Explosões atrapalham planos de Bolsonaro e anistia pelo 8 de Janeiro, diz analista

Para Ricardo Ribeiro, das consultorias MCM e LCA, episódio pode ampliar "cansaço" de lideranças do chamado "centrão" com pautas ligadas à extrema-direita e reduzir espaço para perdão por atos golpistas de 2023

Marcos Mortari

Explosões em frente ao STF (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)
Explosões em frente ao STF (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

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As duas explosões registradas na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na noite de quarta-feira (13), devem trazer mais desgaste para a pauta da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, defendida por lideranças políticas conservadoras no Congresso Nacional. A avaliação é de Ricardo Ribeiro, analista político das consultorias MCM e LCA.

O episódio resultou na morte de um homem, apontado como autor do ataque. Segundo Boletim de Ocorrência da Polícia Civil, ele foi identificado como Francisco Wanderley Luiz, e seu corpo segue no local. Antes da explosão em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), o autor tentou ingressar no prédio da Corte. Ele teria lançado um explosivo embaixo da marquise do edifício, mostrado que carregava consigo artefatos a um vigilante, se deitado no chão e detonado um segundo explosivo em seu corpo.

Para Ribeiro, o caso, que traz de volta à tona os atos golpistas de quase dois anos atrás, deve reduzir o apelo da concessão de um perdão a envolvidos naquele emblemático episódio que culminou na invasão às sedes do Congresso Nacional e do Supremo. Ele destaca, ainda, o avanço de sentimento de “cansaço” entre lideranças do chamado “centrão” com pautas vinculadas à extrema-direita (como impeachment de ministros do STF, aborto e questões de gênero), que tende a se aprofundar com as explosões.

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O especialista acredita que, além de “dificultar bastante” a situação da proposta de perdão aos envolvidos no 8 de janeiro, o episódio de ontem também atrapalha os planos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de recuperar seus direitos políticos (ele segue inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral) e disputar o pleito de 2026.

“É exagero dizer que acabaram de vez com a possibilidade de aprovação da anistia. Mas as explosões certamente reduzirão bastante o apelo a favor da anistia junto à opinião pública e, consequentemente, a disposição dos políticos do centrão de comprar essa briga bolsonarista. Reduzirão também a possibilidade de Bolsonaro ser anistiado pelo Congresso”, afirmou em comentário distribuído a clientes.

Na avaliação de Ribeiro, ganha força com o episódio uma tendência de afastamento do “centrão” em relação a Bolsonaro ─ o que pode favorecer candidaturas alternativas, como um possível voo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

“O destino do centrão na disputa presidencial de 2026 ainda é incerto. Mas a tendência de se afastar do bolsonarismo favorece, em primeiro lugar, o projeto Tarcísio de Freitas presidente. Para Tarcísio, o primeiro obstáculo relevante à tentativa de chegar ao Planalto é Jair Bolsonaro e sua obstinação em ser candidato em 2026”, concluiu.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.