Bolsonaro pode ter hegemonia na direita ameaçada após ataques de 8 de janeiro, dizem analistas

Especialistas veem Bolsonaro como um dos principais políticos afetados pelos atos golpistas em Brasília e destacam emergência de outros nomes

Marcos Mortari

(Andressa Anholete/Getty Images)

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Nos Estados Unidos desde os últimos dias de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um dos atores políticos mais impactados pelos atos golpistas protagonizados por apoiadores seus em 8 de janeiro, na avaliação de analistas ouvidos pelo InfoMoney.

É o que mostra a 41ª edição do Barômetro do Poder, levantamento mensal com consultorias e analistas independentes sobre alguns dos principais temas em discussão na política nacional. Clique aqui para acessar a íntegra.

Segundo o levantamento, realizado entre os dias 17 e 19 de janeiro, 92% dos participantes avaliam que Bolsonaro saiu menor do que entrou no episódio. Considerando uma escala de 1 (muito prejudicado) a 5 (muito beneficiado), a média das avaliações dos especialistas sobre o saldo dos atos para o ex-presidente ficou em 1,69. Apenas um dos entrevistados acredita que o ex-presidente saiu como entrou.

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O resultado só não é pior do que o do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres e do governador local, Ibaneis Rocha (MDB), em um universo de dez nomes da política testados. O primeiro passava férias nos EUA no dia dos atos e acabou preso por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que entendeu que houve omissão das autoridades no episódio. Já o segundo foi afastado do cargo por 90 dias, também seguindo determinação do magistrado.

Do lado oposto, o Barômetro mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (4,38) e Alexandre de Moraes (4,31) são vistos pelos analistas como os atores políticos que saem mais fortalecidos pela sucessão dos eventos. Todos os entrevistados afirmaram que o mandatário saiu maior do que entrou. No caso do magistrado, foram 92%, sendo que ninguém viu perda de capital político.

Poucas horas após a invasão ao Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal pelos manifestantes, Lula já decretou intervenção federal sobre a segurança pública do Distrito Federal – decisão referendada poucos dias depois pelo parlamento.

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Já Moraes afastou o governador Ibaneis Rocha, determinou a desmobilização de acampamentos na porta de QGs do Exército país afora e avançou em investigações contra os envolvidos, autorizando uma série de prisões – decisões também apoiadas pelo pleno do Supremo. O magistrado também mandou prender Anderson Torres e Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar local.

O Barômetro do Poder também mostra que, entre os ministros do novo governo, a avaliação média dos analistas políticos é que Flávio Dino (3,69), comandante da pasta de Justiça e Segurança Pública, teve um leve ganho de capital político e José Múcio Monteiro (2,08), ministro da Defesa, sai do episódio menor do que entrou.

Também ganharam força após a sucessão de eventos, na ótica dos especialistas consultados, os comandantes dos demais Poderes. Para 54%, a ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal, cresceu. Outros 46% acreditam que a magistrada saiu da forma que entrou, sem prejuízos à sua imagem. A situação é similar à de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado Federal, que se fortaleceu, segundo percepção de 54%.

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Já o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), antigo aliado de Bolsonaro, ficou mais perto do “zero a zero”. Para 69%, o parlamentar não sofreu grandes mudanças em termos de imagem ou capital político. Outros 31% acreditam que ele também cresceu após a sucessão de acontecimentos.

“As instituições, que em parte até então subestimavam o potencial nocivo dos movimentos de caráter golpista que se exacerbaram no pós-eleição, estão dando respostas duras e necessárias às tentativas de rompimento da ordem democrática, e deverão continuar avançando nas responsabilizações, para que tais acontecimentos nunca mais se repitam”, observou um analista.

Esta edição do Barômetro do Poder ouviu 11 consultorias políticas: Control Risks, Dharma Political Risk & Strategy; Empower Consultoria; Eurasia Group; Medley Global Advisors; Patri Políticas Públicas; Ponteio Política; Prospectiva Consultoria; Pulso Público; Tendências Consultoria Integrada; e XP Política. E 3 analistas independentes: Antonio Lavareda (Ipespe); Carlos Melo (Insper); e Thomas Traumann.

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Conforme acordado previamente com os participantes, os resultados são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e dos comentários.

Clique aqui para ter acesso à íntegra do levantamento.

Liderança ameaçada

O Barômetro do Poder também mostrou uma percepção de ameaça à hegemonia de Bolsonaro no campo da direita. Embora 43% dos analistas consultados acreditem que o ex-presidente liderará as ações de oposição ao governo Lula nos próximos quatro anos, a maioria chama atenção para a emergência de outros nomes. Tal avaliação pode crescer, a depender de desdobramentos de ações que tramitam na Justiça, tanto do ponto de vista criminal quanto eleitoral.

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Entre os possíveis beneficiários de uma possível perda de espaço político para Bolsonaro, os mais lembrados são Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, e o senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que foi vice-presidente na última gestão. A dupla é citada por 36% e 16% dos analistas, respectivamente.

Já Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, foi apontado por 7%. O comando do estado mais populoso e com a maior economia do país costuma funcionar como trampolim para potenciais candidatos à Presidência da República em eleições futuras.

Nas últimas décadas, este foi o caso de Geraldo Alckmin (PSB), atual vice-presidente; e do senador José Serra (PSDB-SP). João Doria, último tucano eleito para o governo paulista, também ensaiou o movimento no ano passado, mas sofreu resistências dentro de seu próprio partido, o PSDB (do qual se desfiliou no ano passado), e acabou desistindo de disputar.

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O Barômetro do Poder também mostra uma piora nas percepções sobre a força de Bolsonaro na oposição ao governo Lula. De novembro para cá, caiu de 33% para 7% o grupo de analistas que classificavam como “elevada”. Por outro lado, aqueles que veem como “baixa” ou “muito baixa” saltaram de 41% para 57% no mesmo período.

Em uma tentativa de quantificar as avaliações, considerando uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a média das respostas sobre a força de Bolsonaro no enfrentamento a Lula ao longo da atual administração é de 2,43.

Ainda sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, que culminaram na invasão às sedes dos Três Poderes, o levantamento ouviu a avaliação dos especialistas sobre os riscos de episódios de violência política de alto impacto se repetirem nos próximos quatro anos e produzirem instabilidade ao país.

A maioria dos entrevistados (46%) aponta probabilidade moderada para tal evento, enquanto 38% veem chances baixas e 15%, elevadas. Considerando uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a média das respostas ficou em 2,77.

Um dos analistas do grupo mais pessimista, no entanto, fez um alerta: “O Golpe frustrado de 08 de janeiro foi apenas o primeiro ato violento, nesse mandato, da extrema-direita anti-sistema”.

Melhora institucional

O Barômetro também tem mostrado uma percepção de ambiente mais amistoso entre os Três Poderes desde a vitória de Lula nas eleições de outubro de 2022. Em agosto (último levantamento antes do pleito), ainda durante o governo Bolsonaro, 54% dos analistas políticos consultados consideravam “boa” a relação entre Executivo e Legislativo. Agora são 64%.

Para 64%, a relação entre os dois Poderes, a partir de 1º de janeiro (data em que os novos parlamentares assumem para a próxima legislatura), será melhor do que aquela mantida na gestão anterior. Ao todo, 71% dos entrevistados esperam capacidade elevada de o Palácio do Planalto aprovar proposições no parlamento. Cinco meses atrás, eram 40%.

O maior salto, no entanto, foi visto no caso do Poder Judiciário – principal alvo de Bolsonaro em embates, sobretudo a partir da segunda metade de seu mandato. Em agosto, 87% dos analistas avaliavam como “ruim” ou “péssima” a relação com o Executivo. Desde novembro os dois grupos somam 0% no levantamento. Já aqueles que avaliam a relação como “boa” ou “ótima” saíram de 7% para 100%.

Por outro lado, chama a atenção a percepção negativa dos especialistas sobre a relação entre Lula e as Forças Armadas em seu primeiro mês de governo. Este dado não possui série histórica no levantamento comparável ao governo anterior. Para 69% dos entrevistados em janeiro, o atual presidente mantém uma relação “ruim” com os militares, enquanto 8% classificam como “péssima”. Outros 23% veem a relação como “moderada”. Não foi coletada nenhuma avaliação positiva.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.