A Petrobras tem jeito? Colunista do FT diz como resgatar a companhia

Nick Butler, especialista, conselheiro em energia e é professor visitante da King's College London, destaca que é preciso dar independência à estatal e que é "tolice esperar por privatização"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A investigação de corrupção na Petrobras (PETR3;PETR4) a partir da lista enviada ao Ministério Público brasileiro, representado pela figura do procurador-geral da República Rodrigo Janot, para o STF (Supremo Tribunal Federal) está apenas começando, destaca o colunista do Financial Times Nick Butler, que é especialista, conselheiro em energia e é professor visitante da King’s College London. Ao longo do artigo, o especialista também destaca o que pode ser feito para resgatar a Petrobras. 

Conforme afirma Butler, ninguém sabe quanto dinheiro está envolvido, o que significa que ninguém sabe o que a empresa vale agora. O preço da ação da Petrobras caiu 44% em relação ao ano passado, com uma queda de cerca de US$ 90 bilhões no valor da empresa em apenas seis meses. 

Parte disso é devido à queda dos preços do petróleo mas, na verdade, é mais o resultado direto de problemas internos da empresa. Não há sinais ainda de que os investidores que gostam de pegar ativos subvalorizados estão correndo para a empresa. “Eles devem pensar, provavelmente com razão, que o pior ainda está por vir”, avalia o jornal.

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E ressalta, por outro lado, as qualidades da petroleira: “a Petrobras é uma empresa de engenharia forte, com um bom histórico operacional. A empresa produz mais de 2,5 milhões de barris de petróleo por dia e tem sido fundamental para o desenvolvimento de recursos offshore de petróleo do Brasil”.

“Sem a Petrobras, o Brasil seria muito mais pobre e nunca teria sido listado como um dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). As conquistas do lado técnico da empresa faz-me sentir ainda mais triste em relação a equipe de 87 mil funcionários da companhia”, destaca o colunista do FT.

Butler ressalta que a empresa foi prejudicada durante a última década não apenas pela corrupção alegada, mas também por controle de preços politicamente motivado, que deixou o case de negócios muito enfraquecido, destacando que houve perdas operacionais de US$ 44 bilhões por conta dos subsídios aos combustíveis desde 2011. “Também houve péssima gestão frente à administração da empresa”, afirmou.

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“Isso se reflete não apenas na queda o preço das ações, mas também por sucessivos fracassos para atingir metas de produção, especialmente para novos campos. Os parceiros internacionais foram enganados ao aceitar prazos irrealistas e custos altos. O resultado de tudo isso é que a empresa já não é confiável. Para uma empresa que deveria ser campeã nacional, e que ainda é uma das maiores empresas de energia do mundo, é um desastre”.

O que pode ser feito?
Neste cenário, Butler destaca o que pode ser feito para resgatar a companhia. Ele destaca que a investigação de corrupção vai seguir seu curso e, sem dúvida, por um longo tempo. Isso pode ser debilitante para o negócio – e, por sua vez, para a economia nacional. “Espero que o governo brasileiro, independentemente do alegado envolvimento de indivíduos no que aconteceu agora, foque que a Petrobras pode sobreviver e recuperar a sua reputação”.

Butler afirma que seria tolice esperar a privatização. “Este é o momento errado para vender, e dentro do atual governo não há apoio para a ideia. Uma abordagem muito melhor seria separar os diferentes elementos da sociedade em empresas distintas”.

Ele destaca que há um forte argumento para um negócio de varejo separado e por entidades distintas da gestão de petróleo e gás. Seria também ser possível criar uma empresa de exploração que seria de âmbito internacional – aplicando as habilidades que a Petrobras criou em outras áreas do mundo. Algo já foi feito, mas muito mais é possível.

O segundo elemento de um renascimento da empresa seria operar de forma autônoma em relação ao governo. Dilma Rousseff e Guido Mantega, atual presidente do Conselho de Administração (nos possíveis últimos dias no Conselho), claramente falharam como líderes empresariais, afirma Butler. “Como provado por muitos exemplos de todo o mundo ao longo das últimas duas décadas, os políticos realmente não pertencem à sala da diretoria. A empresa deve ser gerenciada por profissionais com reputação a proteger e gerida como uma entidade independente, passando a ser propriedade do povo brasileiro”.

A chave para isso, e o terceiro elemento de mudança radical é uma política de transparência. As empresas de energia não podem fazer nada que não seja divulgada ao público. “A única resposta para a desconfiança é uma mudança de cultura”.

O quarto elemento seria o governo a recuar e permitir que as novas empresas façam o seu trabalho. E afirma: a imposição de controles de preços nunca funciona. “Ela distorce a tomada de decisão das empresas e, a longo prazo, sempre custa mais do que consegue. As empresas não são instrumentos de política social”.

“Brasil vai sobreviver à crise atual, mesmo que o governo e os políticos não sobrevivam na mesma função. Então a Petrobras também irá – espero que de uma forma diferente: como um negócio profissional e não como uma ferramenta política”, conclui o especialista.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.