As 7 “palhas” que Temer já moveu para derrubar Dilma (e não reconhece)

Desde que Eduardo Cunha deflagrou o processo de impeachment contra a presidente, as ações do vice têm alimentado a crença de conspiração nos bastidores. Afinal, qual é o jogo de Temer?

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Na semana passada, as relações entre a presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, ganharam tom ainda mais frio, após o envio de uma carta vazada à imprensa e o encontro protocolar da dupla no Palácio do Planalto. Aos governistas, não restam dúvidas de que Temer oficializou seu rompimento e já opera para o caso de o impeachment ser bem sucedido e a presidência cair no seu colo. Ao comandante do PMDB e primeiro na linha sucessória de Dilma, resta o discurso de alguém magoado com a constante desconfiança e abandono no Palácio do Jaburu. Temer nega operar pela saída de sua companheira de chapa e diz ser vítima do processo.

Para entender um pouco melhor essa relação, o InfoMoney separou sete momentos em que o vice agiu ou participou de alguma forma de movimentos que favoreceriam a saída de Dilma. Confira:

1) Ausência em pronunciamento de Dilma
Poucas horas após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, decidir acatar o pedido dos juristas Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior pelo impeachment de Dilma Rousseff na quarta-feira passada, a presidente fez breve pronunciamento no Palácio do Planalto manifestando indignação com o processo e atacando o peemedebista. Na ocasião, estavam presentes 11 ministros de sete partidos. O vice Michel Temer preferiu acompanhar tudo à distância, do Palácio do Jaburu.

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2) Correção de boatos sobre apoio
Dois ministros importantes na comunicação do governo, Edinho Silva (Secretaria de Comunicação) e Jaques Wagner (Casa Civil), declararam que Temer ajudaria na construção da argumentação jurídica de Dilma em defesa contra o pedido de impeachment e que ele também não via nenhum lastro para o processo. O vice-presidente negou ambas as colocações da dupla petista, criando uma situação de versões conflitantes no alto escalão do governo federal. Os pronunciamentos de Edinho e Wagner foram lidos como gestos para constranger Temer a apoiar Dilma, aproximando-o da presidente em um momento delicado para ela e de distanciamento entre a dupla. Os receios de que o presidente do PMDB poderia conspirar para assumir o comando do país já vinham de outros momentos, quando Temer ainda era o articulador da política do Planalto com o Congresso.

3) Ausência em reuniões
O vice-presidente também ficou afastado de reuniões e encontros oficiais convocados por Dilma com ministros e políticos do chamado “núcleo duro” de articulação. Ao mesmo tempo, Temer tem mantido bom diálogo com alas opositoras, o que tem reforçado os temores do governo com eventual puxada de tapete.

4) Saída de Eliseu Padilha
Principal aliado de Temer no ministério, Eliseu Padilha abandonou, em 4 de dezembro, o comando da pasta da Aviação Civil. A movimentação do político gaúcho, que chegou a ser um dos nomes de importância do governo na articulação política com o parlamento, foi lida como um sinal de alerta, que poderia indicar uma intensificação nas articulações de bastidores do vice pelo impeachment de Dilma. O argumento dado por Padilha para a ruptura foi a rejeição injustificada por parte da Casa Civil de uma indicação que havia feito para a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

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5) Carta a Dilma
Na última segunda-feira (14), Temer enviou uma carta em caráter privado à presidente Dilma Rousseff, que acabou vazada à imprensa por agente desconhecido. No texto, o vice faz um desabafo sobre a forma como tem sido tratado por sua companheira de chapa e manifesta profundo descontentamento com seu escanteamento da gestão. “Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos”, escreveu Temer. “Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo”, complementou o presidente da sigla. A carta foi entendida como mais um sinal de desembarque de Temer, sobretudo quando se leva em consideração o temperamento moderado do vice. A relação entre ambos parece ter atingido um limite.

6) Diálogos nos bastidores com opositores
Como político articulado que é, Temer mantém conversas com aliados e opositores ao governo. Recentemente, o vice intensificou diálogos com grupos pró-impeachment de Dilma. A ideia seria mostrar-se viável aos principais grupos políticos em troca de apoio. O sucesso de eventual governo seu depende dos apoios que costurar agora, tendo em vista o elevado grau de fragmentação do Congresso e o nível da crise econômica enfrentada pelo país.

7) Derrubada de Picciani da liderança do PMDB
Deflagrado o processo de impeachment, coube aos líderes das bancadas fazerem as indicações de seus representantes para compor a comissão mista. O comandante do PMDB na Câmara ameaçou apresentar oito nomes governistas e provocou uma forte rebelião no partido, que já estava dividido sobre a saída ou permanência de Dilma na presidência da República. O resultado disso foi a apresentação de uma chapa alternativa, que se saiu vencedora nas eleições secretas em plenário da casa – manobra de Cunha que ainda está sob análise do Supremo Tribunal Federal. Após a suspensão da corte, outra ofensiva da ala opositora do PMDB derrubou o líder Leonardo Picciani (PMDB-RJ), aliado de Dilma com quem a reforma ministerial havia sido costurada, e elegeu Leonardo Quintão (PMDB-MG). O movimento se deveu à coleta das assinaturas de mais da metade dos parlamentares do partido. Picciani ainda tenta se organizar para retomar o posto, mas suas principais esperanças foram frustradas por sinalizações do próprio presidente da sigla, Michel Temer.  Fazia parte dos planos do carioca, além de trazer de volta para a casa deputados afastados que hoje ocupam cargos em secretarias na prefeitura e governo do estado do rio, a filiação de parlamentares de outros partidos – iniciativa que já foi barrada por Temer. Além do vice, parte dessa vitória da oposição também é atribuída a operações de bastidores de Eliseu Padilha.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.