Eurasia: eleição reforça clientelismo e consolida partidos, mas pouco diz sobre 2026

Segundo a consultoria, “os resultados destacam uma consolidação contínua do sistema partidário brasileiro, sugerindo que partidos menores e menos bem-sucedidos perderão gradualmente influência"

Fábio Matos

Mesários em local de votação, perto de urna eletrônica. Foto: Agência Brasil
Mesários em local de votação, perto de urna eletrônica. Foto: Agência Brasil

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As eleições municipais de 2024 no Brasil, encerradas no último domingo (27), com a disputa do segundo turno em 51 cidades do país – das quais 15 capitais –, retrataram a força do clientelismo político e a consolidação de um quadro partidário que tende a ser cada vez mais restrito nos próximos anos.

Esta é a avaliação da Eurasia, uma das principais consultorias de risco do mundo, e está em um relatório da companhia divulgado nesta segunda-feira (28), dia seguinte ao fechamento das urnas.

De acordo com o relatório, “os partidos centristas e de direita focados na política do clientelismo tiveram um desempenho melhor nas eleições municipais, conquistando um número substancial de prefeituras, de assentos nas Câmaras Municipais e no total de votos”.

Por outro lado, aponta a Eurasia, “o Partido dos Trabalhadores (PT), no poder, e outros grupos de tendência esquerdista obtiveram ganhos limitados” no pleito deste ano.

Segundo o documento, “os resultados destacam uma consolidação contínua do sistema partidário brasileiro, sugerindo que partidos menores e menos bem-sucedidos perderão gradualmente influência nacional e localmente”.

“A política local deverá fornecer uma plataforma robusta para que os partidos clientelistas se tornem decisivos nas futuras eleições para a Câmara dos Deputados”, prossegue o relatório da Eurasia. “Qualquer administração eleita em 2026 dependerá deles para formar uma coligação e aprovar legislação, alavancando o patrocínio político”, diz a consultoria.

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Influência limitada para 2026

Ainda de acordo com os analistas da Eurasia, é precipitado interpretar os resultados das eleições municipais no Brasil como uma prévia do que pode acontecer daqui a dois anos, nas eleições gerais, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve disputar a reeleição.

A derrota retumbante do candidato de esquerda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Guilherme Boulos, em São Paulo, para o prefeito Ricardo Nunes, por quase 20 pontos, sugere problemas para o presidente? Por outro lado, será que o desempenho decepcionante dos candidatos do ex-presidente Jair Bolsonaro no segundo turno (apenas sete dos seus 25 candidatos prevaleceram) significa que ele não será o protagonista da direita em 2026 ou que os eleitores optarão por candidatos centristas? A resposta a ambas as perguntas é um enfático ‘não’”, afirma a Eurasia.

Segundo a consultoria, “as eleições locais dizem respeito predominantemente a questões locais – recolhimento do lixo, educação, segurança e serviços de saúde”.

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“Além disso, este ciclo eleitoral foi predominantemente influenciado pelas vantagens dos atuais mandatários. Os prefeitos se beneficiaram de um crescimento de rendimento real de dois dígitos, de contas fiscais locais sólidas e da distribuição de dotações orçamentais que levaram a investimentos públicos recordes e produziram as taxas de reeleição mais elevadas de sempre”, diz o relatório.

“Ser prefeito concorrendo à reeleição costuma ser uma tarefa desafiadora (eles estão na linha de frente dos serviços públicos), resultando em uma taxa histórica de reeleição de 59%”, destaca a consultoria.

“No entanto, este ciclo eleitoral rendeu uma taxa de reeleição de 82%, o que significa que oito em cada dez candidatos em exercício foram bem sucedidos no segundo turno. Os partidos de centro e de direita dominaram as eleições. O PSD, o MDB, a União Brasil e o Progressistas se destacaram, elegeram o maior número de prefeitos e obtiveram o maior número de votos”, prossegue o relatório.

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“O Partido Liberal, ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, também teve um bom desempenho, elegendo o quinto maior número de prefeitos e ficando em primeiro lugar no total de votos para prefeitos, apesar de uma ligeira queda na sua taxa de sucesso.”

A consultoria cita, ainda, o tímido desempenho do PT e de outros partidos de esquerda, que “obtiveram ganhos marginais”.

“Apesar de ligeiras melhorias na população governada, nas taxas de vitória e no total de votos em comparação com 2020, perdas notáveis ​​em áreas historicamente sob seu controle, como Teresina, capital do Piauí, e Araraquara (uma cidade de médio porte no estado de São Paulo), os deixaram desapontados”, diz o texto sobre o PT.

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“Eles conquistaram uma vitória importante no segundo turno ao vencer a capital do Ceará, Fortaleza, mas tiveram um desempenho geral ruim. No entanto, as expectativas eram muito baixas, visto que concorreram na oposição, e o palácio presidencial não deve reagir exageradamente a estes resultados As disputas locais não afetarão o tamanho dos cortes de gastos que Lula provavelmente anunciará em novembro”, concluiu a Eurasia.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”