CPI da Pandemia: Renan Calheiros torna Queiroga, Pazuello e mais 12 investigados

Senadores "esvaziam" audiência com médicos defensores do chamado "tratamento precoce" e concedem coletiva para anunciar lista

Marcos Mortari

Os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) concedem coletiva de imprensa sobre a CPI da Pandemia (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

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SÃO PAULO – O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL), apresentou, nesta sexta-feira (18), uma lista de 14 pessoas que passarão à condição de investigados pelo colegiado.

Constam da relação o ministro da Saúde Marcelo Queiroga e seu antecessor Eduardo Pazuello, além do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fábio Wajngarten (veja a lista ao final da matéria).

“Em português claro, significa dizer que, em relação a essas pessoas, contra as quais já acessamos provas e indícios, precisamos mudar o patamar da própria investigação, transformando-os em investigados”, afirmou o parlamentar em coletiva de imprensa.

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Na avaliação de Calheiros, o movimento é positivo para a investigação, mas também para a segurança jurídica dos próprios investigados, que passam a ter direito a informações e acesso às provas e indícios juntados pela comissão parlamentar de inquérito.

Por outro lado, o relator reconheceu que a decisão poderá dificultar trabalhos envolvendo a realização de eventuais oitivas com investigados. O Supremo Tribunal Federal (STF) tem concedido a algumas testemunhas convocadas pela CPI o direito de permanecerem em silêncio no caso de perguntas que possam incriminá-las.

“Quando decidimos, coletivamente, não investigar ninguém no começo dos trabalhos foi exatamente para facilitar o depoimento dessas pessoas. Tomamos como critério para a definição da relação dos investigados o fato de já terem prestado depoimento à comissão parlamentar de inquérito”, justificou o senador.

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Alguns nomes, porém, ainda não foram ouvidos pelos senadores. É o caso de Francieli Fantinato, coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI); Arthur Weintraub, ex-assessor especial da Presidência da República; do empresário Carlos Wizard Martins; do virologista Paolo Zanotto; Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde; e do anestesista Luciano Dias Azevedo.

A lista já foi encaminhada ao presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz (PSD-AM). Como relator, Calheiros tem a função de elaborar o parecer final dos trabalhos da comissão, que tem prazo previsto de 90 dias (mas não está descartada eventual prorrogação).

A depender do rumo das investigações, Calheiros poderá encaminhar ao Ministério Público Federal pedidos de indiciamento ou, no caso de governos estaduais e municipais, remeter informações aos Legislativos locais.

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Eis a lista dos 14 investigados:

A inclusão de Queiroga na lista provocou divergência entre membros do chamado G7 – grupo de parlamentares titulares no colegiado de oposição e independentes em relação ao governo federal.

Para justificar o movimento, Calheiros chamou de “pífia” e “ridícula” a oitiva com o ministro, que, na avaliação do parlamentar, foi desmentido pelos fatos ao dizer que contava com autonomia no cargo.

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“Colocamos o ministro Queiroga, que é o atual ministro, que teve uma participação pífia, ridícula, aqui na Comissão Parlamentar de Inquérito no seu primeiro depoimento quando tentou dizer que teria autonomia que faltou a [Nelson] Teich e faltou a [Luiz Henrique] Mandetta e os fatos logo demonstraram o contrário”, disse.

O relator também justificou a inclusão do ministro pelo fato de ter adquirido lotes de vacinas por preço 20% mais caro do que contratos anteriores e ter defendido o uso de medicamentos para tratamento precoce da doença em diálogo com representante da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A coletiva de imprensa que marcou a apresentação dos nomes dos investigados foi realizada ao mesmo tempo em que a CPI da Pandemia ouvia os médicos Francisco Cardoso Alves e Ricardo Ariel Zimerman, defensores do tratamento precoce contra a Covid-19 com base no uso de medicamentos.

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Há uma preocupação de integrantes da comissão em não transformar o colegiado em palco para desinformação envolvendo a pandemia do novo coronavírus e o tratamento de infectados pela doença. Ao contrário de em outras oitivas, Renan Calheiros declinou do direito de fazer perguntas aos convidados e retirou-se da sessão.

Documentos sigilosos

Aos jornalistas, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, informou que foi retirada a classificação sigilosa dada a 2.200 documentos recebidos pelo colegiado. Segundo ele, são 1.636 arquivos do Ministério das Relações Exteriores, 97 do Ministério da Saúde, 445 documentos relacionados à crise da falta de oxigênio no Amazonas e 4 contratos da Fiocruz. Com isso, imprensa e sociedade terão acesso às informações.

“O entendimento desta comissão é que, embora estes documentos tenham vindo sob a alegação de sigilo, não cabe, conforme os termos da lei, esta classificação. Por isso, esta comissão parlamentar de inquérito, pelo voto da maioria dos seus membros, decidiu afastar o sigilo e eles já estão disponibilizados para todas as senhoras e senhores e para a sociedade brasileira. Não é aceitável em uma democracia que regras de transparência sejam subvertidas sob alegação de eventual sigilo”, argumentou.

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“A reclassificação dos sigilos, nas formas da lei, ocorre para que tenhamos, desta forma, não só o controle social da investigação, mas a participação social e da imprensa, sobretudo, no dia a dia da investigação”, disse Renan Calheiros.

“Estamos vivendo um momento delicado na vida nacional e respostas precisam ser dadas com relação ao número de mortes que poderiam ter sido evitadas desde que nós tivéssemos bom senso, racionalidade e não tivéssemos um presidente com essa pulsão de morte que temos no Brasil”, complementou.

Convocação de Facebook e YouTube

Os parlamentares também repercutiram as falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em live transmitida nas redes sociais na última quinta-feira (17). Na ocasião, o mandatário disse que a contaminação pelo coronavírus é “mais eficaz” que as vacinas em novo aceno à tesa da “imunidade de rebanho”, criticada por especialistas.

“Nós queremos reiterar a todos os brasileiros e brasileiras, em nome desta comissão parlamentar de inquérito: não ouçam o que diz o presidente da República. O senhor presidente da República tem o direito de falar a besteira que quiser. O que ele não tem direito é fazer declarações contra a ciência e atentar contra a vida dos brasileiros”, afirmou Randolfe Rodrigues.

O senador protocolou, nesta sexta-feira, requerimento para que a CPI da Pandemia convoque representantes do Facebook e YouTube – plataformas usadas por Bolsonaro para transmitir suas lives semanais.

“É necessário que os dirigentes dessas empresas no Brasil compareçam a esta comissão parlamentar de inquérito. Com muito menos, nos Estados Unidos, o senhor Donald Trump foi banido das redes sociais”, justificou. A expectativa é que o requerimento seja votado na próxima terça-feira (22).

O relator Renan Calheiros disse que o comportamento do presidente é “irresponsável, deslavado, criminoso, com o qual não podemos concordar”. Durante a coletiva de imprensa, afirmou que aguarda definições sobre as competências e os limites da comissão de inquérito e que, se possível, Bolsonaro será incluído à lista dos investigados.

“É uma análise que estamos refletindo, meditando, ouvindo as pessoas, conversando com as instituições. Se a comissão puder diretamente investigar o presidente, já que a vedação é para o não comparecimento para depor – não é uma óbvia vedação à investigação -, se a competência favorecer, eu queria de antemão dizer que nós vamos investigar sim”, disse.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.