Analistas seguem otimistas com Petrobras, mas querem sinais sobre nova política após susto

Governo consegue, por enquanto, amenizar o temor do mercado sobre Petrobras após intervenção, mas muitas dúvidas sobre a política de preços seguem no radar

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Na última sexta-feira, as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) desabaram, com o mercado repercutindo de forma bastante negativa o reajuste barrado do diesel por determinação do presidente Jair Bolsonaro, aumentando os temores de interferência política.

Apenas naquela sessão, a companhia perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado

Naquele mesmo dia, Bolsonaro justificou a sua decisão com um discurso um tanto confuso, afirmando que não faria intervenção na estatal, mas que ficou surpreso quando houve o anúncio e que precisaria ser convencido sobre o reajuste, o que levou os papéis a acelerarem ainda mais as perdas durante a tarde daquele pregão de 12 de abril. As comparações com o governo Dilma Rousseff acabaram sendo inevitáveis, ainda mais após os motivos destacados para ter barrado o reajuste.

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Com isso, logo após o anúncio, diversos bancos e casas de análise repercutiram a notícia como bastante negativa, principalmente para a governança corporativa da estatal e que poderia até mesmo afetar a venda de ativos da companhia.

Porém, a maior parte dos analistas preferiu esperar para ver os próximos passos a serem adotados tanto pelo governo quanto pela estatal, mantendo assim uma visão positiva sobre os papéis. UBS, Itaú BBA e Morgan Stanley seguiram com recomendação de compra para os ativos, apesar de deixarem o sinal de alerta ligado para mais intervenções à frente. De acordo com compilação feita pela Bloomberg, de 11 casas de análise que cobrem Petrobras, 9 possuem recomendação de compra e apenas 2 recomendam manutenção dos ativos. 

As motivações para barrar o reajuste foram ficando mais claras, como o temor de uma nova greve dos caminhoneiros que paralisasse o País a exemplo do que ocorreu em maio de 2018.

Intervenção: veio para ficar ou foi passageira?

O mercado passou a questionar os próximos passos do governo e se o temor do mercado com a volta da intervenção do governo nas estatais iria se confirmar ou não. Esse controle de preços se tornaria mais frequente? Ou foi mais um movimento atrapalhado? 

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, buscou reforçar a segunda visão. Ele esteve ontem no Planalto para participar de uma reunião interministerial que tratou da questão do transporte rodoviário no Brasil. Após sair do encontro, o presidente da Petrobras negou intervenção na estatal e disse que a empresa é “livre” e tem “vida própria”. Ele afirmou ainda que a decisão pelo não reajuste foi tomada pela Petrobras. “O presidente alertou para os riscos”, disse ele, buscando dissipar os temores de intervenção. 

Nesta terça, por sinal, a Petrobras teve uma sessão de alívio, com os papéis fechando com alta de 3,54%, a R$ 30,14, para os ativos ON e os papéis PN fechando com ganhos de 3,20%, a R$ 26,76. 

O pacote anunciado pelo governo para atender a demanda dos caminhoneiros, com uma linha de crédito de R$ 500 milhões para os autônomos e de R$ 2 bilhões para a manutenção de estradas, animou o mercado em meio às expectativas de que poderia diminuir as chances de greve. 

Mas o que impulsionou mesmo os papéis foi a notícia da coluna de João Borges, do G1, de que houve acerto para que a companhia reajuste o preço do diesel nos próximos dias após intervenção do presidente na semana passada (sem confirmação oficial). Ou seja, que seria possível haver uma conciliação entre os interesses dos caminhoneiros e manter a autonomia da Petrobras. 

Porém, ainda há muitas fontes de incerteza para a companhia. De acordo com jornal O Estado de S. Paulo, o governo estuda alterar a política da Petrobras. 

Uma das propostas apresentadas seria a redução da margem de autonomia para a gerência de comercialização da companhia conceder o reajuste, que hoje varia de -7% a +7%, e a ampliação do número de pessoas a serem consultadas para alterar o preço dos combustíveis.  

Além disso, estuda-se uma política de preços que leve em conta uma média de quatro meses para cada reajuste mensal. O problema desse mecanismo é que, se o preço cair e a Petrobras não acompanhar, ela acaba perdendo mercado para importadores.

“Uma potencial redução na frequência com que a Petrobras ajusta seus preços de combustíveis poderia ajudar terceiros a aumentarem a participação de mercado nas importações no Brasil”, destaca o UBS. De acordo com a equipe de análise do banco, a Petrobras conseguiria acompanhar os preços internacionais, mas com menos liberdade para ajustar os preços com maior frequência, o que abriria espaço para os importadores. 

Soma-se a isso o contínuo ambiente de tensão apesar das medidas do governo – caminhoneiros insatisfeitos com o pacote anunciado hoje já falam até mesmo em greve em maio. O plano foi visto como uma “cortina de fumaça”, uma forma de protelar uma possível greve dos motoristas. Alguns já falam, com exaltação, em nova paralisação em 21 de maio – exatamente um ano depois da greve que paralisou o País – caso a situação não melhore.

Conforme aponta o UBS, o governo segue em uma posição desafiadora. E, por isso mesmo, a reunião na tarde de ontem entre o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, o presidente Jair Bolsonaro e mais três ministros era aguardada com ansiedade pelo mercado. 

Após o encontro, Guedes declarou em coletiva de imprensa que a definição dos preços do diesel cabe exclusivamente a Petrobras e que Bolsonaro ficou satisfeito com as explicações técnicas apresentadas após se preocupar com o reajuste de 5,74% do diesel.Entretanto, não foram dadas informações sobre se retomará o aumento.

Guedes ainda admitiu que a política de reajustes atual não é suficientemente transparente e afirmou que mudanças estão em estudo. O ministro afirmou que a  estatal terá de buscar forma mais clara de apresentar política de preços e que o governo poderia baixar tributos para compensar aumento muito forte dos combustíveis, segundo Guedes. 

Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, durante a reunião, que não “quer” e não “tem direito de intervir na Petrobras”, de acordo com o porta-voz do Planalto, Otávio Rêgo Barros. 

Por enquanto, o governo tem conseguido amenizar os temores do mercado que chegaram ao auge na última quinta-feira, reiterando o discurso de que a Petrobras é livre para definir preços. Assim, os analistas seguem otimistas mas anseiam por novos sinais da estatal sobre a política de preços da companhia, que pode ser decisiva para a tese de investimentos com as ações da empresa. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.