Delcídio e Esteves: quem são os dois protagonistas da Lava Jato desta 4ª?

Banqueiro e político estiveram no olho do furacão da Lava Jato e movimentaram os mercados

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O noticiário brasileiro esteve focado nesta quarta-feira (25) em apenas dois nomes: André Esteves, presidente do BTG Pactual (BBTG11), e o senador Delcídio do Amaral (PT-MS). Eles estiveram no centro dos debates após serem presos no âmbito da Operação Lava Jato. 

A PGR (Procuradoria-Geral da República) usou depoimentos da delação premiada do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró e do filho dele, Bernardo Cerveró, para pedir a prisão do senador, do dono do Banco BTG Pactual, além  do ex-advogado de Cerveró Edson Ribeiro e do chefe de gabinete do senador, Diogo Ferreira. 

Muito se falou no Brasil que os poderosos não poderiam ser presos mas, hoje, a indicação foi mais uma vez contrária, conforme destacou a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF). 

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 “Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a Ação Penal 470 e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre os juízes e as juízas do Brasil. Não passarão sobre novas esperanças do povo brasileiro, porque a decepção não pode estancar a vontade de acertar no espaço público. Não passarão sobre a Constituição do Brasil” “, afirmou a ministra.

Em meio aos novos tempos, o InfoMoney traça um perfil de Delcídio e Esteves. Afinal, quem são os poderosos que foram os protagonistas da Lava Jato nesta quarta-feira?

André Esteves
Carioca. Banqueiro. 46 anos e um workaholic reconhecido. Esteves costumava chegar à sede do banco, em São Paulo, às 8h00 e sair somente por volta das 22h00. O prazer pelo trabalho é tamanho que a sua semana começa no domingo à noite, quando muitas vezes se encontra com seus sócios para discutir os próximos passos para a semana. 

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Discreto com sua vida pessoal, esbanja agressividade em sua trajetória profissional. Não é ostentador, não está presente em badalações, não dirige carros de última moda, não frequenta diariamente caros restaurantes. Muitas vezes, o executivo almoça no próprio escritório. 

Nascido em família de classe média no Rio de Janeiro, Esteves formou-se em Matemática. Casado e pai, faz questão de levar seus filhos à escola, não toma bebida alcoólica. Comemora seus negócios com suco de laranja. 

Em 2008, Esteves, Persio Arida (ex-presidente do Banco Central do Brasil e agora presidente interino do BTG) e alguns sócios do Banco Pactual decidiram criar o BTG. O banco já existia com outros nomes e atribuições distintas desde 1983, quando nasceu como um banco de investimentos.

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Em 2009, em meio à crise econômica mundial, o BTG comprou o Pactual do UBS, para quem ele havia sido vendido três anos antes, por cerca de US$ 2,5 bilhões. O negócio era parte da estratégia para reduzir riscos do banco e fortalecer o capital, uma vez que o UBS foi bastante atingido pela crise. A partir de então, o banco passa a se chamar Banco BTG Pactual e tem Esteves como seu controlador.

Agressivo nos negócios, em 2010, Esteves fecha um acordo para aumentar o capital de seu banco em US$ 1,8 bilhão, com consórcios internacionais com investidores da Ásia, Oriente Médio, Europa e Américas.

Ele não parou por aí. Em 2011, passou a fazer fusões e aquisições e imprimir a sua marca. Segundo o ranking anual de fusões e aquisições da Thomson Reuters, o banco participou de 54 operações em 2011, somando cerca de US$ 24 bilhões.

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Após o negócio firmado em fevereiro de 2012 com o banco de investimentos chileno Celfin Capital, Esteves disse: ” Queremos ser referência para qualquer empresa, investidor institucional ou pessoa física que tenha interesse ou negócios na América Latina”.

Em 2014, a fortuna pessoal de Esteves atingiu US$ 4 bilhões – a 12ª maior do Brasil. Os seus negócios chamaram bastante a atenção, inclusive da imprensa internacional: a revista The Economist a perguntar chegou a perguntar em matéria se o significado da sigla BTG não deveria ser “Better than Goldman”. Ou seja, melhor que o Goldman Sachs, melhor e mais lucrativa instituição financeira do gênero no mundo.

Uma das suas espinhosas missões foi elaborar um plano de recuperação do grupo EBX, de Eike Batista, que deu bastante errado. Eike passou a desconfiar que o BTG estivesse mais disposto a encontrar melhores oportunidades para o grupo, enquanto o banqueiro se mostrava bastante frustrado com os resultados lentos, o que fizeram com que eles quebrassem a parceria.

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Agora, ele foi ao olho do furacão, desta vez por suas relações com Delcídio Amaral. Segundo o documento enviado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao STF, no qual faz o pedido de prisão dos investigados, a procuradoria diz que Delcídio tentou dissuadir Nestor Cerveró de aceitar o acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF), ou que, se isso acontecesse, que evitasse delatar o senador e também André Esteves. 

Em um trecho do processo, a PGR afirma que Delcídio ofereceu dinheiro para evitar a citação de seu nome nas investigações. “O senador Delcídio Amaral ofereceu a Bernardo Cerveró auxílio financeiro, no importe mínimo de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) mensais, destinado à família de Nestor Cerveró, bem como prometeu intercessão política junto ao Poder Judiciário em favor de sua liberdade, para que ele não entabulasse acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal”, diz a PGR.

O documento diz que o banqueiro André Esteves arcaria com o custo do auxílio financeiro e que parte desse valor seria justificado como pagamento de honorários advocatícios “a serem convencionados em contrato de prestação de serviços de advocacia entre André Esteves e/ou pessoa jurídica por ele controlada com o advogado Edson Ribeiro”. 

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Segundo a procuradoria, André Esteves tinha uma cópia de minuta de anexo do acordo de colaboração premiada assinado por Nestor Cerveró, “confirmando e ilustrando a existência de canal de vazamento na Operação Lava Jato que municia pessoas em posição de poder com informações do complexo investigatório”.

O texto da decisão de Zavascki, traz que na delação, Nestor Cerveró também citou Delcídio e Esteves. Segundo o ex-diretor da Petrobras, os dois teriam envolvimento em irregularidades na compra de sondas da Petrobras e na compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Cerveró disse que André Esteves, por meio do banco BTG Pactual, pagou propina ao senador Fernando Collor (PTB-AL) em um contrato para embandeiramento de 120 postos de combustíveis do BTG em São Paulo. Collor é investigado no Supremo sob a suspeita de receber vantagens indevidas em contratos da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras.

Confira a matéria de 2012 com o perfil do banqueiro – André Esteves, o banqueiro que está chegando à bolsa

Delcídio do Amaral
Já Delcídio do Amaral (PT-MS) tem vínculos bastante antigos com a Petrobras e as suas ligações com o Nestor Cerveró levam aos anos de 1990, quando ele chegou a fazer parte da Diretoria de Gás e Energia da estatal, no final do governo Fernando Henrique Cardoso. 

Engenheiro eletricista, participou da construção e montagem da Usina de Tucuruí, no Pará. Passou dois anos na Europa, quando foi diretor da Shell na Holanda. Em 1991, dirigiu a Eletrosul. Em março de 1994, ocupou a Secretaria Executiva do Ministério das Minas e Energia, até setembro. Foi também presidente do Conselho de Administração da Companhia Vale do Rio Doce. Foi ministro de Minas e Energia de setembro de 1994 a janeiro de 1995. 

Delcídio, petista que foi filiado ao PSDB entre 1998 e 2001, aproximou-se do PT no final daquele ano, tornando-se secretário de infra-estrutura do então governador do Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, e na sequência. Apoiado pelo governador, elegeu-se ao Senado em 2002 pelo PT.

Senador por Mato Grosso do Sul desde 2003, Delcídio era líder do governo e presidente da CAE (Comissão de Assunto Econômicos). Em 2005, ele ficou conhecido nacionalmente ao presidir a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos Correios, que apurou o mensalão. No ano passado, lançou-se candidato ao governo do Mato Grosso do Sul, mas foi derrotado por Reinaldo Azambuja no segundo turno. Em abril deste ano, foi escolhido líder do governo no Senado e no Congresso Nacional pela presidente Dilma, cargo este ocupado até a última quarta-feira (25).

Delcídio do Amaral é o primeiro senador preso no exercício do cargo, desde a redemocratização do País. Apesar da prisão autorizada pelo STF, o Senado ainda precisa confirmá-la, em até 24 horas, pelo voto da maioria de seus membros. Com a entrega, o primeiro vice-presidente da Casa, senador Jorge Viana (PT-AC), convocou uma sessão extraordinária para que o plenário analise o caso. 

(Com Agência Brasil) 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.