Em editorial, The Economist pede que Dilma renuncie: “É hora de ir”

Revista britânica vê manobra para nomear o ex-presidente Lula ministro como um claro sinal de obstrução do curso da Justiça e diz que Dilma "escolheu os interesses estreitos de sua tribo política ao Estado de Direito"

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – As dificuldades da presidente Dilma Rousseff no comando do País têm se aprofundado cada vez mais. Se, a despeito da maior recessão desde 1930 — possivelmente fruto de decisões equivocadas em sua gestão — e com os avanços das investigações da Operação Lava Jato sobre nomes de destaque da base governista, o discurso presidencial era pela legitimidade dada pelas urnas um ano atrás e pela falta de indícios que sustente o impeachment, agora o cenário mudou. Essa é a avaliação que faz a nova edição da revista britânica The Economist. Desta vez, a publicação sugere que talvez seja a hora de Dilma deixar o cargo.

No editorial intitulado “Hora de ir: a presidente manchada deveria renunciar agora”, a revista diz que a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil poderia ajudar o governo a sobreviver às tentativas de se efetivar o impeachment e até trazer maior estabilidade para a economia. No entanto, ao lembrar do contexto em que a ação se deu, a publicação britânica aponta para uma “tentativa de obstrução do curso de Justiça”. Com o comando da pasta que trata da articulação política do governo, o ex-presidente fugiria das garras do juiz federal Sergio Moro para ser julgado no Supremo Tribunal Federal, graças ao chamado foro privilegiado.

“Mesmo se essa não foi sua intenção, esse seria o efeito. Esse foi o momento em que a presidente escolheu os interesses estreitos de sua tribo política sobre o Estado de Direito. Ela, assim, rendeu-se para permanecer presidente”, disse a revista. De todo modo, eles continuam defendendo que a ausência de prova de crime de responsabilidade torna o impeachment infundado, e que o pretexto da impopularidade poderia trazer precedentes perigosos. “Democracias representativas não deveriam ser governados por protestos e pesquisas de opinião”.

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Neste sentido, eles listam três caminhos que podem dar maior legitimidade à saída da presidente. A primeira ocorreria caso ficassem provadas as possíveis obstruções às investigações da Petrobras (PETR3; PETR4), conforme delatou o senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS). A segunda seria resultado da convocação de novas eleições, caso o TSE cassasse a chapa. A melhor e mais rápida opção, diz a revista, seria Dilma renunciar ao cargo antes de ser derrubada pelo Congresso.

“Sua partida ofereceria ao Brasil a chance de um novo começo. Mas a renúncia da presidente, por si só, não resolveria os diversos problemas brasileiros”, observa. Apesar de as expectativas serem por um governo Michel Temer de união nacional que promova as reformas necessárias para estancar o déficit fiscal, os editorialistas da The Economist lembram que o partido do atual vice-presidente também está profundamente relacionado ao escândalo do petrolão. Nem mesmo novas eleições dariam a garantia de um futuro mais promissor para o país.

Sobre os recentes episódios da Operação Lava Jato, a publicação ressaltou o grande crédito dos investigadores no processo de tirar a limpo as movimentações de poderosos empresários e políticos. No entanto, eles alertam para os recentes episódios em que Sergio Moro divulgou grampos envolvendo nomes que gozam de foro privilegiado — e até usou material gravado após a comunicação pelo encerramento das interceptações. “Isso não justifica as alegações dos governistas de que os juízes estão iniciando um “golpe”. Mas facilita a ação de suspeitos da Operação Lava Jato no sentido de desviar a atenção sobre seus deslizes ao apontar para os erros de seus perseguidores”, diz o editorial.

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Por fim, a The Economist destaca o fato de a atual guerra político-partidária ofuscar as origens antigas de desrespeito ao que está estabelecido na legislação do país. Para o Brasil superar as atuais diversidades, será necessário enfrentar essa realidade controlando gastos públicos, reformando leis trabalhistas e reconfigurando o sistema político. “Esses fatores não podem mais ser adiados. Aqueles que gritam “Fora Dilma!” nas ruas cantariam vitória se ela fosse deposta. Mas para o Brasil vencer esse seria somente o primeiro passo”, conclui.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.