Documentos mostram lobby de Lula para Odebrecht em Portugal e Cuba; ex-presidente nega

Jornal O Globo destacou telegramas em que Lula teria atuado para beneficiar a Odebrecht; assessoria do ex-presidente nega e diz que ele só recebeu por palestras

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em matéria deste domingo, o jornal O Globo relatou que telegramas diplomáticos trocados entre chefes de postos brasileiros no exterior e o Ministério das Relações Exteriores, entre 2011 e 2014, indicam que as atividades do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor do grupo Odebrecht no exterior iam além da contratação para proferir palestras.

Os documentos apontam que Lula, já ex-presidente, atuou em algumas ocasiões para beneficiar a Odebrecht. Os documentos apontam que Lula teria pedido para que o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, desse atenção aos interesses da companhia num processo de privatização. Em outra ocasião, o ex-presidente atuou na prospecção para aperfeiçoar a matriz energética cubana relacionada a Mariel, onde a empreiteira construiu um porto com recursos do BNDES. Ele, inclusive, foi recebido por Marcelo Odebrecht quando visitou o país, em junho de 2011. Outro telegrama revela ainda que Lula abriu as portas do BNDES ao governo do Zimbábue, país africano governado pelo ditador Robert Mugabe.

Os documentos foram liberados na última quinta-feira pelo Itamaraty a partir de pedido feito pelo jornal por meio da Lei de Acesso à Informação.

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Um dos exemplos foi a movimentação do ex-presidente a favor da Odebrecht em Portugal, relatada em dois telegramas. Em 25 de outubro de 2013, o embaixador brasileiro em Lisboa, Mario Vilalva, enviou comunicado abordando a visita de Lula a Portugal, ocorrida entre os dias 21 e 23 daquele ano. A visita se deu em razão de convite da Odebrecht, por conta dos 25 anos de presença da construtora brasileira em Portugal.

Menos de sete meses depois, em outro telegrama, Vilalva, fez uma análise sobre a privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF), que encontrava resistência por parte de alguns municípios portugueses. O diplomata observou que as empresas brasileiras Odebrecht e Solvi, em parceria com o grupo português Visabeira, demonstraram interesse pela EGF, e registrou a ação direta de Lula em favor da Odebrecht.“Repercutiu positivamente na mídia recente declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à RTP no dia 27/04 último, no sentido de que o Brasil deve se engajar mais ativamente na aquisição de estatais portuguesas. O ex-presidente também reforçou o interesse da Odebrecht pela EGF ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que reagiu positivamente ao pleito brasileiro”, informou o diplomata.

Lula, deu uma entrevista à televisão portuguesa e defendeu inclusive maior participação de empresas brasileiras nas privatizações conduzidas em Portugal — mas sem citar nenhuma empresa especificamente. A gestão a favor da Odebrecht, pelo que se depreende do comunicado emitido pelo diplomata, foi feita em caráter privado ao primeiro-ministro português. Quando foi enviado o telegrama, a Odebrecht era uma das sete que tinham manifestado oficialmente interesse no negócio. Dois meses depois, porém, a Odebrecht não formalizou proposta e a EGF foi vendida para outro grupo.

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O Instituto Lula negou que o ex-presidente faça lobby ou pratique tráfico de influênciaPerguntado se Lula havia recebido pagamento para fazer lobby para a Odebrecht, a assessoria negou. “Não. O ex-presidente não recebeu, não recebe e jamais receberá qualquer pagamento de qualquer empresa para dar consultoria, fazer lobby ou tráfico de influências”. E afirma que, no caso da Odebrecht, ele ganhou para fazer palestras.

“Como o documento mostra, ele comentou o interesse da empresa brasileira pela empresa portuguesa. Que, aliás, era público há muito tempo (…) São inúmeras as empresas brasileiras que acompanham com interesse o processo de privatizações em curso em Portugal”, afirmou o Instituto, sobre a questão de Portugal.

“O ex-presidente não recebeu, não recebe e jamais receberá qualquer pagamento de qualquer empresa para dar consultoria, fazer lobby ou tráfico de influências”. “As visitas a Cuba foram realizadas durante outras viagens do ex-presidente a países nos quais realizou palestras”.

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Na última semana, o Ministério Público Federal abriu inquérito para investigar suposto tráfico de influência internacional do ex-presidente Lula para favorecer a Odebrecht. A defesa do ex-presidente entrou na quinta-feira com pedido no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para suspender o inquérito.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.