Em nota, CNBB repudia “exploração da fé” e fala em “manipulação religiosa” na campanha eleitoral

Atos religiosos “não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha”, diz entidade que reúne bispos da Igreja Católica

Fábio Matos

Disputa eleitoral teve grande influência no indicador neste mês

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Na véspera do feriado nacional pelo Dia de Nossa Senhora Aparecida, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota na qual repudia o que classifica como uma “intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno” das eleições deste ano.

De acordo com o texto divulgado pela entidade nesta terça-feira (11), “momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha e demais assuntos relacionados às eleições”.

“A CNBB condena, veementemente, o uso da religião por todo e qualquer candidato como ferramenta de sua campanha eleitoral”, diz a nota. O documento não faz qualquer menção específica a candidatos.

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A CNBB é uma instituição permanente que congrega os bispos da Igreja Católica no Brasil. Segundo o Código de Direito Canônico, os bispos “exercem conjuntamente certas funções pastorais em favor dos fiéis do seu território, a fim de promover o maior bem que a Igreja proporciona aos homens”.

No último domingo (1º), o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, participou de uma romaria fluvial em celebração ao Círio de Nazaré, em Belém (PA). A Arquidiocese de Belém, em nota, informou que não convidou “qualquer autoridade, seja em nível municipal, estadual ou federal” para participar da manifestação religiosa católica em devoção à Nossa Senhora de Nazaré.

A campanha de Bolsonaro ainda não confirma oficialmente, mas a tendência é que o presidente participe de uma das missas no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte (SP), na quarta-feira (12).

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Leia a íntegra da nota da CNBB:

“Lamentamos, neste momento de campanha eleitoral, a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno. Momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha e demais assuntos relacionados às eleições. Desse modo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamenta e reprova tais ações e comportamentos.

A manipulação religiosa sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com a verdade e com o Evangelho.

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Ratificamos que a CNBB condena, veementemente, o uso da religião por todo e qualquer candidato como ferramenta de sua campanha eleitoral. Convocamos todos os cidadãos e cidadãs, na liberdade de sua consciência e compromisso com o bem comum, a fazerem deste momento oportunidade de reflexão e proposição de ações que foquem na dignidade da pessoa humana e na busca por um país mais justo, fraterno e solidário”.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Além do InfoMoney, teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”.