Euforia com Haddad perde força no mercado em meio a ceticismo com política fiscal, mostra pesquisa

No mercado, apenas 5% acreditam que governo conseguirá cumprir a meta de zerar déficit primário em 2024

Marcos Mortari

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil).
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil).

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Pouco mais de duas semanas após o governo federal enviar o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024 ao Congresso Nacional, o otimismo de agentes econômicos com a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sofreu uma deterioração. É o que mostra nova rodada de pesquisa Genial/Quaest feita com integrantes do mercado financeiro.

O levantamento, realizado entre os dias 13 e 18 de setembro, apontou que, de julho para cá, caiu de 53% para 36% o grupo de entrevistados que esperam uma melhora da economia brasileira nos próximos 12 meses. O número, no entanto, segue 23 pontos percentuais acima do patamar observado em maio e 4 p.p. acima daqueles que hoje acreditam em uma piora.

O grupo dos mais pessimistas avançou de 21% para 34% nos últimos dois anos, enquanto os que não esperam mudanças significativas foi de 26% para 30%. Na primeira edição da pesquisa, realizada no terceiro mês do Lula III, havia apenas 6% de otimistas e 78% acreditando no pior.

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Para 72% dos entrevistados, a política econômica do Brasil está indo na direção errada ‒ uma piora de 19 p.p. em relação aos dados de julho, quando a distância para os que viam o país no caminho certo era de apenas 6 p.p. (53% contra 47%). O grupo dos satisfeitos com os rumos da economia brasileira agora representam 28% dos agentes consultados pela Genial/Quaest.

A pesquisa também mostrou que, de julho para cá, as avaliações positivas de Lula entre os agentes do mercado financeiro consultados recuaram 8 pontos percentuais, para 12%. Ainda assim, o resultado é muito superior ao registrado em maio (2%). Já as avaliações negativas, que haviam despencado de 86% para 44% em julho, agora respondem por 47% da amostra.

Já em relação ao desempenho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), as avaliações positivas, que superaram as negativas pela primeira vez em julho, recuaram de 65% para 46%. Com isso, a vantagem daqueles satisfeitos com o trabalho do chefe da equipe econômica do governo sobre os críticos recuou de 54 pontos percentuais para 23 p.p. no último levantamento.

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Ainda assim, o resultado pode ser visto com algum otimismo se comparado aos dados de março, quando avaliações positivas e negativas somavam, respectivamente, 10% e 38%.

Entre os motivos que explicam a piora na percepção dos agentes do mercado financeiro em relação ao governo Lula está a gestão das contas públicas. Para 57% dos entrevistados, falta ao país uma política fiscal que funcione ‒ dois meses atrás, 45% concordavam com essa avaliação.

Questionados sobre a chance de o governo cumprir a meta de zerar o déficit primário em 2024, conforme indicado nas peças orçamentárias em discussão no Congresso Nacional, 95% dos entrevistados respondem negativamente.

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Apenas 5% acreditam que o objetivo será alcançado, a despeito das sucessivas declarações de Haddad e da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB). Para que o Orçamento equilibrado se torne uma realidade já no ano que vem, o governo estima ser necessário gerar cerca de R$ 168 bilhões em receitas adicionais ‒ e a maior parte depende do aval dos parlamentares.

A pesquisa Genial/Quaest mostrou que, das novas medidas encaminhadas pelo governo para equilibrar as contas públicas, as ações vistas com mais chances de avançar no Congresso Nacional tratam da taxação dos fundos exclusivos (MPV 1184/2023) e da tributação de aplicações financeiras mantidas por brasileiros no exterior (PL 4173/2023).

Já o fim da dedutibilidade dos juros sobre o capital próprio sobre a base de cálculo do IRPJ e da CSLL (PL 4258/2023) é visto com mais dificuldades para avançar. Duas semanas atrás, em meio à percepção generalizada no mundo político de que o debate ainda não está maduro, o governo decidiu retirar pedido de tramitação sob urgência constitucional da matéria.

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O levantamento mostra, no entanto, que, mesmo se todas as medidas indicadas forem aprovadas pelo Legislativo, 86% dos agentes de mercado consultados acreditam que o esforço será insuficiente para garantir o equilíbrio das contas públicas.

Questionados sobre o que o governo deverá fazer se não conseguir aprovar as medidas que julga necessárias no parlamento, 53% acreditam que haverá uma busca por ações de efeito imediato para aumentar arrecadação. Outros 37% esperariam o abandono da meta de zerar o déficit primário, enquanto 10% apostam no aumento de alíquotas de outros tributos.

Para 53% dos entrevistados, a capacidade do governo Lula de aprovar sua agenda no Congresso Nacional é “regular”. Outros 27% avaliam como baixa, ao passo que 20% dizem que é alta. Um mês atrás, o último grupo chegou a superar o primeiro por 27% a 24%. A maioria dos agentes do mercado consultados (56%), porém, que o ingresso de indicados do Progressistas e do Republicanos para a Esplanada dos Ministérios deverá aumentar o capital político do Palácio do Planalto no parlamento.

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A pesquisa Genial/Quaest realizou 87 entrevistas com gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão de gestoras de fundos de investimentos com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre os dias 13 e 18 de setembro, através da aplicação de questionários online.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.