Após ameaças a ‘plano B’, caminho do PT é apoiar Ciro Gomes?

Partido tem cenário cada vez mais incerto caso Lula seja impedido de participar da corrida presidencial

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A deflagração da Operação Cartão Vermelho, pela Polícia Federal, atingiu em cheio uma das principais opções do PT para as eleições presidenciais caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja impedido de participar da disputa. O ex-governador da Bahia Jaques Wagner é apontado em inquérito como destinatário de R$ 82 milhões em propinas e caixa 2, desviados de obras no estádio da Fonte Nova, em Salvador.

Ainda é cedo falar em inviabilização do “plano B”, mesmo porque o próprio partido evita falar em alternativas à candidatura de Lula. O discurso oficial é que o nome do ex-presidente será levado ao pleito até as últimas consequências. De qualquer forma, com a notícia da última segunda-feira, já se especulam os impactos sobre as estratégias petistas e as próprias movimentações dos demais partidos da esquerda, uma vez que as chances de Lula participar da disputa são sabidamente cada vez menores.

“O PT está em uma encruzilhada, porque todos os sinais vão na direção de dificuldades jurídicas para a candidatura do ex-presidente Lula, que, se confirmadas, podem atrapalhar o desenho eleitoral do partido”, afirmou o analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.

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Muito além do que oferecer ao ex-presidente um novo flanco para se defender dos processos que responde na Justiça (pela via política), a insistência na candidatura de Lula também corresponde a estratégia interessante ao PT neste momento. Isso porque qualquer nome alternativo hoje tem dificuldades em pontuar nas pesquisas de intenção de voto.

Segundo o mais recente levantamento feito pelo instituto Datafolha para a corrida presidencial, Lula lidera em todos os cenários em que seu nome é avaliado, com uma faixa entre 34% e 37% das intenções de voto. Já seu ex-ministro Jaques Wagner, na condição de substituto como representante do PT na disputa, pontuaria apenas 2%.

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Evidentemente, esse número cresceria caso o ex-governador baiano fosse confirmado candidato e seu nome começasse a aparecer mais no noticiário, nas pesquisas e em campanhas. Ainda assim, ainda não se sabe o seu real potencial de competitividade. Além disso, dado o histórico dos últimos anos e a força gravitacional construída por Lula, o partido apresenta grandes dificuldades de trilhar caminhos distintos aos de seu maior líder.

Por essas e outras razões, mais interessante ao PT seria manter Lula como candidato oficial pelo máximo de tempo possível, o que aumentaria sua capacidade de transferência de votos, além de facilitar na construção de um discurso de perseguição política junto ao eleitorado — mais efetivo na conquista de algumas vitórias, sobretudo no que diz respeito à construção de uma sólida bancada no Legislativo ou ao menos evitando uma dramática erosão dos atuais números, como se observou nas eleições municipais.

“A defesa da candidatura de Lula hoje é um ponto de coesão na esquerda e bandeira que dá relevância ao partido”, explicou Cortez. “A luta pela candidatura de Lula vai ser um dos elementos que ajudarão a dar peso político para a legenda”. Sendo assim, qualquer movimentação que empurre o partido ainda mais para a antecipação de um “plano B” seria prejudicial à sua competitividade no curto prazo. Seria este o caso de eventual prisão, sobretudo se prolongada.

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Como as principais lideranças do partido se recusam a tratar publicamente do assunto, o cenário para uma alternativa à candidatura de Lula ainda é incerto. Hoje, além de Jaques Wagner, um dos principais nomes ventilados é o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que atua na coordenação do programa de governo do ex-presidente.

Assim como no caso do ex-governador baiano, a candidatura de Haddad é vista com ceticismo, tendo em vista a baixa pontuação nas pesquisas, algumas críticas à sua imagem em segmentos da própria esquerda e a existência de um indiciamento pela PF pelo crime de caixa 2. Além disso, soa estranho na política que um prefeito derrotado em uma disputa pela reeleição seja alçado à corrida presidencial.

Outro cenário possível envolve a adbicação de uma candidatura própria pelos petistas, que apoiariam uma das candidaturas lançadas pelos partidos de esquerda. Embora a probabilidade seja remota, o nome mais cotado neste caso seria o de Ciro Gomes (PDT), que ensaiou uma aproximação com Haddad, mas também duvida do movimento petista em favor da aliança.

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Mas, se há dúvidas sobre a competitividade de outros nomes petistas e levando-se em consideração que as novas regras para as eleições exigirão maior habilidade na distribuição de recursos pelos partidos entre campanhas majoritárias e proporcionais, não seria mais sensato ao PT apoiar um nome na disputa presidencial e concentrar os esforços em disputas mais favoráveis? — ou que ao menos garantam um posto relevante na próxima legislatura. Em suma, por que o partido não decide apoiar Ciro Gomes e concentra forças na eleição de uma expressiva bancada no Congresso?

Como dito anteriormente, este cenário não está descartado, embora hoje seja improvável. Na avaliação de Cortez, um cálculo político pode ajudar a responder essa questão. “Apoiar outro candidato não é o melhor cenário para o PT, porque eventualmente isso tira o protagonismo da legenda no âmbito das esquerdas, perdendo o status de maior rival do atual governo e da direita”, observou.

“Parece-me que a participação em eleição presidencial é um grande elemento de força no sistema político brasileiro. A candidatura presidencial dá um status especial aos partidos”, complementou. Na prática, o PT corria o risco de perder a supremacia da esquerda brasileira, de sorte que quaisquer arranjos seriam insuficientes para compensar.

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Para o analista político, os interesses gerais da esquerda e do PT são conflitantes neste ponto. “Do ponto de vista da esquerda, o melhor cenário seria o da união em torno de uma única candidatura. Em uma situação de ausência de Lula, o mesmo cenário de fragmentação da direita se transporta para a esquerda”, observou. Contudo, o PT não estaria disposto a abrir mão de ter um representante na disputa ao Palácio do Planalto. “Do ponto de vista do PT, o idela seria o partido construir um nome”. A ver quais serão os próximos passos.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.