Coletiva de Temer mostra Poderes alinhados, mas futuro da crise ainda depende de Calero

Para analista político, "coletiva de Temer necessita de duas validações para que possa ser instrumento definitivo de estancamento da crise"

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em meio a uma crise instaurada no Palácio do Planalto e os efeitos negativos gerados na opinião pública pela tentativas de parlamentares para que fosse aprovada no Legislativo uma anistia ao crime de caixa dois, o presidente Michel Temer convocou uma coletiva de imprensa juntamente com Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL) em uma tentativa de se construir uma agenda positiva ou ao menos limitar os estragos gerados pelo recente noticiário negativo ao governo. Foi anunciado neste domingo pelo trio que não prosperará nenhuma tentativa de se anistiar tais crimes eleitorais cometidos no passado.

“Verificamos que é preciso se atender à voz das ruas, o que significa reproduzirmos um dispositivo constitucional que diz: o poder não é nosso; não é nem do presidente da República nem do Senado nem da Câmara. É do povo. Quando o povo manifesta a urgência, ela há de ser tomada pelo Poder Legislativo e igualmente pelo Executivo”, afirmou o presidente.

O anúncio ocorre em um momento turbulento para o governo, após Geddel Viera Lima entregar o comando da Secretaria de Governo em meio a denúncias apresentadas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de pressão por interesses pessoais para a liberação pelo Iphan — órgão submetido à pasta da Cultura — na construção de um prédio em Salvador. Calero também acusa Temer de envolvimento nas investidas e diz ter gravado conversas com o peemedebista.

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Em resposta aos riscos oferecidos pelo agora ex-ministro da Cultura, o presidente chamou a possível gravação de suas conversas de “clandestina e ilógica”. “Gravar uma conversa clandestinamente é indigno. Um ministro gravar o presidente da República é gravíssimo”, afirmou Temer, que agora diz querer que os diálogos “venham à luz” o quanto antes para que a página seja virada o mais breve possível.

Análise
Para Richard Back, analista político da XP Investimentos, a coletiva de imprensa foi positiva para o governo, mas só na noite deste domingo será possível avaliar se as palavras proferidas foram suficientes. Conforme já adiantou o programa Fantástico, da Rede Globo, pelas redes sociais, Calero admitiu ter gravado o presidente, que, na sua versão, também teria tentado interferir no caso. O ex-presidente admitiu ter tratado do assunto, mas somente com a intenção de arbitrar o impasse entre os ministros. Não se sabe exatamente o que o ex-titular da pasta da Cultura afirmou ao programa televisivo, por isso as atenções do mundo político.

Para Back, “o recuo da política [no caso da anistia ao caixa dois] não causa o rompimento de Temer com a elite do Congresso, que entendeu o clima na sociedade contra as manobras de enfrentamento à Lava Jato, mas pode causar ruídos com o baixo clero, especialmente da Câmara. Rompimento, não. Isso só aconteceria se Temer vetasse a regulamentação do crime de caixa dois, o que ele sequer mencionou”.

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“De qualquer forma, a coletiva de Temer necessita de duas validações para que possa ser instrumento definitivo de estancamento da crise: 1) a entrevista de Calero ao Fantástico da TV Globo. Se ela for bombástica, a crise segue; 2) O teor das gravações, caso apareçam. Se elas revelarem apenas Temer mediando um conflito, sem sugestões muito heterodoxas, o impacto é um. Se Temer se envolveu mais que o recomendável com a disputa Calero x Geddel, aí a crise atual pode se arrastar”, complementou o especialista.

Apesar de o cenário até o fim do ano seja conturbado, Back ressalta o discurso alinhado de Temer, Calheiros e Maia. “É importante o governo entender que esta é a única saída consistente para que o Brasil — e a política — se recupere”, concluiu.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.