“Estão atirando na pessoa errada”, diz Belluzzo sobre Mantega

Um dos economistas mais influentes nos governos Lula e Dilma, Luiz Gonzaga Belluzzo defende a gestão Mantega e diz que falta interlocução política para destravar os investimentos

João Sandrini

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(SÃO PAULO) – Ao longo das últimas décadas, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo aproximou-se de vários partidos políticos. Foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (no governo do peemedebista José Sarney), é amigo do tucano José Serra, tornou-se um dos conselheiros econômicos mais ouvidos (e quase presidente do Banco Central) na gestão Lula e continua gozando de grande influência sobre a equipe de Dilma. Na economia, ao contrário, Belluzzo só tem um lado: o desenvolvimentismo. A também economista Maria da Conceição Tavares já chegou a descrevê-lo como um “heterodoxo convicto e radical”. As crenças do professor

da Unicamp e ex-presidente do Palmeiras não se abalaram em nada com o crescimento fraco da economia nos últimos dois anos, um período em que a ortodoxia andou em baixa na Fazenda.Para Belluzzo, o ministro Guido Mantega acerta ao adotar a flutuação suja do câmbio e metas menos rígidas para a inflação e o superávit primário. Ele admite que o crescimento fraco de 2012 foi gerado pela demora do governo em perceber que a expansão econômica passaria a depender menos do consumo e mais dos investimentos. Mas afirma que o principal problema é a falta coordenação política para negociar com empresários uma taxa de retorno adequada que desfaça o nó da infraestrutura. Para ele, o Brasil crescerá entre 2% e 3% neste ano “se o governo for rápido” em destravar os investimentos. Leia a seguir trechos* da entrevista exclusiva:

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LUIZ GONZAGA BELLUZZO – Desde 2011, venho escrevendo que a desaceleração iria ocorrer. Até 2008, o país vinha em uma trajetória de crescimento muito rápido do consumo e do investimento. Com a crise, o governo tomou as medidas adequadas e impediu que houvesse uma desaceleração prolongada por aqui. Depois veio o crescimento de 7,5% em 2010, que foi excepcional. À medida que foi se esgotando o ciclo de consumo, no entanto, a economia perdeu força. É natural. Uma mesma família não vai comprar três geladeiras nem cinco automóveis em um espaço de tempo tão curto

IM – O governo já entendeu isso?

LGB – Há um problema de coordenação dentro do governo para cuidar da infraestrutura. Mas esse não é um problema do Ministério da Fazenda, estão atirando na pessoa errada. É preciso criar uma espécie de grupo executivo para negociar as condições das concessões e acompanhar as obras.

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IM – Falta no governo Dilma alguém que seja o que a própria Dilma foi no governo Lula?

LGB – Quando a Dilma coordenava os projetos do governo Lula, a coisa andava direito. Como agora ela virou presidente, alguém precisa fazer essa coordenação com o empresariado e também com o Congresso. Não dá para destravar os investimentos de forma unilateral.

IM – As ministras Gleisi Hoffmann [Casa Civil) e Ideli Salvatti [Relações Institucionais] não deveriam assumir esse papel?

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LGB – Não acho que elas estejam fazendo isso. O José Múcio Monteiro [ex-ministro das Relações Institucionais] fez muito bem essa articulação do governo Lula com a Câmara e o Senado. Em relação aos empresários, por que a própria Dilma tem chamado pessoalmente eles para conversar? Acho que é para dar ao setor privado um sinal de que ela quer ouvi-los. O governo Lula fazia muito isso. O governo Dilma também precisa disso, a coisa não anda de forma automática.

*A entrevista completa está disponível na revista InfoMoney que está nas bancas. Para assinar a revista, clique aqui.

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