Ação da PF pode ser “pá de cal” em candidatura Temer e deve respingar em sonho de Meirelles

O avanço das investigações ocorre no momento em que o presidente buscava maior exposição ao cenário eleitoral e pode novamente mudar disposição das peças no xadrez político

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A prisão de figuras próximas ao presidente Michel Temer, na manhã desta quinta-feira (29), pelo inquérito que investiga supostos benefícios a empresas do setor portuário via decreto elevam o nível de pressão sobre o emedebista e fazem crescer as especulações sobre a apresentação de uma terceira denúncia criminal contra ele pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

Com autorização do ministro Luis Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), relator do caso na Corte, a Polícia Federal prendeu o advogado e empresário José Yunes, amigo e ex-assessor de Temer. Também foram presos o coronel João Batista Lima Filho, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi (MDB) e o empresário Antônio Celso Grecco, dono da Rodrimar, empresa que atua no Porto de Santos.

As prisões temporárias poderão ser revistas pelo próprio STF ao longo do dia, após o cumprimento dos mandados autorizados, mas já provocam impactos políticos significativos.

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O avanço das investigações ocorre no momento em que Temer buscava maior exposição ao cenário eleitoral. Em entrevista à revista IstoÉ na edição da semana passada, o presidente disse que “seria covardia não ser candidato”, confirmando que buscaria a reeleição em outubro e contrariando posicionamento adotado logo após o impeachment de Dilma Rousseff.

Se futuramente a candidatura iria se confirmar, é uma incógnita, mas Temer buscava aumentar o protagonismo em seu processo sucessório, a despeito da baixa popularidade de seu governo. Uma das estratégias desenhadas era o próprio uso de uma reforma ministerial para delinear a coalizão da centro-direita governista.

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Com o risco maior da apresentação de uma nova denúncia contra o emedebista para ser votada no plenário da Câmara dos Deputados, o governo pode a ser forçado a mudar de estratégia e focar na sobrevivência durante os últimos meses de mandato. Da mesma forma, uma candidatura de Temer demandaria uma engenharia ainda mais complexa.

“No fundo, é um evento que sinaliza dificuldades bastante relevantes para se materializar um cenário em que o governo e o MDB produzam um projeto eleitoral, seja com Temer na cabeça de chapa, seja personificado na figura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles”, observou o analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.

“Em boa medida, o governo aposta na reversão da agenda com a intervenção federal no Rio de Janeiro. Mas as investigações no Judiciário, além do próprio assassinato da vereadora Marielle Franco, mostram que os efeitos positivos disso devem ter dificuldades de se materializar”, complementou o especialista.

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Para Cortez, os principais efeitos do novo episódio estão no campo político-partidário, e menos em possível nova denúncia contra Temer, uma vez que o processo é mais vagaroso e o mundo político está mais atento neste momento ao cenário eleitoral.

Em entrevista à Bloomberg, Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do CA Indosuez, disse que a diligência da PF pode sepultar os planos de Michel Temer se candidatar para um novo mandato. “Pode ser uma pá de cal, se é que tinha muita gente acreditando na eleição do presidente”, afirmou.

Para a equipe de análise política da XP Investimentos, o episódio torna uma aliança nacional com o MDB ainda menos desejável para outros candidatos da centro-direita, ao menos neste momento. Na avaliação dos especialistas, o risco de uma terceira denúncia contra Temer ainda são pequenos, mas, caso isso ocorresse, o emedebista “iria balançar forte”.

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“Em ano eleitoral, os parlamentares tomam menos risco e o governo tem menos a oferecer. O centro da perspectiva de poder se deslocaria para Rodrigo Maia, e não ficaria no Planalto”, escreveram a clientes. No Legislativo, os efeitos do avanço das investigação são maiores dificuldades para qualquer pauta do governo.

“A agenda de votações em Brasília, que já é mínima, sofre desgaste sério a cada baque desses. Menos gente quer votar, tomar riscos, ou mesmo aparecer no Congresso. Barroso garantiu o esvaziamento da semana que vem”, analisaram.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.