podem se debruçar sobre a volta ao entendimento da presunção de inocência anterior ao que foi gerado em 2016.

A despeito da tentativa do relator do caso, ministro Edson Fachin, de evitar que houvesse ampliação do debate, Gilmar Mendes conseguiu apoio nessa avaliação logo no início da sessão, o que pode ser decisivo para o resultado final.

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Além disso, em seu voto, Gilmar Mendes defendeu o cumprimento da pena após o julgamento de recurso especial no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Essa posição pode pavimentar um caminho do meio para os ministros que defendem o direito do réu recorrer em liberdade, mas também permite a execução da pena antes do trânsito em julgado.

A bola já havia sido cantada por ministros como o futuro presidente do STF, Dias Toffoli, e o decano da Corte, ministro Celso de Mello. Nesta primeira etapa da sessão, Lula sai com gostinho de vitória, mas ainda não há nada definido.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.