Dilma não é mais favorita e Lula vem assumindo papel de tutor da presidente, diz analista

Analista político da MCM Consultores ressalta que as últimas pesquisas mostraram um desejo de mudança da população e destaca ainda o cenário econômico complicado para atual presidente; nestse cenário, Lula age como um tutor de Dilma

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A proximidade das eleições e um cenário que parece ser cada vez mais acirrado para a disputa eleva os nervos do mercado e movimenta a bolsa brasileira, que vem registrando fortes oscilações em meio às expectativas para as próximas pesquisas. O cenário que se aponta, ressalta o analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro, é que Dilma Rousseff já não é mais a candidata favorita e que o ex-presidente Lula vem assumindo cada vez mais o papel de tutor da atual presidente. 

Com a presidente Dilma Rousseff registrando queda em sua popularidade, o cenário que se desenha para a eleição presidencial de 2014 pode ser parecido com o de 1998, conforme ressalta o analista político. 

Ribeiro ressalta a manchete de 31 de maio de 1998 do jornal Folha de S. Paulo após a pesquisa Datafolha, segundo os quais a intenção de voto de FHC no primeiro turno havia caído de 41% para 34% e a de Lula subido de 24% para 30%, configurando-se empate técnico. A avaliação positiva do governo FHC, por sua vez, regrediu de 35% para 31%, o pior nível desde a sua posse, em um calvário que durou quase dois meses. Em junho daquele ano, FHC apareceu praticamente empatado com Lula, mas depois FHC apontou recuperação e foi reeleito no primeiro turno. 

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Neste cenário, o analista questiona: “Dilma Rousseff repetirá a trajetória de Fernando Henrique neste ano?”. Ribeiro ressalta que é impossível saber, destacando que as menções às oscilações das pesquisas de 16 anos atrás não reforçam a avaliação de que Dilma será reeleita, apesar das dificuldades de sua candidatura. Por outro lado, serve para destacar que a atual presidente está longe de ser uma “carta fora do baralho” da corrida presidencial, seja por que seria derrotada nas urnas, seja por que será substituída por Lula.

Ribeiro destaca alguns cenários que podem ser bastante relevantes para indicar a motivação dos eleitores frente à corrida presidencial. Em primeiro lugar, o eleitor mediano, mesmo sem estar muito contente com o atual governo pode, por falta de opção, votar em Dilma, motivado pelo receio de que os candidatos de oposição ponham em risco as conquistas sociais da era Lula.

Além disso, a vitória de Dilma no primeiro turno à sua derrota no segundo turno, para Campos ou Aécio, passando pela concretização do “volta Lula”, nenhum desses cenários merece ser prontamente descartado. Com isso, a mensagem principal é de que Dilma, “ao contrário do que vinha se afirmando, não é mais favorita”.

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Para isso, o analista utiliza a pesquisa do Datafolha do último dia 5 de abril, mostrando uma queda de seis pontos percentuais da intenção de voto na atual presidente. Vale ressaltar que ainda foram divulgadas novas pesquisas eleitorais, a maior parte delas mostrando a mesma tendência de queda nas intenções de voto da atual presidente. 

Com base nestes números, Ribeiro ressalta que o Datafolha reforçou o quadro de que a maioria do eleitorado quer mudança no governo federal, está insatisfeita com o desempenho da administração Dilma e pessimista em relação ao futuro. Isso porque 72% esperam que haja mudanças no governo federal, 65% acham que a inflação vai aumentar e 45% que o desemprego irá crescer. 

Em segundo lugar, predominam fatores negativos para o governo e a presidente. A inflação deve continuar em alta por mais um ou dois meses, com destaque para a elevação do preço de alimentos. O último relatório Focus elevou as projeções de inflação para acima do teto da meta, de 6,5%. 

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 Além disso, a julgar pelas contínuas revisões baixistas da previsão de crescimento do PIB feitas pelo mercado, a atividade deve esfriar um pouco daqui por diante, após os dois primeiros meses do ano relativamente positivos.

Enquanto isso, no campo político, o tropeço de Dilma nas pesquisas, além de acirrar o “volta Lula”, deverá reduzir a capacidade do governo de controlar sua base no Congresso. As polêmicas envolvendo a Petrobras (PETR3;PETR4) e a possibilidade cada vez maior de racionamento ainda este ano também podem afetar a presidente. 

Assim, o cenário é complicado para a presidente, aponta, e só não é pior do ponto de vista eleitoral pois não houve migração de votos para os principais candidatos de oposição: Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), sinalizando que os dois ainda não empolgaram os eleitorais, em parte porque são desconhecidos pela maioria dos brasileiros. Vale ressaltar que, conforme divulgado pelo Datafolha na última segunda-feira, entre os eleitores que dizem conhecer os candidatos, há praticamente um empate técnico entre Dilma, Aécio e Campos na preferência da população.

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Volta-Lula?
Ribeiro reforça a sua avaliação de que o clamor pelo Volta Lula à disputa eleitoral está mais quente do que nunca e que depende unicamente da vontade do ex-presidente mas, por enquanto, ele ainda está atuando para levantar Dilma e não para substituí-la. 

Como destaca Leonardo Trevisan, em carta de abril da consultoria Pezco Microanalysis, a economia deve ter um papel fundamental neste cenário, principalmente levando em conta as expectativas de inflação, o que “sugere que muita água correrá embaixo da ponte, antes de outubro”. 

Conforme ressalta o analista político da MCM, Lula está assumindo a condição de tutor de Dilma, fazendo críticas ao mesmo tempo que assegura a seus interlocutores que ela fará um governo melhor caso seja reeleita. “Resta saber se isso será suficiente para apaziguar o mau humor do empresariado, do mercado e de boa parte do eleitorado para com o governo Dilma”, afirma Ribeiro.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.