Ao FT, Meirelles critica desenvolvimentismo do Dilma I e vê mudança de rumo como positiva

Ex-presidente do Banco Central no governo Lula destaca que, apesar dos bons resultados obtidos nos primeiros anos do governo Lula, a política econômica foi substituída; agora, houve nova mudança

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em artigo para um caderno especial sobre o Brasil do Financial Times, o ex-presidente do Banco Central durante o governo Lula, Henrique Meirelles (e que já foi cotado para muitos cargos do governo Dilma Rousseff, mas sem assumir nenhum) destacou o cenário econômico atual do País com referências ao contexto histórico. Ele citou desde a década de 1970 e o boom econômico, a estabilização em 1994 e a crise no final da década até chegar aos dias atuais. 

Ao relatar o ano de 2002, Meirelles destacou que o Brasil iniciou o período com uma economia frágil em meio à perspectiva de uma vitória do PT – fatores que contribuíram para uma moeda em queda, alta da inflação e também para uma crise fiscal de grandes proporções. O PT assumiu o poder em 2003, relata o ex-presidente do BC, e surpreendeu ao nomear uma equipe econômica conservadora. “Esta equipe, da qual eu fazia parte, começou o processo de ajustes fiscal e monetário que levou à queda da inflação e definiu uma queda da dívida pública. Os níveis de confiança aumentaram e permitiram que o Brasil crescesse a taxas elevadas de novo, com base em disciplinas fiscal, monetária e de crédito que estiveram ausentes durante o ‘boom’ da década de 1970”.

Contudo, ressalta o ex-presidente do BC, apesar dos bons resultados, esta política econômica enfrenta forte oposição por causa de uma visão macroeconômica intervencionista, “conhecida no Brasil como ‘desenvolvimentismo'”.

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“Esta visão, que ainda prevalece em vários países e importantes setores da América Latina, consiste na crença de que o Estado deve desempenhar o papel principal na economia e deve estimular o crescimento através da expansão monetária e fiscal forte, ao lado de intervenção nos preços. Aplicou-se para o Brasil com a eleição da presidente Dilma Rousseff em 2010. Dilma aplicou a “nova matriz econômica” que envolveu queda artificial das taxas de juros, o expansionismo fiscal, limitando a taxa de retorno para os investimentos privados em infraestrutura e fixando a preços baixos os valores da gasolina e eletricidade”, destaca Meirelles. 

Assim, destaca, os resultados foram o oposto do que foi desejado e o crescimento do PIB, que atingiu 7,5% em 2010, começou a declinar, “retornando aos níveis medíocres dos piores momentos da história econômica do Brasil”.

“Intervencionismo, juntamente com políticas que incentivam a demanda e o consumo, mas negligenciadas do lado da oferta, com investimento reduzido, aumento da inflação e fragilidade fiscal, gera muita incerteza”, ressaltou.

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Assim, ressalta Meirelles em seu artigo, Dilma enfrentou grandes dificuldades nas eleições de 2014, sendo reeleita por uma margem estreita. Estas dificuldades levaram com que ela mudasse a política econômica e volte para o que foi implementado na última década, destacando que Dilma nomeou um ministro da Fazenda conservador [Joaquim Levy] para o segundo mandato e que o BC está fazendo esforços para alcançar a sua meta de inflação, o que deve levar a uma contração econômica de mais de 1% este ano. 

“No entanto, a confiança no ajuste fiscal e da retomada do crescimento está sendo restaurada. Essa confiança vai estimular o investimento e colocar o Brasil de volta em uma trajetória de crescimento”, afirma. E, ressalta, o Brasil conseguiu manter um forte mercado interno que fornece a escala para os investimentos, além de possuir uma dívida pública ainda a um nível razoável, com quase US$ 400 bilhões de reservas internacionais, além de estabilidade política e instituições fortes.

“A expansão do PIB durante a próxima década é provável que seja moderada, mas o Brasil tem desenvolvido as condições para promover reformas fiscais e trabalhistas, melhorar o ambiente de negócios, e facilitar investimentos privados em infraestrutura. Estas reformas vão criar as condições para que o país cresça novamente a taxas mais elevadas. E se elas não forem concluídas por este governo, o próximo vai herdar as bases para realizá-las, permitindo ao País crescer a taxas compatíveis com o potencial do Brasil. As condições políticas já estão em vigor”, conclui Meirelles.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.