Depois da euforia do mercado, o ceticismo: afinal, o impeachment de Dilma esfriou?

Se as apostas de que Dilma fora do poder ganharam o mercado em boa parte do mês de março, um movimento de maior cautela está sendo vista agora em meio às últimas movimentações

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Que o cenário político vem sendo o grande vetor para o mercado brasileiro é algo que não é novidade para boa parte dos investidores. Após passar por eleições, crise política, decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) e diversas fases da Operação Lava Jato, março ficou marcado como o momento em que o impeachment da presidente Dilma Rousseff esteve mais concreto do que nunca, fazendo com que o Ibovespa subisse 16,67% e registrasse o melhor mês desde 2002. Em meio à crise econômica e o excesso de intervencionismo estatal, o mercado não vê com bons olhos a permanência de Dilma no poder, enxergando a possibilidade maior de uma “virada” com a chegada de um novo governante.

Com Lula mais fraco e o PMDB rompendo com a presidente Dilma, essa perspectiva atingiu o ápice durante o mês passado, com o impeachment sendo visto por muitos agentes de mercado como apenas uma questão de tempo. Contudo, depois da euforia, parece que o mercado passou a duvidar dessa aposta.

As notícias de que a presidente Dilma – em conjunto com o ex-presidente Lula – está se mobilizando para angariar apoio oferecendo ministérios para os partidos do chamado “centrão” repercutiram no mercado: PSD, PR e PSD podem ganhar espaço, além de partidos menores, que devem ser agraciados” em cargos de segundo e terceiro escalões. E esses convites já estariam surtindo efeitos, com bancadas de deputados mais inclinadas a votar contra o impeachment, enquanto vários jornais informam que o governo avalia ter condições de conquistar 190 votos para barrar o impeachment, enquanto o número necessário é de 171. O ex-presidente Lula teria se reanimado em barrar o impeachment, enquanto muitos – até mesmo da oposição – teriam visto que a decisão do PMDB de romper com o governo nesta semana e não mais perto da votação do impeachment foi um “tiro no pé”, já que permitiu ao governo se reorganizar.

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E isso afetou os mercados, como observado na última quinta, quando o índice caiu 2,33%, tanto por conta do cenário internacional quanto do político. “O desembarque do PMDB foi seguido por uma articulação forte do governo para ganhar a base. E o mercado acaba sempre reagindo à última notícia. O que tem no preço ainda é uma alta probabilidade de impeachment, mas a opinião da chance de sucesso varia dia a dia”, ressalta o gestor da Constância Asset, Cassiano Leme. 

O economista-chefe da Leme Investimentos, João Pedro Brugger, também ressalta a articulação de Lula em comparação ao relativo silêncio da oposição como um motivo para acreditar que as chances da presidente Dilma Rousseff sofrer um impeachment caíram substancialmente. “Está se aproximando do dia da votação e se fosse hoje, o governo teria plenas condições de vencer, mas até o dia 17 [possível dia da votação] tem muita água para rolar”, avalia.

Sem extremismos 
O analista político da Tendências Consultoria Rafael Cortez sugere ponderação sobre esse movimento: “o mercado tem visões extremistas sobre como ocorrerá o processo de impeachment, seja quando há sinais de que está ganhando força, quanto por sinais de que o governo conseguiu alguma mobilização, o que reforça a volatilidade. O timing da política é diferente do mercado”. 

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O impeachment, afirma Cortez, ainda não se materializou e deverá andar de forma não-linear, uma vez que o cálculo sobre os votos é cheio de nuances e incertezas. Ao mesmo tempo, a “imponderável” Operação Lava Jato leva a incertezas e choques para o sistema político, impactando de forma significativa a opinião pública, que pode ser determinante para o resultado final. Cortez ressalta que mobilizar dois terços – ou 342 votos – para o impeachment passar na Câmara não é algo trivial mas que as indicações, até agora, são de que esse seja o cenário mais provável. 

Cortez ressalta que há muitos fatores a serem considerados além do “peso da caneta” de Dilma Rousseff sobre maior ou menor chance de impeachment. A presidente está no cargo e, por isso, tem maior peso institucional para negociar cargos e já realizar diversas mudanças do que o vice-presidente Michel Temer, que não tem tamanho poder neste momento. Porém, isso não quer dizer que o peemedebista não esteja negociando. E os seus aliados nesta tarefa, caso dos ex-ministros Eliseu Padilha e Wellington Moreira Franco têm reconhecida habilidade nisso. 

Além disso, o fato da liderança de um partido decidir não apoiar o impeachment não quer dizer que a bancada de deputados como um todo seguirá a decisão. O PMDB, que rompeu com o governo mas tem deputados contra o impeachment e o PP, que segue na base mas possui parlamentares que pedem a deposição de Dilma, são exemplos claros disso. Desta forma, para que lado os “indecisos” devem ir e como eles mudarão a balança só deve ser conhecido por volta da segunda semana de abril, quando os parlamentares sentirão a temperatura das ruas e para que lado os outros deputados irão. Neste momento, a Tendências possui chances de 70% de interrupção do mandato de Dilma, não só pela via do impeachment, como também pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). 

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A consultoria de risco Eurasia, por sua vez, mantém probabilidade de 75% de Dilma não terminar o mandato. Para os analistas, a abertura do governo aos partidos de centro não vai salvar o governo, uma vez que eles devem manter suas opções em aberto até o voto do impeachment e dificilmente ficarão ao lado de Dilma. E, no caso improvável de o impeachment falhar, uma decisão judicial que estabelece novas eleições se tornaria mais coerente, disse a consultoria. Porém, eles ressaltam: “continuamos a acreditar que a Câmara vai votar para tirar Dilma no final de abril ou início de maio”. 

 Além disso, mais evidências contra eleições de Dilma devem aparecer com delações da Andrade Gutierrez e de Monica Moura, esposa do marketeiro do PT, João Santana, no âmbito da Lava-Jato, o que pode influenciar no processo que corre no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Neste caso, afetando tanto Dilma quanto Temer. Voltando à Lava Jato, a fase Carbono 14 deflagrada nesta sexta-feira, com a prisão do ex-secretário do PT Silvio Pereira e o empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC e da empresa Viação Expresso Santo André, mostram que o desgaste do PT deve continuar e afetar a negociação para salvar o governo Dilma. 

Assim, o cenário que se desenha é de bastante volatilidade para o mercado nos próximos dias, dependendo do noticiário e da percepção sobre se haverá ou não impeachment. Este mês mal começou, mas já promete ser de fortes emoções para os investidores, mais uma vez. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.