E se… Temer assumir ou Dilma ficar: o que esperar do pós-pedido de impeachment?

Em entrevista ao InfoMoney, o cientista político Carlos Melo comenta sobre as incertezas que ainda pairam sobre o pedido e traça cenários do que esperar depois da tormenta: viria uma Dilma mais forte (no caso de não passar) ou uma nova agenda com Temer (se aprovado)?

Paula Barra

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SÃO PAULO – A guerra do impeachment começou com bate-boca e disputa jurídica nesta semana. Segunda-feira (4) os ânimos serão reaquecidos com a formação da comissão especial que discutirá o pedido, que ainda carrega nas costas grandes dúvidas e incertezas, que passam desde sua aceitação até sobre o que veremos no Brasil depois que esse processo acabar.

O desgaste do governo é grande, enquanto falta liderança política para assumir tanto um novo governo quanto segurar uma defesa pelo impeachment. As dúvidas caminham 50% a 50% até que os debates se iniciem e mostrem qual força prevalecerá: pró-impeachment ou a manutenção do governo.

Em entrevista ao InfoMoney, o cientista político e professor do Insper, Carlos Melo, disse que tudo vai depender de como o processo for levado e se ele ganhará força da população. Para ele, a reação do mercado ontem, quando a Bolsa chegou a disparar 4%, pode ter sido precipitada, “como quase tudo que o mercado faz”. “Os fatos precisam acontecer primeiro”. 

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Imaginar que tudo vá se resolver imediatamente com o impeachment é um erro, comenta. Há uma série de problemas e uma necessidade de um esforço muito grande para que os ajustes na área fiscal andem. “Pode ser que um novo governo coloque mais fortemente a necessidade de que o ajuste fiscal é inevitável. Mas ele sozinho não basta, precisa vir com uma estratégia de reformas de longo prazo”, comentou. 

Num possível governo do atual vice-presidente, Michel Temer, que assumiria o lugar de Dilma, caso o impeachment seja aceito, Melo aponta que as possibilidades ainda são muito incertezas, porque tudo vai depender do como o processo for feito. “Por enquanto ele não tem apoio no Congresso, mas essas lideranças surgem. O trauma do impeachment desperta novas necessidades e consciência do que tem que ser feito”, comentou. “É cedo para afirmar se ele terá apoio, até porque ele tem se resguardado. Nós não sabemos o que ele pensa”. 

Agora, no cenário de Dilma continuar, ele acredita que há duas hipóteses: “se ela não cair por sua própria força, ela se fortalece e pode partir para um ajuste mais profundo, porque, afinal de contas, está forte; agora se ela se estabelecer por um movimento do PT, porque foi ‘abraçada’ por setores da esquerda, talvez ela seja contestada e uma agenda mais rápida em prol do crescimento seja colocada por esses setores [minando esperanças de ajuste fiscal]”.

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Para ele, a maneira como se desenrolar o impeachment que vai definir isso. “Tudo vai depender do processo, ele ainda não está dado. Ele ainda nem começou. Os atores economômicos têm uma ansiedade danada de que essa coisa toda seja resolvida, mas ela não será rapidamente”.

Segundo ele, os motivos para questionar o pedido por Cunha ainda são vários, mas não se limitam a ele. Se o PT conseguir conduzir uma narrativa de que o impeachment é Dilma contra Eduardo Cunha [presidente da Câmara], a leitura será “mocinha contra bandido”, isso poderá enfraquecer o processo. 

Quando mais rápido sair o pedido, melhor para o PT, porque associa a imagem de Cunha contra Dilma. Já quanto mais longo for o processo, talvez fique mais evidente de que não é Dilma contra Cunha, mas um conjunto de questões que estão em jogo, comenta. Essa ideia de que o impeachment é golpe, não é constitucional, não é bem assim, explica. “De fato a presidência de Dilma é legitima, mas um governo não se basea só na legitimidade eleitoral. Você precisa de legitimidade eleitoral, governabilidade e credibilidade. E nessa trinca, Dilma só tem a legitimidade”. 

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Por enquanto, as incertezas ainda reinam, enquanto a crise de uma nova liderança política fica cada vez mais evidente. “A crise de liderança está muito presente nesse momento, não só para colocar uma agenda e convencer o eleitor do que deve ser feito, mas falta alguém para dar a cara ao impeachment”, complementa.

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