Alckmin desbanca Ciro, “conquista” Centrão e mercado comemora: o que esperar a partir de agora?

Notícia de apoio dos partidos do Centro ao tucano animaram e muito o mercado - mas ainda é preciso esperar para ver os verdadeiros efeitos desse apoio

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Surpreendendo a muitos que esperavam que o “Centrão” iria demorar mais tempo para se decidir entre Ciro Gomes e Geraldo Alckmin (ou até um outro candidato), o grupo de partidos fechou um acordo para apoiar o pré-candidato tucano à presidência.

O acordo ainda precisa ser referendado, mas foi o suficiente para impulsionar o Bolsa e fazer o dólar registrar um forte movimento de queda, em um momento que o Ibovespa estava precificado para baixo com a desconfiança do mercado sobre as eleições. Com Alckmin patinando nas pesquisas e as indicações até poucos dias atrás de que Ciro poderia fechar com o Centrão – o que renderia mais de 3 minutos ao tempo do candidato no rádio e televisão – as possibilidades de que um candidato não-reformista ganhasse as eleições aumentaram, fazendo com que o mercado entrasse em modo de cautela quando o assunto era o pleito de outubro.

Porém, com o cenário para Alckmin – candidato reformista considerado mais viável -, mostrando-se mais favorável, o mercado naturalmente reagiu, mostrando que as eleições começaram com tudo para os investidores. 

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Do temperamento explosivo aos bastidores

Muitos fatores pesaram para que o Centrão pendesse para o lado de Alckmin, passando desde o temperamento explosivo de Ciro Gomes, gerando temores de que isso poderia minar a candidatura do pedetista (e os esforços do Centrão) até a atuação direta e decisiva de Michel Temer e do próprio Alckmin. 

Dentre as polêmicas que ganharam destaque nos últimos dias, Ciro chamou de “filho da puta” a promotora Mariana Bernardes Andrade, que pediu para que o pedetista seja investigado por injúria racial contra o vereador Fernando Holiday (DEM). No momento da fala, o pedetista não sabia que a autora do pedido de investigação era uma mulher. Essa fala trouxe de volta à tona a personalidade explosiva do pré-candidato, que é apontada como um dos fatores que prejudicaram a candidatura dele em 2002. Na época, ao ser questionado pela imprensa, ele respondeu que um dos papéis na campanha eleitoral de sua então esposa, a atriz Patrícia Pillar, era dormir com ele, o que causa reflexos até hoje na sua imagem com as mulheres (o desempenho eleitoral dele com o sexo feminino é inferior ao masculino em todos os cenários de pesquisas eleitorais). 

Como diz um ex-deputado do PR, Ciro Gomes é do tipo que, “se ver uma casca de banana do outro lado da rua, ele atravessa pra escorregar nela”. 

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Enquanto isso, não pode passar despercebido, ainda que tenha ocorrido muito discretamente, a atuação de Michel Temer, que fez apelo aos partidos que compõem seu governo que não fechassem com Ciro. O recado foi curto e grosso, conforme destaca o Correio Braziliense: ou se afastavam do pedetista ou perderiam todos os cargos que ainda mantêm nos ministérios. O presidente lembrou que ele mesmo tem ações judiciais contra o pedetista, que chamou Temer de “quadrilheiro” e afirmou que “será preso assim que sair do governo”.

“Isso era esperado, mas o mais importante nisso tudo é o que não foi dito: não se ouviu Temer pedir apoio ao candidato do seu MDB, Henrique Meirelles”, conforme destaca análise da XP Política. 

Outros nomes também tiveram um papel importante nessa articulação. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi fundamental para que Alckmin levasse todo o bloco e não uma parte dele, uma vez que ainda havia cúpulas do PP e Solidariedade quem já estivesse fechado com Ciro, inclusive com palanques regionais negociados. O presidente do PRB, Marcos Pereira, também teve um papel muito importante de resistência e convencimento.

Mas quem, no final, deu a “liga” para o acordo foi Valdemar Costa Neto, presidente do PR, que foi fundamental para mudar o rumo do Centrão ao alterar a correlação de forças no grupo ao dizer que preferia apoiar o tucano a Ciro. ” Ele conseguiu, além de indicar Josué Gomes para a vice de Alckmin, direcionar o centrão”, aponta a análise da XP.

Mas o que acontece a partir de agora? Segundo a análise da XP, desta forma, vencida a primeira batalha, Alckmin dificilmente irá cometer um erro que o tire o centrão e abra o jogo outra vez. Isso porque ele é experiente e cauteloso – e ontem mesmo já tratou de esfriar as celebrações. 

“Alckmin tem razão em esfriar as coisas: sabe do desafio que tem pela frente: a guerra nem começou, só os exércitos começam a tomar posição. Há que ser mantido o foco, já que o Centrão fez na prática o que sempre se esperou dele e que por algum tempo esteve em risco”, apontam os analistas políticos da XP. 

Ciro busca reação

Enquanto perdeu num primeiro momento a disputa pelo Centrão, Ciro Gomes buscou reação ao fazer gestos para Lula e para esquerda depois de dias seguidos em que amenizou seu discurso tentando atrair os partidos de centro para a sua órbita.

Contudo, Ciro chega menor nas negociações, uma vez que o PT tratou de atacar o PC do B e tem um acordo para que eles ocupem a “vice de Lula, ou de quem ele indicar”, de acordo com um dirigente partidário. Ciro consegue encontrar mais espaço no PSB, mas o PT também mostra um grande poder de influência ao buscar o governador de Pernambuco, estado muito importante para o PSB. Tanto que, pela negociação, o partido chega a cogitar a neutralidade nacional em troca do apoio de Lula (muito forte no estado) à reeleição de Paulo Câmara. 

Com tudo isso no radar, a notícia do apoio do Centrão a Alckmin desidrata não só Ciro Gomes, mas também Marina Silva e Jair Bolsonaro, que não contam com tempo de TV e máquinas partidárias (prefeitos, vereadores e deputados, além de governadores) significativos. Enquanto Marina busca fechar acordo com partidos como PROS e PMN, Bolsonaro recebeu dois “nãos”: do PR e do PRTB, o que acentuou ainda mais a avaliação de isolamento do deputado federal na disputa presidencial. Já o PT não terá Lula como candidato, mas deverá vir forte neste quadro, aponta José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos, em relatório. 

Desta forma, Alckmin tem vantagens claras em tempo de TV e rádio, além dos apoios das máquinas, o que leva a notícia a ser muito boa para o mercado, reforça Faria Júnior, que complementa: “pelo jeito, mais uma vez teremos PSDB X PT”.  

Por outro lado, Gustavo Rangel, economista-chefe do ING, pondera que México e Colômbia recentemente mostraram que o apoio do establishment não adiantou muito, uma vez que a resistência popular a políticos tradicionais pesou mais. 

Desta forma, até 5 de agosto, o cenário é de fortalecimento de Alckmin, mas este ainda é um momento de arrumação do jogo, de montagem das estruturas que farão diferença de fato em setembro, aponta a XP. “Até lá ainda vai ter bastante emoção pelo caminho”, conclui a equipe de análise. Por enquanto, o mercado comemora a boa notícia para o tucano – mas também ficará de olho no efeito prático dessa aliança nos próximos meses (principalmente nas pesquisas eleitorais). 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.