E se Bolsonaro sair do PSL? Entenda os riscos políticos com o movimento

A um ano das eleições municipais, presidente intensifica disputa com a cúpula pesselista e abre a possibilidade de mudar de sigla ou criar uma nova

Marcos Mortari

(Isac Nóbrega / PR)

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SÃO PAULO – O acirramento nas relações entre o presidente Jair Bolsonaro e a cúpula do PSL ampliou as discussões sobre uma possível saída do mandatário do partido e as consequências da nova novela que envolve o governo.

A situação se agravou depois que o comandante da sigla, o deputado Luciano Bivar (PE) — que preside a legenda desde 1998 — afirmou que a fala do presidente foi “terminal” e que ele “já está afastado”. As declarações foram dadas em entrevista à jornalista Andréia Sadi, do G1.

Em contraste com as declarações belicosas de ambos os lados, há uma série de riscos que envolvem a busca de Bolsonaro por um maior controle de sua base de apoiadores a um ano das eleições municipais.

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Apesar do papel relevante no crescimento do PSL na última eleição, Bolsonaro não tem influência proporcional no processo decisório no partido. O Diretório Nacional é composto por aliados de Bivar, que deverá ter posição decisiva na definição de candidaturas, estratégias e da distribuição de recursos no ano que vem.

De um lado, Bolsonaro poderia buscar o afastamento da crise dos laranjas, que ameaça abalar sua reputação junto à fatia mais fiel de eleitores, e construir uma base mais coesa. De outro, há riscos de aprofundamento na divisão da direita e mais turbulências na gestão da governabilidade.

Além disso, não há garantias de que a massa de parlamentares eleitos graças à onda bolsonarista no último pleito seguiria o caminho do presidente — sobretudo quando se considera que a nova sigla não contaria com estrutura partidária e acesso a recursos públicos. É a aposta dos pesselistas.

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Se a decisão for pela migração a uma sigla já existente, há risco de parlamentares bolsonaristas perderem o mandato.

O capital político de Bolsonaro e sua capacidade de ajudar na eleição de aliados, contudo, poderiam jogar a favor de uma adesão de políticos ao possível movimento.

“A decisão de Bolsonaro significa realmente o rumo a seguir da ala antiestablishment, olavista, e não o conjunto da nova direita no governo ou que ajudou a eleger ele. O deslocamento vai testar a força atual de Bolsonaro como pólo de atração ideológica”, observa Leopoldo Vieira, analista político da Idealpolitik.

Nos cálculos de bolsonaristas, o grupo contaria com cerca de 30 deputados da bancada de 54 parlamentares pesselistas na Câmara. Se as estimativas se confirmassem, a bancada seria a nona maior da casa legislativa, com 24 assentos a menos que a maior sigla, o PT.

Mas todo o recurso do Fundo Partidário continuaria com o PSL. A sigla deve receber cerca de R$ 103 milhões neste ano. Em 2020, a expectativa é que o montante chegue a R$ 360 milhões, sendo R$ 245,2 milhões do Fundo Eleitoral. Mesmo que a eventual migração não se confirme em grandes proporções, ainda há dúvidas sobre como se comportariam os remanescentes.

Os dados de votações na Câmara, no entanto, mostram que o conflito está visível muito mais na política partidária do que no cotidiano de votações do Congresso.

Segundo levantamento da XP Política, analisando 144 votações nominais neste ano, nas quais houve pelo menos 10% de dissenso, o PSL é o partido mais alinhado às orientações do governo. Em 98% das vezes em que votaram, os deputados do partido seguiram a indicação do Executivo.

Fonte: XP Investimentos

Para Carlos Eduardo Borenstein, analista político da Arko Advice, há uma tentativa de Bolsonaro em organizar um partido orgânico, que seja 100% fiel a ele. A avaliação é que a empreitada é arriscada, a despeito do peso político do presidente.

“O PSL não demonstra ter hoje um comando partidário, como tiveram PT e PSDB no auge, no sentido de ter uma disciplina interna. É bom frisarmos que esse movimento que acabou desaguando na eleição de Bolsonaro é muito fragmentado e heterogêneo. Não é uma operação fácil”, diz.

Caso a decisão seja realmente por uma nova legenda, o analista chama atenção para os riscos de disputas no bolsonarismo por posições de destaque no partido, o que pode dividir novamente a base e provocar atrasos na articulação em torno de agendas de interesse do governo.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.