Victoria Villarruel: quem é a vice conservadora do governo Milei

De família de militares, Victoria defende indenizações a “vítimas do terrorismo” de grupos que se opuseram à ditadura

O presidente eleito Javier Milei e a vice-presidente eleita Victoria Villaruel posam no Congresso Nacional durante o anúncio oficial da contagem final dos votos em 29 de novembro de 2023 em Buenos Aires, Argentina. A inauguração da Milei realizada no dia 10 de dezembro.
O presidente eleito Javier Milei e a vice-presidente eleita Victoria Villaruel posam no Congresso Nacional durante o anúncio oficial da contagem final dos votos em 29 de novembro de 2023 em Buenos Aires, Argentina. A inauguração da Milei será realizada no dia 10 de dezembro. (Foto: Thomas Cuesta/Getty Images)
Nome completo:Victoria Eugenia Villarruel
Data de nascimento:13 de abril de 1975
Local de nascimento:Buenos Aires, Argentina
Formação:Graduada em Direito pela Universidade de Buenos Aires
Atuação política:Deputada federal pela coalizão La Liberdad Avanza (2021 a 2023), presidente do Partido Democrata de la Provincia de Buenos Aires (desde 2022) e vice-presidente da Argentina (desde dezembro de 2023)

Embora a economia seja a principal prioridade do governo de Javier Milei, uma pauta polêmica tem dividido os holofotes com as finanças do país: a abordagem sobre a ditadura militar argentina, que ganhou força no discurso da vice-presidente Victoria Villarruel.

Filha e neta de militares, a atual presidente do Partido Democrata de la Provincia de Buenos Aires alega parcialidade por parte de defensores dos direitos humanos em relação ao regime militar. Inclusive, defende auditoria nas atuais indenizações pagas pelo Estado a vítimas da ditadura.

“A área dos Direitos Humanos tem sido um verdadeiro buraco negro para a entrega de subsídios, bens do Estado e indenizações. Acredito que deve haver uma auditoria de como esses fundos foram entregues, porque foram entregues com a fome de quem vive nas ruas”, declarou em uma entrevista ao canal TN.

Quem é Victoria Villarruel?

Victoria Eugenia Villarruel é advogada e política, nascida em 13 de abril de 1975 na província de Buenos Aires, Argentina. 

Seu pai, o tenente-coronel do Exército Eduardo Villarruel, participou da Operação Independência no governo da então presidente da república María Estela Martínez Perón (Isabelita), lançada em 1975. Anos mais tarde, a ação resultou no pedido de prisão de Isabelita – já no exílio – por parte da justiça argentina, devido a acusações de assassinatos e torturas. O militar também é veterano da Guerra das Malvinas, da qual participou em 1982.

Victoria se formou em direito pela Universidade de Buenos Aires, e também possui formação técnica em segurança urbana e portuária pela Universidade Tecnológica Nacional. Em 2008, concluiu um curso em uma instituição da National Defense University, em Washington, sobre coordenação entre agências e contraterrorismo. 

Vida pública

Victoria começou a vida pública em 2006, ano em que foi fundado o Centro de Estudos Legais sobre o Terrorismo e suas Vítimas (Celtyv). O objetivo da organização era equiparar os crimes militares ocorridos durante a ditadura com as ações dos grupos armados contrários ao regime nos anos 1970.

Na época, o governo de Néstor Kirchner defendia que fossem reabertas as investigações contra os crimes cometidos durante a ditadura militar. A iniciativa tinha o apoio das Mães e Avós da Praça de Maio, entidades de direitos humanos reconhecidas internacionalmente pela mobilização diante do desaparecimento de filhos e netos no período.

Em 2011, no Forum da Liberdade de Oslo, a advogada questionou o que se conhecia como a “história oficial” da ditadura argentina. No evento, afirmou que os grupos guerrilheiros Montoneros e Ejercito Revolucionario del Pueblo (ERP) eram vinculados ao regime de Fidel Castro, em Cuba, e à Organização para a Libertação da Palestina. 

Os Montoneros eram ligados ao peronismo (movimento criado pelo ex-presidente da república Juan Domingo Perón). Já o ERP era uma organização influenciada pelo pensamento comunista de Trotski, líder ucraniano da Revolução Russa de 1917. Segundo ela, os dois grupos promoveram mais de 21 mil ataques na Argentina entre 1969 e 1980, e teriam sido “encobertos” pelos governos kirchneristas.

A atuação político-partidária veio somente em 2021, ao conhecer Milei e se aliar com ele na chapa La Liberdad Avanza. Em dezembro daquele ano, foi empossada como deputada federal, quando finalmente começou a ficar conhecida entre a população argentina.

Atuação como parlamentar e planos como vice-presidente

O trabalho de Villarruel no Legislativo foi marcado por declarações e ações polêmicas. Como deputada, promoveu o projeto de lei que pretendia estabelecer o “Dia Internacional das Vítimas do Terrorismo na Argentina”. Em reportagem de agosto de 2023, logo após Milei vencer as primárias para a presidência, a CNN relatou o trecho de uma entrevista na qual Victoria teria sido questionada sobre seu posicionamento quanto ao golpe de 1976.

“Naquela época, acho que a situação era realmente muito difícil. Havia muitos ataques todos os dias, e sem justificar essa situação. A realidade é que os atentados terroristas começaram a diminuir e a população passou a estar mais protegida”, publicou a emissora.

Em setembro de 2023, já candidata a vice de Milei, promoveu uma homenagem às “vítimas” do terrorismo (segundo a própria) de organizações guerrilheiras durante a ditadura militar. O evento ocorreu no Salão Dourado da Legislatura de Buenos Aires, e contou com protestos de sindicatos, partidos de oposição e grupos de direitos humanos.

“É hora de reivindicar aqueles que lutaram contra os grupos terroristas que tentaram instalar o comunismo na Argentina, e que hoje estão presos injustamente por uma justiça enviesada e manipulada pela esquerda”, disse no evento de setembro.

Durante a campanha eleitoral para a presidência, Villarruel propôs rever indenizações recebidas por vítimas da ditadura militar. Embora não tenha explicado como isso aconteceria, afirmou que a revisão de valores e beneficiários passaria pelo crivo dos ministérios da Justiça, da Defesa e da Segurança.

A postura gerou novos protestos por parte de organizações defensoras de direitos humanos. Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, a reparação para vítimas de atos guerrilheiros (também proposta por ela) pode ser um risco de retrocesso no processo democrático e nas políticas de direitos humanos, pois veem no discurso uma “defesa implícita” da ditadura.