Petrobras: uma nova (e boa) pagadora de dividendos entrou no radar do mercado?

Plano de negócios da estatal inclui aumento de dividendos e animou investidores, mas dois fatores podem atrapalhar o objetivo

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – A Petrobras (PETR3;PETR4) anunciou seu plano de negócios para o período de 2019 a 2023 na quarta-feira (6), que inclui os planos de investimentos e desinvestimentos, além de diretrizes para a redução de dívidas. Em um primeiro momento, chamou a atenção exatamente o fato de nada chamar a atenção.

“Não vimos nenhuma mudança significativa na tese de investimento da Petrobras ou no plano original descrito em 2016”, escreveram os analistas do Itaú BBA, André Hachem e Leonardo Marcondes, em relatório a clientes. 

A pesquisadora da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Energia, Fernanda Delgado, disse à Agência Estado que ficou decepcionada com as medidas anunciadas e que considerou o plano “requentado” e com “falta de ousadia”.

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No entanto, a teleconferência trouxe luz a um detalhe do plano que deixou analistas mais otimistas com o futuro da estatal. 

Caso atinja sua meta de redução de endividamento, de 1,5 vez a relação entre dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) até 2020, a empresa pode aumentar o pagamento de dividendos a partir de 2021.

Segundo estimativas da XP Investimentos, a meta cumprida implicaria em uma distribuição prevista de 91% dos lucros, superior aos 25% previstos pelos analistas, e um dividend yield médio de até 14,3% no período.

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Para isso, a Petrobras precisa reduzir sua dívida bruta e líquida em US$ 39 bilhões, cerca de metade do valor informado no terceiro trimestre deste ano. A meta é manter a alavancagem (endividamento líquido/(endividamento líquido+patrimônio líquido) em torno de 25%.

Duas pedras no caminho
Embora as expectativas sejam otimistas quanto ao pagamento de dividendos, vale lembrar que uma nova gestão assumirá a estatal a partir do próximo ano, com o mandato de Jair Bolsonaro (PSL). O próximo presidente da Petrobras será Roberto Castelo Branco e ele pode querer imprimir sua marca na gestão da empresa e dar início a um novo plano de negócios.

Essa dúvida já está no radar dos analistas que questionaram a companhia, durante a teleconferência, se Castello Branco estava de acordo com o que foi planejado para a empresa. A resposta da diretoria foi de que o documento aprovado pelo conselho de administração “não é de uma pessoa”, mas da Petrobras.

No entanto, fonte próxima a Bolsonaro ouvida pela Agência Estado disse que o plano de investimentos de US$ 84,1 bilhões para os próximos anos será revisto já no início de 2019 pelo novo governo. “Vários aspectos do plano deverão ser revalidados assim que o próximo presidente da companhia, Roberto Castello Branco tomar posse no próximo ano”, destaca a XP.

Além disso, o futuro da matéria-prima da Petrobras passa por grandes incertezas. A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e países aliados, liderados pela Rússia, estão reunidos em Viena nesta quinta (6) e sexta-feira (7) para tentar chegar um acordo sobre a crise do setor, após uma derrocada de 30% nos preços do petróleo em novembro, no pior mês em 10 anos.

A produção crescente de petróleo nos Estados Unidos, Rússia e membros da Opep aumentou os estoques globais enquanto a demanda pelo insumo tem desacelerado no mundo todo, levando a um excesso de oferta e ao derretimento dos preços. Diante disso, as expectativas dos investidores são grandes com as decisões que serão tomadas no encontro. 

Um painel de economistas da Opep, que revisou cenários para a reunião, recomendou um corte total na produção de 1,3 milhão de barris por dia em relação aos níveis de outubro, disseram fontes ligadas para a Dow Jones. Para os analistas do Credit Suisse, a Opep deve passar uma mensagem clara ao mercado de que pretende cortar a produção em cerca de 1,5 milhão de barris por dia para recuperar as perdas recentes no preço do petróleo. Esse corte seria suficiente para rebalancear o mercado ao longo de 2019.

No entanto, as primeiras informações sobre o encontro frustraram as expectativas dos mercados. A Arábia Saudita propôs um corte de 1 milhão de barris por dia e o Irã quer isenção de qualquer corte na produção.

Neste cenário, a projeção da Petrobras de US$ 66 o barril de petróleo em 2019 e US$ 75 a partir de 2022 parece ousada. “Eles consideram o preço futuro subindo nos próximos cinco anos, isso não é auspicioso. A volatilidade do preço do petróleo é tanta por questões geopolíticas que não sei se isso deveria ter sido visto com mais cautela”, disse a pesquisadora da FGV à Agência Estado. 

Os analistas do Morgan Stanley, Bruno Montanari e Guilherme Levy, também chamam a atenção para a perspectiva otimista de preço do petróleo levada em consideração no plano de negócios da Petrobras. Apesar da ponderação, o Morgan Stanley acredita que a estatal terá forte geração de caixa livre, especialmente a partir de 2020, e os dividendos devem crescer. 

A Petrobras informou que espera uma geração operacional de caixa de US$ 114,2 bilhões no período de 2019 a 2023, o que permitirá que a companhia realize seus investimentos e reduza seu endividamento sem necessidade de novas captações líquidas no horizonte do plano.

Se o investidor procura por boas pagadoras de dividendos, a Petrobras começa a entrar neste radar para o longo prazo. No entanto, é preciso acompanhar de perto os indícios de que os planos traçados pela empresa – incluindo os preços do petróleo – irão se concretizar.