Petrobras vai do céu ao inferno após lucro surpreender, mas não convencer

Números melhores do que o esperado se devem mais à contabilidade de hedge e venda de ativos do que bons resultados operacionais; alem disso, aumento do endividamento preocupa

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Não é somente o BTG Pactual que demonstra um certo ceticismo ao analisar os números trimestrais da Petrobras (PETR3PETR4). Apesar da estatal ter superado as expectativas de lucro no 2º trimestre de 2013, as incertezas que pairam sobre a companhia continuam, principalmente no âmbito de produtividade e endividamento.

E tal ceticismo parece ter chegado aos investidores na Bovespa, após boas horas de euforia. Nas primeiras duas horas de negociação desta segunda-feira (12) pós-divulgação de resultado, os papéis ordinários e preferenciais da companhia chegaram a subir 3,73% e 3,40%, respectivamente. Perdendo forças na sessão, os ativos PETR3 e PETR4 fecharam com queda de queda de 1,49% e 3,22%, nesta ordem, cotados a R$ 15,84 e R$ 16,53.

Vale mencionar que não foi apenas os resultados trimestrais que os investidores digeriram de noticiário da Petrobras. Uma reportagem da revista “Época” apontou acusações sobre um suposto esquema de propina entre parlamentares e a petrolífera. Além disso, a estatal informou ainda os resultados da perfuração do primeiro poço de extensão conhecido como Farfan 1, localizado em águas ultraprofundas da Bacia do Sergipe, que comprovam a existência de óleo leve realizada anteriormente na área de Farfan. Por fim, ela comunicou a incorporação da Sociedade Fluminense Energia e renunciou ao direito de preferência à subscrição de debêntures conversíveis em ações da Sete Brasil.

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Disparidade
Conforme destacam os analistas Caio Carvalhal e Felipe dos Santos, do JPMorgan, a disparidade maior entre os preços de gasolina e de diesel em relação aos valores internacionais e os temores frente ao leilão do campo de Libra, em que a petrolífera terá que entrar com participação mínima de 30% em cada bloco vencedor, ainda funcionam como pontos de cautela para qualquer tomada de decisao de investimento.

Além disso, o banco reduziu as suas previsões para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) para US$ 30,7 bilhões em 2013 ante os US$ 32,2 bilhões, considerando a piora no segmento de refino e o desconto dos preços de combustíveis. 

A Planner Corretora, por outro lado, destaca positivamente o aumento das vendas, as melhores margens e um expressivo ganho não recorrente, além dos resultados mais positivos por meio da contabilidade de hedge, que permite suavizar as variações ocorridas no câmbio. Os programas de redução de custo e de melhora de eficiência vem surtindo efeito, promovendo economia de R$ 2,9 bilhões no primeiro semestre e aumento da produção em 62 mil barris por dia no segundo trimestre.

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Contudo, o analista da Planner destaca que, apesar dos bons resultados da operação, a dívida líquida continuou crescendo forte no segundo trimestre. Dentre os motivos para essa alta, está a geração abaixo do potencial da empresa, em função da produção estagnada e dos preços abaixo do mercado externo e conjugado com investimentos elevados. 

4 progressos
Enquanto isso, o Citi Research destaca que houve quatro progressos “escondidos” no balanço da companhia, com o aumento da produção de plataformas, ganhos com os menores custos e aumento de eficiência e o aumento da capacidade de utilização das refinarias no segundo trimestre, para 99%, apesar de não levar a ganhos muito relevantes no portfólio de produção.

Para o banco, contudo, os papéis da petrolífera só passarão a subir no segundo trimestre com um aumento dos preços de combustíveis.

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Quais foram as conclusões dos analistas sobre o resultado da Petrobras?
A Petrobras reportou um lucro líquido acima do esperado, mas as preocupações com o leilão de Libra e com a disparidade de preços de combustíveis no mercado externo e interno, avaliam os analistas Caio Carvalhal e Felipe Santos, do JPMorgan.  O enfraquecimento do real aumentou o desconto do preço do diesel e da gasolina frente ao mercado externo, ao mesmo tempo em que há uma tendência de deterioração do desempenho operacional daqui para frente no momento em que um aumento de preço no mercado interno parece improvável. Enquanto isso, a produção aumentará em algum momento deste ano, o que mostra que a Petrobras está fazendo a sua lição de casa para reduzir os aumentos de custos e aumentar a produção, mas o ambiente econômico está jogando contra ela. Além disso, a empresa pode ser obrigada a operar com mais de 30% de participação em Libra, dependendo de apetite das outras empresas. Reiteramos, portanto, nossa visão de que não é um momento propício para compra” – Paula Kovarsky e Diego Mendes, do Itaú BBA. 
“Os resultados da Petro foram beneficiados pelas maiores margens no segmento de refino, guiados por aumento de preços, menoresw preços brutos e maior capacidade de refinamento. Contudo, as preocupações continuam, guiadas pela disparidade de preços entre os combustíveis no mercado interno frente ao internacional ” – Frank McGann e Conrado Vergner, do BofA. “O resultado da Petrobras bateu as expectativas, principalmente devido à contabilidade de hedge e aos eventos não recorrentes. Contudo, a dívida da companhia aumenta as preocupações sobre a companhia. […] O aumento do preço das ações depende de uma alta dos preços de combustíveis ” – Pedro Medeiros e Fernando Valle, do Citi Research.
“O tímido resultado da Vale no segundo trimestre é reflexo da desaceleração da economia chinesa, já que seus principais indicadores econômicos – PIB, PMI e balança comercial – têm se mostrado cada vez mais fracos. […] Por outro lado, os esforços contínuos da Vale no corte de custos e melhora de produtividade, especialmente no segmento de metais básicos, têm contribuído para que a companhia consiga neutralizar parte da desaceleração em bulk materials” – Victor Penna, do BB Investimentos A Petrobras enfrenta um dilema. Ela está à beira de um virada de volta a uma tendência de crescimento, o que não deve ser subestimado uma vez que se trata de uma companhia que responde por 10% do Ibovespa e está negociada com um desconto. Por outro lado, os dados macroeconômicos pobres do Brasil podem pesar sobre a empresa, cujo balanço já é apertado e inviabilizar os seus projetos. Os resultados do trimestre podem dar esperança para um desenvolvimento do case da companhia; por outro lado, se o cenário baixista se confirmar, os papéis da companhia só devem voltar a subir em 2014.– Vinicius Canheu e André Sobreira, do Credit Suisse
“Apesar dos bons resultados da operação, a dívida líquida continuou a crescendo forte no segundo trimestre. A geração abaixo do potencial da empresa, em função da produção estagnada e dos preços abaixo do mercado externo, conjugado com investimentos elevados, são as razões para o crescimento do endividamento. Nos últimos cinco anos, a dívida líquida da Petrobras cresceu 476% e nos últimos doze meses houve um aumento de 19%.” – Planner Corretora.  “A Petrobras bateu claramente nossas estimativas. No entanto, os melhores resultados operacionais tiveram uma pequena participação e uma parte maior foi por outras fontes” – Gustavo Gattass e Stefan Weskott, do BTG Pactual

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.