Arko: “Dilma tem uma agenda muito complexa – e ainda não apresentou habilidade política”

Em evento realizado pela BR Insurance, analista da Arko Advice Murillo de Aragão ressaltou que a presidente enfrenta "herança política" de seu próprio governo e ressaltou que papel de Lula no segundo mandato será maior e ressalta que o ex-presidente está preocupado

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em evento promovido pela Brasil Insurance na tarde desta segunda-feira (10), o cientista político e fundador da Arko Advice Murillo de Aragão analisou o cenário para a presidente Dilma Rousseff (PT) após a sua reeleição. O analista ressalta que a presidente enfrenta três “heranças malditas” – as questões política, econômica e o escândalo na Petrobras – de seu próprio governo e, a princípio, ela não parece ter como mudar essa situação.

“É uma agenda muito complexa para quem ainda não apresentou habilidade política para tanto”, afirma Aragão, que contrasta a situação com a observado pelo seu antecessor, o ex-presidente Lula, que sempre conseguiu o diálogo. O analista político ressalta que é muito difícil governar do “jeito Dilma” em um País onde a busca é sempre pelo consenso. Porém, mais no longo prazo, espera-se uma Dilma pelo menos um pouco mai spragmática: “tendo feito tudo de errado, ela terá que fazer a coisa certa”, afirmou. 

Ele ressalta que o Brasil vive a “lógica de Lampedusa (escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa)”, que havia destacado única mudança permitida é aquela sugerida pelo príncipe de Falconeri: “tudo deve mudar para que tudo fique como está”. E isso pode não acontecer no governo Dilma, dada a “rebelião” da base aliada. 

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“A herança é realmente maldita para Dilma”, afirma Aragão, ressaltando que ela, no primeiro momento, terá que isolar os problemas políticos dos econômicos. E ressalta que as sinalizações são de que o antecessor de Dilma, o ex-presidente Lula, “está bastante preocupado” com estas três questões. Mesmo que ele não seja o nome de 2018, o ex-presidente terá um papel mais ativo no segundo mandato de Dilma do que no primeiro: “se arrependimento matasse, Lula já estaria morto. Dilma acabou enfraquecendo o lulismo e não colocando nada no lugar. Dilma não conseguiu repor o software de governabilidade de Lula”. 

Desta forma, o ex-presidente passou três dias com Dilma para discutir o nome do ministério da Fazenda e também falou com prefeitos de diversas cidades. “O Lula atuou em diversos lugares e Dilma deve a ele está eleição. Aliás, Dilma deve à vitória ao João Santana [marqueteiro de sua campanha] e ao Lula”. 

Por outro lado, os “temores de que Dilma transformaria o Brasil em Venezuela” não vão se concretizar, afirma, uma vez que as instituições brasileiras são bem mais fortes.

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Enquanto isso, a oposição está mais fortalecida, uma vez que “Aécio se saiu muito bem como candidato, surpreendentemente”. Isso porque, em setembro, ele estava bastante desacreditado e com baixo índice de intenção de voto. Aécio foi beneficiado pela estratégia do PT de que “seria mais fácil ganhar do tucano, mas quase perdeu”. “Agora, a oposição se descobriu oposição depois de onze anos e meio sendo uma oposição fraca. A oposição ganhou musculatura, enquanto a situação perdeu musculatura”. Aragão ressaltou ainda que o Brasil não está dividido em dois, mas sim em três, afirmando que além dos que votaram em Aécio ou em Dilma, com a soma de abstenção, brancos e nulos chegando a 27,70% dos votos. 

Confira as três “heranças malditas” que Dilma terá que enfrentar – do seu próprio governo. Confira abaixo:

1 – Questão política: este é um dos principais problemas que Dilma terá que enfrentar e que foi fruto da sua falta de diálogo em seu primeiro mandato. O problema tem como cerne principal a sua própria base aliada, ressalta o analista, destacando que foi ela que barrou na Câmara o decreto sobre os conselhos populares

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Ele lembra ainda que, apesar de maior, a bancada de Dilma na Câmara foi a que teve menor adesão em comparação com o governo Lula. Além disso, o governo corre o risco até do governo não passar pela Lei de Responsabilidade Fiscal. 

Dilma, ressalta o analista, não sabe lidar com as nuances do processo político brasileiro. Porém, ela pode abrir ao diálogo para falar sobre isso. 

2 – Herança fiscal e econômica: este é um dos problemas mais evidentes no Brasil. Inflação em alta, crescimento baixo, necessidade de ajustes fiscais, entre tantos outros, são desafios que a presidente terá que enfrentar. “O governo precisa dar um choque de credibilidade”.

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3 – Petrobras: o caso Petrobras pode devastar o processo político, afirma Aragão. Se as denúncias fossem comprovadas, o Brasil pode estar perto de uma operação como as “Mãos Limpas” na Itália, que visava esclarecer os casos de corrupção no país durante a década de 1990 na sequência do escândalo do Banco Ambrosiano, o Banco Vaticano e a loja P2.

Aragão ressalta que o importante é que se crie um ambiente de maior credibilidade econômica e desta forma, elas se isolem das turbulências políticas. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.