Financial Times: Dilma está para perder – mas não subestime a máquina do PT

"É improvável que o segundo turno seja simples. Está longe de ser garantido que Marina será capaz de transferir todos os seus votos para Aécio", afirma o jornal

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após dar pouco destaque para Aécio Neves (PSDB) depois da entrada de Marina Silva (PSB) na disputa eleitoral, o Financial Times destacou que o tucano entrou fortalecido na disputa para o segundo turno.

Ele ganhou 33,6% dos votos, bem à frente de sua mais alta posição nas pesquisas de véspera. Aécio entra na segunda rodada da votação com 8 pontos percentuais atrás de Dilma, que obteve 41,6% dos votos válidos ante expectativa de 46% da última pesquisa. 

“Com Aécio ascendente e Dilma descendente, os investidores não puderam conter o seu entusiasmo e a Bovespa subiu 7% na primeira meia hora do pregão”. Isso por que os analistas de bancos de investimento já estão vendo uma vitória para o tucano.

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Luciano Rostagno, do Banco Mizuho, destacou ao jornal que Aécio é capaz de unificar a oposição em torno de sua candidatura, especialmente em relação à Marina Silva (PSB) – favorita para ganhar há apenas algumas semanas. Assim, ele pode sair vitorioso em 26 de outubro.

Analistas do Banco Itaú concordam. “A questão importante agora é: quem os eleitores de Marina vão escolher, Dilma ou Aécio? Em um comunicado, após a eleição, Marina ainda não declarou apoio a ninguém, mas disse que ‘o seu programa é a base para qualquer diálogo’, que ‘sabemos que o Brasil sinalizou claramente que não concorda com o que está aí’ e que ‘70% dos eleitores querem mudar’. Sua eventual declaração de apoio a qualquer candidato será um evento-chave para os próximos dias”, afirma.

Mas o jornal britânico pondera: “é improvável que o segundo turno seja simples. Está longe de ser garantido que Marina será capaz de transferir todos os seus votos para Aécio”.

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“É claro que os eleitores querem mudar – os protestos de rua no ano passado e ascensão e queda meteórica de Marina falam sobre isso. É muito menos claro que tipo de mudança que eles querem”, afirma. Dilma vai argumentar que a melhor maneira de avançar para os eleitores é ficar com o que temos, afirma a publicação.

Aécio vai argumentar que o modelo de Dilma está quebrado e vai pedir uma revisão de políticas que não conseguiram entregar investimentos ou melhorias da produtividade,extremamente necessários, diz o jornal. Mas ele pode ter dificuldades em fazer políticas atraentes para o eleitorado, muitos dos quais têm uma aversão às reformas pró-negócios que ele defende. 

“Além disso, a campanha de Dilma mostrou que tinha garras no primeiro turno. Ela acusou Marina de querer entregar o banco central para as mãos de banqueiro – uma distorção escandalosa de seu plano para tornar o banco independente que foi tão eficaz como era enganosa. Se o que está sendo dito na mídia social é para ser acreditado, Aécio tem muito de sua vida privada que poderia ser usado pelo PT”, afirma o jornal.

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Porém, o PT não pode querer ir para esse campo. “O partido tem seus próprios problemas de reputação, como o recente escândalo de corrupção na Petrobras. E os ataques a Aécio podem ter menor efeito entre os eleitores do que seria de esperar. Mas os investidores não devem subestimar as máquinas de campanha do PT”, afirmou.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.