A delação bombástica de Delcídio através dos principais personagens (e as suas reações)

Aécio, Dilma, Lula, Temer, Palocci: todos eles foram citados pelo senador, que teve sua delação homologada hoje pelo STF

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A “bombástica” delação de Delcídio do Amaral ganhou as páginas da política ao incluir tanto integrantes do governo quanto da oposição, além de instituições financeiras e empresas. A sua delação foi homologada hoje pelo STF (Supremo Tribunal Federal). 

E vários são os citados: Aécio Neves, Dilma Rousseff, Lula, Michel Temer são os nomes de destaque desta delação, que envolve também Renan Calheiros, José Carlos Bumlai e até mesmo o ex-ministro da Fazenda no governo Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan. Confira abaixo os principais personagens da delação do senador. 

Aécio Neves
Com relação ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), Delcídio afirmou em delação premiada que o tucano recebeu propina de Furnas, subsidiária da Eletrobras. “Questionado ao depoente quem teria recebido valores de Furnas, o depoente disse que não sabe precisar, mas sabe que Dimas [Toledo, ex-presidente de Furnas] operacionalizava pagamentos e um dos beneficiários dos valores ilícitos sem dúvida foi Aécio Neves”, destaca a delação de Delcídio. Segundo o senador, Aécio tem vínculo forte com Dimas Toledo, apontado como operador de Furnas. Segundo o senador, que se desfiliou do PT, PT e PP também receberam propina. 

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Além disso, o senador acusa o seu colega tucano de ter “maquiado” dados do mensalão. Em depoimento realizado em 14 de fevereiro, quando ainda estava preso, Delcídio afirmou que, durante a CPI dos Correios, houve incômodo por parte do PSDB em relação à quebra dos sigilos do Banco Rural. “Aécio Neves enviou emissários para que o prazo de entrega das quebras de sigilo fossem delongados, com a justificativa ‘entre aspas’ de que não haveria tempo hábil para preparar essas respostas; que, um desses emissários foi o então secretário-geral do PSDB Eduardo Paes”. Delcídio afirmou ter sido convencido, achando que o pedido era razoável, mas depois percebeu que fora enganado. “Foi com surpresa que o declarante percebeu, a receber as respostas, que o tempo fora utilizado para maquiar os dados que recebera do Banco Rural”. Outro trecho informa que o delator “ficou sabendo que os dados eram maquiados porque isso lhe fora relatado por Eduardo Paes e o próprio Aécio Neves”. “Os dados atingiriam em cheio as pessoas de Aécio Neves e Clésio Andrade, governador e vice-governador de Minas Gerais”.

Em nota, Aécio se defendeu das acusações e afirmou que são citações mentirosas que não se sustentam na realidade e se referem apenas a “ouvir dizer” de terceiros. Ao falar sobre a fundação que a mãe de Aécio planejou criar no exterior, “trata-se de assunto requentado já amplamente divulgado nas redes petistas na Internet e, inclusive, já investigado e arquivado pela Justiça e pelo Ministério Público Federal há vários anos”, sendo devidamente declarada no imposto em renda do titular. Sobre a menção ao nome do senador com relação a Furnas, “Delcídio repete o que vem sendo amplamente disseminado há anos pelo PT que tenta criar falsas acusações envolvendo nomes da oposição”, afirmou o tucano. Em nota, Aécio disse que “jamais tratou com o delator Delcídio de nenhum assunto referente à CPMI dos Correios. Também jamais pediu a ninguém que o fizesse”.

André Esteves
O senador afirmou que o banqueiro André Esteves aceitou ajudar a comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró porque temia que viessem à tona as propinas que um sócio dele pagou à BR Distribuidora para ter essa bandeira numa rede de postos de gasolina.

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O senador afirmou ainda que Esteves era um dos principais mantenedores do Instituto Lula. “Isso se deve ao fato de Lula ter sido um grande sponsor [patrocinador] dos negócios do BTG”. Por outro lado, Delcídio disse não saber da participação de Lula num outro negócio suspeito que Esteves teria participado, a compra de uma parte da Petroáfrica. O BTG Pactual pagou US$ 1,5 bilhão por 50% da Petroáfrica, mas o negócio valia US$ 2,7 bilhões, de acordo com avaliação que ele diz ter ouvido de auditores da Petrobras.

 Em nota, o BTG Pactual “reafirmou sua absoluta confiança na lisura da negociação acerca da compra de 50% dos ativos da Petrobras na África”. “Tendo sido sua a melhor proposta apresentada no trâmite licitatório, restou evidente que correspondeu a preço justo, valor este, aliás, que foi referendado por um laudo de avaliação independente emitido por um banco internacional (Standard Chartered) de reconhecida reputação e experiência no setor e local de atuação da Petrobras Oil and Gas B.V.”

O banco enviou uma nota de esclarecimento negando as relações entre o BTG e o Instituto Lula. Confira a íntegra:

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“O BTG Pactual esclarece que não é, e nunca foi, mantenedor do Instituto Lula. O Banco tem como política realizar doações para entidades socioculturais sem fins lucrativos, como fundações educacionais, orquestras, museus e entidades filantrópicas.

O BTG Pactual fez, em 2014, sua única doação para o Instituto Lula, mesmo valor, aliás, destinado à Fundação Instituto Fernando Henrique Cardoso no biênio 2010/2011. O valor doado a esses dois institutos representa menos de 2 % cada do total de doações realizadas pelo banco desde 2010.

O banco também fez doações para a Fundação Estudar, Insper Engenharia, Parceiros da Educação, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) no Rio de Janeiro, Museu Judaico, Conservation International Brasil, Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e Museu de Arte de São Paulo (Masp), entre outras instituições.

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O BTG Pactual contratou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio da empresa L.I.L.S. Palestras, Eventos e Publicações Ltda., para realizar uma palestra no ano de 2011 e duas palestras em 2013. Essas palestras foram realizadas no âmbito do evento internacional LatAmCEO Conference em Nova Iorque e Londres, nas quais ele falou para cerca de 300 investidores em cada uma delas. Os valores desembolsados pelas palestras foram compatíveis com a relevância dos eventos realizados e não se afastam da faixa de valores usualmente cobrados por ex-presidentes de outros países.

Nesses eventos, o BTG Pactual usualmente convida ex-presidentes para fazer palestras. Já participaram, entre outros, Nicolás Sarkozy (França), Cesar Gaviria (Colômbia), Alan Garcia (Peru), Álvaro Uribe (Colômbia) e Sebastián Piñera (Chile).”

Aloizio Mercadante
Delcídio acusou o atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de realizar duas reuniões em dezembro com seu assessor, José Eduardo Marzagão, nas quais sinalizou que poderia dar alguma ajuda financeira  e lobby junto ao STF caso o senador permanecesse em silêncio ao não fazer um acordo de delação premiada.

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Em coletiva à imprensa, Mercadante afirmou que nunca tentou impedir que o senador Delcídio assinasse acordo de delação premiada. Segundo ele, a conversa com o assessor do senador partiu dele e não foi um pedido da presidente Dilma Rousseff. Segundo Mercadante, trechos importantes da conversa dele com o assessor de Delcídio foram omitidos na transcrição do áudio divulgado hoje na imprensa.“Se vocês olharem o áudio do que foi transcrito, tem trechos fundamentais que não foram devidamente relatados. Em um trecho eu digo ‘não estou nem aí se vai delatar ou não, não estou nem aí’ […] ‘tem que construir uma saída viável, eu não vou entrar nisso, ele faz o que achar que deve’”, defendeu-se.

O ministro diz que procurou Marzagão para prestar solidariedade às filhas do senador. O ministro alegou que acreditava que o Senado poderia rever a prisão de Delcídio por alguma “tese jurídica”. “A iniciativa do diálogo foi minha, eu me sensibilizei com a campanha que estão fazendo com as filhas dele. […] Por ser senador, achava que haveria uma tese jurídica em que o Senado se pronunciasse para ele ficar em prisão domiciliar.”

Antonio Palocci
Sobre o ex-ministro Antonio Palocci, Delcídio afirmou que ele “é a pessoa que conversa objetivamente sobre recursos (ilícitos e lícitos) de campanha” e o responsável pela “definição dos grandes negócios de interesse do PT em todo o país”. “Palocci é, sem dúvida, a cabeça pensante do partido com relação a temas econômicos financeiros e de infraestrutura”.

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O senador destacou na delação da atuação para comprar o silêncio do empresário Marcos Valério sobre as investigações do mensalão, sendo prometido o pagamento de uma quantia de R$ 220 milhões. Valério foi condenado no julgamento do mensalão no STF, em 2012, e considerado o operador do esquema. Segundo Delcídio, a promessa foi feita a Valério por Paulo Okamoto, atual presidente do Instituto Lula.  Em 14 de fevereiro de 2006, segundo Delcídio, ocorreu uma reunião para tratar do pagamento do valor. Delcídio contou ainda que recebeu no dias seguintes ligações do então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ambos falaram sobre a reunião que o senador havia tido com Lula. Palocci afirmou, na ligação, que “o Lula estava injuriado com ele em razão do teor da conversa”. Além disso, Palocci disse que “estaria, a partir daquele momento, assumindo a responsabilidade pelo pagamento da dívida”.

Em resposta, o advogado de Palocci, José Roberto Batochio, disse ao Estadão que “a nova moeda de troca no Brasil é a mentira”. Batochio afirmou que o seu cliente nunca participou de nenhuma tentativa de extorsão. “Delcídio diz que o silêncio de Marcos Valério seria comprado por R$ 220 milhões. Como seria possível alguém pagar R$ 220 milhões em dinheiro sem deixar rastro? Para transportar essa quantia, ele precisaria de uns 20 caminhões. Não faz sentido. Nem mentir direito esse pessoal consegue.” 

Dilma Rousseff
Conforme destacado pela Istoé no final do mês passado, Delcídio citou a presidente Dilma Rousseff ao afirmar que ela estava tentando interferir na Operação Lava Jato. Segundo ele, a presidente conversou com auxiliares e nomeou ministros para tribunais superiores – principalmente o STJ (Superior Tribunal de Justiça) – favoráveis às teses das defesas de acusados na Operação, em uma tentativa de ajudar empreiteiras e políticos alvos da Operação. 

Delcídio também afirma que outra tentativa da presidente em interferir nas investigações ocorreu em um encontro entre ela, o então ministro da Justiça e atual advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, e o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, em Portugal. O senador afirma que, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Dilma sabia que havia um esquema de superfaturamento por trás da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e atuou para que Nestor Cerveró continuasse na estatal.

No início de março, quando a delação foi revelada pela revista, Dilma afirma que recebeu a notícia de delação premiada com indignação. 

Lula
Assim como foi revelado pela IstoÉ, o senador afirmou que Lula teria sido responsável por marcar uma conversa entre o senador e o filho de Nestor Cerveró, Bernardo, que acabou culminando na prisão do senador no âmbito da Lava Jato. Lula teria sido o mandante do pagamento de dinheiro para comprar o silêncio das testemunhas.

O senador afirmou também que o ex-presidente tinha conhecimento do esquema de corrupção da Petrobras e agiu direta e pessoalmente para barrar as investigações. Delcídio afirmou que Lula teria discutido a nomeação de Nestor Cerveró para a área Internacional da estatal com a bancada do PT.

Michel Temer
Delcídio cita o vice-presidente Michel Temer, ao envolver o peemedebista em um suposto escândalo de aquisição ilícita de etanol, na BR distribuidora, entre 1997 e 2001.Segundo o senador, Michel Temer, chancelou a indicação de dois ex-diretores da Petrobras que foram condenados na Operação Lava Jato. De acordo com ele, Temer era “padrinho” de João Augusto Henriques, ex-diretor da BR Distribuidora, subsidiária da estatal, e de Jorge Zelada, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras.

“Delcídio do Amaral sabe que um dos maiores escândalos envolvendo a BR Distribuidora foi a aquisição ilícita de etanol no período de 1997 a 2000. O principal operador desse esquema foi João Augusto Henriques (ex-diretor da BR Distribuidora), e atualmente preso por ordem judicial da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciaria de Curitiba. A ilicitude ocorreu durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O “padrinho” de João Henriques no esquema do etanol foi Michel Temer, atual vice-presidente da República. A relação entre João Henriques e Michel é antiga e explica a sucessão de Nestor Cerveró na Diretoria Internacional da Petrobras. João Augusto foi o primeiro indicado para essa diretoria para substituir Cerveró, entretanto foi vetado pessoalmente por Dilma Rousseff, substituído por Jorge Zelada, indicação do próprio João Augusto”, diz um dos documentos anexados à delação. 

Sobre Jorge Zelada, o senador declarou que Temer teve “grande influência” na substituição de Nestor Cerveró. Em nota à imprensa, a vice-presidência da República rebateu as declarações de Delcídio. “Michel Temer nunca foi padrinho de João Augusto Henriques. A indicação do nome dele para ocupar cargo na Petrobras foi feita pela bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, assim como a de Jorge Zelada, posteriormente”.

Pedro Malan
Delcídio afirmou que a permanência de Rogério Manso na Diretoria de Abastecimento da Petrobras ocorreu por influência do ministro da Fazenda nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan. 

De acordo com ele, a área de Abastecimento da Petrobras é uma das mais cobiçadas, “principalmente em razão da comercialização de petróleo no exterior, na medida em que são comercializados 300 mil barris diários de petróleo leve, em números atuais isso representaria quase US$ 10 milhões por dia”. A permanência de Manso favoreceria a continuidade da alteração artificial dos preços do petróleo e, por consequência, abria um “terreno fértil para várias ilicitudes”.

Renan Calheiros, Romero Jucá e senadores do PMDB
O senador citou o “núcleo duro” os seus colegas da bancada do PMDB no Senado, formado por Renan Calheiros (AL), Eunício Oliveira (CE), Jader Barbalho (PA), Romero Jucá (RR), Valdir Raupp (RO) e Edison Lobão (RO). O senador afirmou que o núcleo “monopoliza as nomeações do governo federal, não apenas das empresas de energia, mas também nas agências reguladoras e ministérios”.

Além disso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou hoje nota negando contato com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, para tratar da prisão de Delcídio. Delcídio disse que Mercadante procurou o assessor dele para pedir que o senador não firmasse acordo de delação premiada. Em troca, o ministro disse que procuraria o presidente do Senado e o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, para tentar reverter a prisão de Delcídio e um eventual processo de cassação do mandato dele no Conselho de Ética do Senado. 

“O presidente do Senado, senador Renan Calheiros, não foi e nem poderia ser procurado pelo ministro da Educação para tratar de nenhum dos assuntos relacionados na referida reportagem. Como se sabe, a alegada moção não existiu”, afirmou a nota divulgada pela assessoria de Calheiros em referência a uma moção proposta por Mercadante para que os senadores pedissem ao ministro Teori Zavaski que revisse a decisão de manter Delcídio preso.

BNDES, JBS e Marfrig
Delcídio acusa o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, de sinalizar, “de maneira muito sutil, muito elegante”, a exigência de doações para campanhas eleitorais como contrapartida para a aprovação de financiamentos do banco de fomento para grandes empresas. O BNDES negou a fala de Delcídio  “de que tenha concedido vantagem ou sofrido influência indevida de quem quer que seja para conceder apoio financeiro a qualquer empresa”.

 Delcídio disse ainda em delação premiada que José Carlos Bumlai influenciou obtenção de empréstimos do BNDES para JBS, Bertin e Marfrig. A Marfrig disse que José Carlos Bumlai jamais foi contratado para prestar ou prestou qualquer serviço de assessoria para a Marfrig. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.